A cruzada de Akihiko Kondo pelos direitos dos fictossexuais

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Akihiko Kondo / Twitter

Akihiko Kondo com a nova, Hatsune Miku

Akihiko Kondo, um japonês de 40 anos, tornou-se uma figura emblemática na luta pelo reconhecimento da fictossexualidade, uma condição caracterizada pela atração romântica por personagens fictícios.

Residente em Tóquio e funcionário público, Akihiko Kondo casou-se em 2018 com Hatsune Miku, uma cantora virtual criada pela Crypton Future Media em 2007.

Este relacionamento singular lançou-o numa cruzada contra o preconceito e em busca de direitos iguais para os fictossexuais — indivíduos que sentem uma atração romântica por personagens fictícias.

O amor de Akihiko por Hatsune, reporta a Deutsche Welle, nasceu depois de o funcionário público ter visto a cantora ficcional num programa televisivo japonês.

Também conhecida como CV01, Hatsune Miku tornou-se famosa no Japão como ídolo e cantora, atuando frequentemente em concertos virtuais ao vivo. A vocaloid da Crypton Future Media é personificada numa mascote antropomórfica com 16 anos, longos cabelos de cor turquesa e enormes olhos azuis — que cativaram Akihiko.

“Hatsune foi o suporte emocional que me faltava durante os momentos adversos, especialmente perante a troça e o julgamento dos meus colegas de trabalho. No momento mais difícil da minha vida, Hatsune apoiou-me. Ela salvou-me“, explica Kondo.

Porém, como é comum em casos que desafiam as normas sociais estabelecidas, a relação de Akihiko com Hatsune não está a ser bem vista por todos. Alguns dos seus familiares, como a mãe, a irmã e o cunhado, reprovam a união — e nem sequer foram ao casamento.

Depois de ter tornado público o seu relacionamento com Hatsune, Akihiko começou a sofrer pressões e ameaças no trabalho — e a ter que lidar com a troça dos colegas.

“O meu estilo de vida está decidido, e não tenho dúvidas. Estar com Hatsune fortaleceu-me, estou seguro do meu modo de vida“, garante Akihiko. “Amo Hatsune Miku. Estou muito feliz”, acrescenta o japonês, num post no Twitter.

Crypton Future Media

Hatsune Miku, também conhecida como CV01

A relação não convencional de Akihiko reflete uma tendência crescente no Japão: segundo pesquisas recentes, uma percentagem significativa dos jovens japoneses, especialmente entre 16 e 29 anos, já se sentiu atraída por personagens fictícias, com destaque para animes e jogos.

Segundo Izumi Tsuji, professor de sociologia cultural da Universidade de Chuo, o  fenómeno dos fictossexuais emergiu nos anos 80 e 90, paralelamente à chamada cultura otaku (equivalente aos termos geek ou nerd), numa altura em que os jovens procuravam escapar às pressões da realidade através da ficção.

Em 2023, Akihiko fundou a Associação Japonesa dos Fictossexuais, uma plataforma de apoio e sensibilização que tem o objetivo de “educar e informar a sociedade sobre a fictossexualidade”.

Akihiko espera que, no futuro, a fictossexualidade seja aceite sem reticências, e que a sociedade compreenda que o amor não tem limites, mesmo que ultrapasse as fronteiras do real e do tangível.

“Espero que, no futuro, os fictossexuais não sejam assediados ou perseguidos, que os locais que alugam espaço para casamentos os aceitem — e que possam fazer a festa com que sonharam”, desabafa o marido de Hatsune Miku.

ZAP //

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