Nesta véspera de Natal, a sonda Solar Parker, da agência espacial norte-americana NASA, “tocou” o Sol, voando mais perto da nossa estrela do que qualquer outra nave espacial até agora. Na sexta-feira, saberemos se sobreviveu à proeza.
A ousada nave espacial da NASA fez história: esteve esta manhã, às 11,53h, à mais pequena distância a que um objeto construído pela Humanidade já esteve da nossa estrela.
No seu ponto mais próximo do Sol, a apenas 6,1 milhões de quilómetros de distância, a Parker Solar Probe suportou temperaturas escaldantes de 1.700°C.
Neste ponto, a intrépida nave espacial esteve dentro da atmosfera superior do Sol, “literalmente a tocar a estrela“, disse à ABC News a diretora-adjunta de heliofísica da NASA, Nicki Rayl.
Esta foi a 22ª vez que a Parker fez uma passagem próxima do sol. Espera-se que a nave da NASA faça pelo menos mais duas passagens, mas esta é a mais próxima que alguma vez esteve e estará da estrela.
E, para sermos claros, dizemos “espera-se” porque durante o sobrevoo a NASA teve de perder o contacto com a nave espacial. A primeira prova de que a Parker sobreviveu chegará a 27 de dezembro, explica o Space.com.
Para evitar o destino trágico de Ícaro, a figura mitológica grega cujas asas coladas com cera derreteram quando se aproximou do Sol, a nave espacial está equipada com um escudo térmico que mantém os seus instrumentos sensíveis um pouco acima da temperatura ambiente, a cerca de 30°C.
Esta camada protetora de 4,5 centímetros de espessura foi construída após mais de uma década de investigação, explica a Smithsonian.
O sistema de arrefecimento a água, com camadas de espuma de carbono isolante e um revestimento de tinta cerâmica branca brilhante para refletir o pior do calor conferem à sonda a sua invulnerabilidade face ao brilho do sol.
Não é a primeira vez que a Parker bate recordes. A 21 de setembro de 2023, a sonda atingiu uma velocidade de 635.266 km/h, batendo de novo o seu recorde como o objeto mais rápido alguma vez construído pela Humanidade.
Durante a sua passagem na véspera de Natal, a nave espacial que se tornou perita em “tocar o Sol” terá viajado a 692.000km/h — cerca de 300 vezes mais rápido do que a velocidade máxima de um caça a jato Lockheed Martin aqui na Terra.
Esta incrível façanha de velocidade foi alcançada graças à ajuda de sete “impulsos” gravitacionais de passagens por Vénus, a última das quais ocorreu em novembro de 2024.
Mas bater recordes é apenas um subproduto da missão principal da Parker: aprender mais sobre o Sol. Em particular, a sonda precisava de enfrentar as temperaturas 980 graus Celsius que irá sentir para recolher dados sobre a coroa solar.
Os cientistas esperam que estes dados possam ajudar a resolver um mistério de longa data sobre a atmosfera exterior do Sol, que os tem perturbado durante décadas: o chamado “problema do aquecimento coronal“: apesar de estar mais afastada da principal fonte de energia do Sol (o seu núcleo), a coroa solar é muito mais quente do que a superfície do Sol, a fotosfera.
O nosso modelo padrão das estrelas sugere que quanto mais nos aproximamos do núcleo estelar, onde as estrelas de sequência principal como o Sol realizam a fusão nuclear para transformar o hidrogénio em hélio e libertar energia, mais quente fica.
Todas as camadas do Sol parecem obedecer rigorosamente a esta regra — com exceção da coroa, que pode atingir temperaturas superiores 1,1 milhões de graus Celsius; cerca de 1.600 km mais perto da fonte de calor do Sol, a fotosfera atinge uns relativamente agradáveis 4.100°C.
Isto é como descobrir neste Natal que as castanhas só assam quando as conduzimos um par de quilómetros de distância de uma fogueira! Assim, deverá haver um mecanismo extra a aquecer a coroa solar — que os cientistas estão naturalmente ansiosos por descobrir qual é.
Se tiver sobrevivido a esta aventura de Natal, a Parker irá continuar a sua missão, fazendo sobrevoos ao Sol a 22 de março de 2025. Depois, o seu último sobrevoo terá lugar a 19 de junho de 2025.