A Fórmula 1 tem os carros mais avançados, mas os pilotos temem as lesões a longo prazo propiciadas pelos novos regulamentos

EJ Mina | Wikimedia

Ferrari de 2022 no GP da Austrália

O porposing surpreendeu todas as equipas de Fórmula 1 nos testes de pré-temporada de Barcelona e volvidas cinco provas, muitas ainda lutam para diminuir o efeito. Queixas dos pilotos têm se tornado cada vez mais frequentes.

A temporada de 2022 da Fórmula 1 ficou marcada pela introdução de novos regulamentos que, na teoria, iriam permitir aos monolugares andarem mais próximos uns dos outros e concretizar as ultrapassagens – manobras que a libertação do ‘ar sujo’ dificultava na anterior geração de carros. No entanto, e assim que os novos carros foram para a pista nos testes e pré-temporada em Barcelona, as equipas depararam-se com um fenómeno inesperado: o porposing – em português, um bambolear na direção ascendente que prejudica não só o desempenho dos monolugares, mas também a saúde dos carros.

Apesar de o porposing afetar quase todas equipas da grelha, umas têm sofrido mais do que outras. A Mercedes, oito vezes campeã do mundo de construtores, encabeça a tabela, sendo frequente, nas transmissões televisivas, as imagens do interior do monolugar de Lewis Hamilton onde é possível ver o capacete do britânico a saltitar com especial intensidade nas retas.

Ao fim de cinco rondas do mundial, muitos pilotos já se queixaram deste fenómeno, decorrente das especificações impostas pela Fórmula 1, mas que as equipas podem ir trabalhando dentro de alguns limites. Após o Grande Prémio da Emilia Romagna (Ímola), George Russel (Mercedes) afirmou mesmo que o movimento no seu monolugar era tão intenso que lhe provocara dores de costas e peito. Em declarações à Sky News, o britânico mostrou esperanças de que a equipa resolvesse o problema com brevidade, já que a situação se estava a tornar incomportável.

Ainda nos testes de pré-temporada, Charles Lecrerc (Ferrari) expressou preocupações no mesmo sentido. “Parece a turbulência nos aviões, a ir para cima e para baixo ao longo de toda a reta. Acho que num dos vídeos que a Fórmula 1 transmitiu é possível ver o fenómeno com clareza. Não posso dizer que sabe bem. Faz com que te sintas um pouco enjoado“, descreveu.

À entrada do fim de semana do Grande Prémio de Espanha, um dos homens da casa, Carlos Sainz (Ferrari) deu continuidade aos avisos, da forma mais vocal possível. Em plena conferência de imprensa alertou para os riscos a longo prazo que os pilotos enfrentam caso não sejam feitas mudanças aos regulamentos – que neste momento tentam que os monolugares corram o mais próximo do solo possível.

“Os corretores em Miami com estes carros foram muito agressivos. Os ressaltos em Ímola também eram muito impactantes no corpo. Acho que precisamos de, enquanto pilotos e Fórmula 1, considerar o preço a longo prazo que os pilotos devem ter que pagar pelas suas costas e saúde na modalidade com esta filosofia de carros”, começou por apontar. O espanhol apelou ainda a um debate no sentido de perceber se os regulamentos são bons e favoráveis à competição.

“Para mim, trata-se mais de uma questão filosófica, talvez para que a Fórmula 1 todos repensem o quanto um piloto tem de pagar quando tem esta carreira, em termos de saúde. O piloto da scuderia italiana revelou que ainda não consultou um especialista para perceber o impacto que o novo carro já teve no seu corpo – sendo que o espanhol não chegou a completar cinco voltas nos grandes prémios da Austrália e da Emília Romgna, estando, por isso, em vantagem face aos seus adversários que conduziram todas as voltas previstas. Mas diz que as diferenças são notórias, sobretudo nas costas e no pescoço.

O espanhol afirmou ainda que este é um assunto ainda “recente” na sua cabeça, não tendo tido qualquer conversa formal com uma instância formal da modalidade. O seu plano é falar com outros pilotos, nomeadamente os representantes, para saber que solução pode ser proposta à própria Fórmula 1 ou à Federação Internacional do Automóvel (FIA).

Sainz pensa no longo prazo, sendo claro para o espanhol que dez anos nestas condições serão difíceis de aguentar. “Terei que trabalhar muito na minha mobilidade, flexibilidade e ter que investir na saúde geral do meu corpo. É uma questão que acho que como pilotos não gostamos de falar por parecermos fracos. Mas eu sou forte, estou em forma, acho que sou um dos pilotos com melhor forma e nunca tive este tipo de dificuldade na Fórmula 1.”

O piloto considera que este é um problema que remete para o futuro a longo prazo e que deve interessar a todos os pilotos – apesar de estar ciente da vontade das equipas em salvaguardar a possibilidade de os monolugares se conseguirem ultrapassar e de o espetáculo estar garantido para os fãs.

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