A “linha Brandt” foi desenhada nos anos 80 por um ex-chanceler da Alemanha Ocidental. O fosso económico mantém-se, mas já não é justo a China ficar abaixo, e há países na Europa que já mereciam “descer de nível”.
O Relatório Brandt fez mais do que desenhar num mapa a divisão Norte-Sul do mundo. Propôs também soluções para o desequilíbrio económico mundial: O Norte deveria garantir ajuda económica ao Sul, por forma a que este pudesse recuperar o atraso e reduzir essa diferença de riqueza, conta o Big Think.
Willy Brandt já não era Chanceler da Alemanha Ocidental quando traçou esta linha. Mas em 1980, uma comissão presidida por ele publicou um relatório sobre o desenvolvimento internacional que introduziu o Norte Global e o Sul Global como conceitos significativos no discurso público.
O mapa que acompanha o relatório não traça uma linha reta que separa o Norte e o Sul como se de hemisférios se tratassem, mas acompanha, sim a fronteira entre os países que eram na altura mais ou menos ricos.
Na América, por exemplo, no Norte ficam apenas os EUA e o Canadá: todo o resto do continente é “pobre”. Países que tiveram um boom económico mais tarde, como o Brasil ou México, eram nos anos 80 países pobres.
Já a Europa, fica totalmente a norte da linha, com exceção do Chipre e da Turquia. Todas os países que integravam a antiga URSS ficam no Norte, tal como o Japão. Mas a China, uma das maiores potências económicas da atualidade, juntamente com a Coreia do Norte e do Sul, está no Sul Global, tal como o resto da Ásia (incluindo os países do Médio Oriente, como os Emirados Árabes Unidos, grandes exportadores de petróleo, ou a Índia, cuja economia tem escalado) e toda a África.
Na Oceânia, ficam de fora do Sul (ainda que lá pertençam geograficamente falando) a Austrália e a Nova Zelândia.
Sim, o chanceler alemão está desatualizado. Mas como seria, hoje, o mapa correto? Um utilizador do Reddit decidiu desenhar um.
Baseou-se no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da ONU para 2023. O resultado foi bastante diferente do mapa de 1980.
Na verdade, os países com um IDH superior a 0,8 situam-se, por regra, no Norte Global e os países com um IDH inferior situam-se no Sul Global. Um IDH de 0,8 é considerado “muito elevado”.
No entanto, países europeus como a Bulgária situam-se um pouco abaixo e a Bielorrússia não passa do limiar. Já países como a Argentina ou o Chile estão acima.
No mapa publicado na rede social, o utilizador desenha uma linha que traduz as cores do mapa de IDH. @ zzz_ch focou-se mesmo em pormenores interessantes, como a inclusão de todos os países do Médio Oriente no “Norte”, à exceção do Iémen (país devastado economicamente pela guerra).
Grande parte dos Balcãs (Bósnia, Albânia, Macedónia do Norte, Bulgária), Moldávia e Ucrânia, bem como o Sul do Cáucaso (Arménia e Azerbaijão), moveram-se para “Sul”. África mantém-se o único continente que está totalmente preso a um campo: todos os países pertencem ao “Sul” económico.
Resta saber se, daqui a outros 40 anos, a situação se alterará, e se precisaremos de outra “linha Brant” para delinear quem é rico e quem é pobre.
Engraçado ver os países “pobres” a ter programas espaciais que custam fortunas e investirem em biliões em defesa e venderem centenas de biliões em recursos naturais e produtos…