Produção em números recorde é atribuída às excecionais condições climatéricas na zona oeste do país. No entanto, perante a descida sucessiva de rendimentos, muitos agricultores estão a considerar abandonar a cultura.
O abacate é uma das frutas mais apreciadas pelos australianos. O país situa-se como um dos principais produtores deste fruto exótico, mas o aumento recente da produção — resultante da crescente plantação de árvores pelos agricultores que pretendiam satisfazer a procura — levou a uma consequência que para aos economistas era fácil de prever: a queda acentuada dos preços.
No mercado, um abacate custa atualmente 0.73 cêntimos, quando, no ano passado, custava 2.20 dólares australianos. No início de 2018, cada peça poderia ser adquirida por 6.6 dólares.
Simultaneamente, outro fenómeno que se está a verificar é o do aumento do consumo, o qual se situa atualmente nos 4kg anuais por indivíduo, mas que se espera que suba para 5kg já em 2022, segundo o grupo Avocados Australia. De acordo com o Independent, o país — que é também um continente — produziu mais 65% de abacates face ao último ano, sendo esperado que em 2026 produza algo como 167,315 toneladas.
“Isto é apenas o início. Está definitivamente na cabeça de algumas pessoas se este ritmo é viável ou não. Um ano como este talvez seja, mas continuar assim, em termos de preços, é insustentável“, afirmou John Tyas, diretor do Avocados Australia, à Bloomberg.
O cenário atual é também de mais abacates a apodrecer nas quintas, acabados de apanhar, do que aqueles que existem nas prateleiras dos supermercados, dado o confinamento restrito a que a Austrália esteve sujeita por consequência da pandemia da covid-19. Os bons resultados deste ano são atribuídos às boas condições climatéricas registadas na região oeste do país, a qual se prevê que resulte em produções recorde este ano.
Deixar os frutos morrer nas árvores é uma opção que muitos agricultores angustiados estão mesmo a considerar, dadas as circunstâncias económicas pouco viáveis. Mais: vários agricultores também manifestaram vontade de abandonar a indústria devido à perda de rendimentos que têm vindo a sofrer há anos.
“Um dólar a menos num abacate que está à venda no supermercado significa que todos os agricultores estão a perder dinheiro — sejam eles de grandes corporações ou de negócios familiares”, revelou Tony Pratt, agricultor da Australia’s Sunshine Coast à ABC. “Vamos continua a dar vazão às encomendas que recebemos, mas não podemos continuar a enviar fruta para os supermercados e não receber o que quer que seja por ela”, acrescentou.
No que respeita às exportações, os abacates australianos viajamm com frequência para o mercado asiático (Singapura, Malásia ou Hong Kong), mas em números relativamente baixos. Em 2020-21, apenas 4% da cultura exportada seguiu por esta via — cada vez mais considerada por alguns agricultores que a consideram mais “atrativa” do que o mercado interno. Contrariamente, apesar de ser um dos principais produtores, a Austrália também importou cerca de 24,310 toneladas de abacates frescos e secos ao longo do último ano.
A esperança dos produtores, agora que a Austrália se prepara para dizer adeus aos confinamentos (face à crescente taxa de vacinação) é que os níveis de procura também aumentem, nomeadamente no período festivo do final do ano. A mensagem que os agricultores para os consumidores é que não deixem de comprar a fruta, por muito que os preços lhes pareçam demasiado baixos.
Ao longo dos últimos anos, a ciência tem estabelecido relações entre o consumo de abacate e os benefícios ao nível da saúde, seja no combate à leucemia, à melhoria dos problemas intestinais ou até na prevenção de AVC’s.
A crescente procura pelo fruto, registada a nível global, já lhe valeu a alcunha de “ouro verde” com alguns cartéis de droga mexicanos a quererem entrar neste negócio face aos lucros que têm vindo a ser registados por alguns produtores mundiais.
167,315 Toneladas ou 167.315 toneladas? Entre a vírgula e o ponto há uma grande diferença.