A luz da sua rua que não desliga à noite está a matar insetos à fome

Uma equipa de cientistas descobriu que as árvores expostas à luz artificial durante a noite têm folhas mais duras e são menos propensas a serem comidas por insetos, prejudicando a biodiversidade urbana.

A poluição luminosa perturba os ritmos circadianos e os ecossistemas em todo o mundo, mas nas plantas, dependentes da luz para a fotossíntese, os efeitos podem ser ainda piores.

Recentemente, uma equipa de cientistas descobriu que a exposição a altos níveis de luz artificial durante a noite faz com que as folhas das árvores fiquem cada vez mais duras para os insetos comerem, ameaçando as cadeias alimentares urbanas.

“Percebemos que, em comparação com os ecossistemas naturais, as folhas das árvores na maioria dos ecossistemas urbanos mostram poucos sinais de danos causados por insetos. Estávamos curiosos para saber porquê”, explica Shuang Zhang, investigador da Academia Chinesa de Ciências, citado pelo EurekAlert.

“Mostramos que, em duas das espécies de árvores mais comuns em Pequim, a luz artificial à noite levou ao aumento da resistência e à diminuição dos níveis de herbivoria das folhas”, acrescentou.

Antes de avançar com este estudo, os investigadores suspeitavam que as plantas com altos níveis de luz artificial se concentrariam na defesa e não no crescimento, produzindo folhas mais duras com mais compostos de defesa química.

Para comprovar a teoria, escolheram duas espécies de árvores de rua, muito comuns no Japão, e identificaram 30 locais de amostragem espaçados por cerca de 100 metros. Depois, para determinar o nível de exposição à iluminação artificial, mediram a iluminância em cada lugar.

A equipa recolheu quase 5.500 folhas que foram posteriormente analisadas quanto à herbivoria e características que poderiam ser afetadas pela luz artificial, como tamanho, tenacidade, teor de água e níveis de nutrientes e defesas químicas.

Em ambas as espécies de árvores, os níveis mais altos de luz artificial estavam relacionados com folhas mais duras. Os cientistas concluíram que, quanto mais dura a folha, menos evidência de herbivoria havia..

“O mecanismo subjacente a esse padrão ainda não é totalmente compreendido”, disse Zhang.

“É possível que as árvores expostas à luz artificial durante noite possam estender a duração da fotossíntese. Além disso, estas folhas podem alocar uma proporção maior de recursos para compostos estruturais, como fibras, o que pode levar a um aumento na tenacidade das mesmas.”

“A diminuição da herbivoria pode levar a efeitos tróficos em cascata na ecologia”, alertou ainda o cientistas, explicando que baixos níveis de herbivoria implicam uma menor abundância de insetos herbívoros, o que pode resultar numa menor abundância de insetos predadores, pássaros, entre outros.

O artigo científico com os resultados foi publicado na Frontiers in Plant Science.

ZAP //

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