O escudo de defesa eletrónica russo "é um desastre cheio de buracos"

Segundo revelam dados roubados por um grupo de hackers russos pro-ucranianos, o escudo das forças armadas da Rússia contra a guerra eletrónica “não só é frágil, como está cheio de buracos” devido a múltiplas falhas e vulnerabilidades.

O Corpo de Voluntários Russos (RDK), unidade paramilitar pró-ucraniana composta por cidadãos da Rússia, afirma ter obtido dezenas de gigabytes de dados classificados sobre os sistemas estratégicos de guerra eletrónica do Kremlin.

A informação obtida, diz o RDK, deixa a descoberto vulnerabilidades críticas no que até agora se considerava como um robusto escudo de guerra eletrónica.

Segundo revela numa publicação no X/Twitter o especialista na guerra da Ucrânia e cibersegurança Chris Owen, há duas semanas o RDK conseguiu obter documentação técnica completa dos sistemas de defesa de guerra eletrónica russos, incluindo instruções de instalação, plantas, relatórios de testes, dados operacionais e correspondência relacionada com o sistema.

A guerra eletrónica, uma das formas mais inovadoras de combate que os conflitos modernos trouxeram, baseia-se em explorar o espectro eletromagnético — sinais de rádio, radar ou infravermelhos— para interromper, enganar ou negar a capacidade do adversário de utilizar estes sinais em seu próprio benefício, explica o El Confidencial.

Este tipo de conflito abrange três áreas principais: o ataque eletrónico, que usa interferências ou enganos para perturbar os sistemas inimigos, como os drones; a proteção eletrónica, que defende os sistemas amigos das interferências inimigas, e o apoio eletrónico, que deteta e analisa sinais eletromagnéticos para recolher informação e melhora o conhecimento da situação.

Um escudo muito vulnerável

Os exércitos modernos dependem cada vez mais das comunicações eletrónicas e dos sensores, e a guerra eletrónica tornou-se num elemento crítico das operações ofensivas e defensivas que é capaz de determinar o resultado de um conflito.

Segundo escreve Owen, o RDK sustenta que o escudo de guerra eletrónica da Rússia “não só é frágil, como está cheio de buracos” devido a múltiplas falhas e vulnerabilidades.

O grupo pró-ucraniano encontrou também documentos que revelam informação muito detalhada sobre a lógica operativa e a estrutura dos sistemas de armas, o que lhes permitiu rastrear desde as cadeias de produção até ao nome dos contratantes e dos projetistas dos sistemas russos.

“Não temos só a face exterior”, sustenta um comandante do RDK na thread de Owen. “Vemos a lógica interna, a arquitetura, as ligações entre os nós, sabemos quem o projetou, que empresas forneceram as unidades e que institutos de investigação são responsáveis pelos desenvolvimentos”.

Os documentos também revelam, entre outras coisas, que o dispositivo de interferência dos sistemas de comunicação dos navios, desenvolvido para o ambiente marinho do Ártico, não suporta o vento, o frio nem o congelamento.

Também o sistema em terra não funciona muito bem. “É muito sensível às intempéries e às vibrações, o que requer uma configuração complexa e um fornecimento de energia estável. O sistema não resiste bem às situações de combate“, escreve Owen.

O jornal finlandês Verkkouutiset assegura que os documentos pirateados pelo RDK revelam também que a Rússia está a utilizar satélites chineses para calibrar os seus sistemas de defesa — aparentemente, sem o conhecimento da China.

Segundo o comandante do RDK, os atuais sistemas de guerra eletrónica da Rússia estão a funcionar no limite da sua resistência — sendo provável que a fuga de informação represente um revés significativo para as forças russas, já que permite aos parceiros ocidentais da Ucrânia desenvolver contramedidas, diz Owen.

ZAP //