Perante uma grande quebra de popularidade nos últimos meses causada em parte pelos bloqueios à sua agenda no Congresso, Biden e os Democratas esperam que esta aprovação dê um novo fôlego às taxas de aprovação do Presidente.
Depois de meses de negociações sofridas e um impasse no Congresso, Joe Biden conseguiu finalmente garantir a aprovação da lei das infraestruturas que representa um investimento de 1.2 biliões de dólares em estradas, pontes ou portos.
“A minha mensagem para o povo americano é esta: a América está a mexer-se outra vez e as vossas vidas vão melhorar“, declarou o chefe de Estado depois da assinatura da lei.
A verdade é que o caminho para a aprovação deste pacote de medidas — que era uma das promessas eleitorais de Biden — foi recheado de percalços e dores de cabeça.
O valor inicial proposto por Joe Biden, que a ala progressista já considerava insuficiente para responder devido ao estado de degradação das infraestruturas dos Estados Unidos que receberam uma nota de C- da Sociedade Americana de Engenheiros Civis, era de 2.6 biliões de dólares.
Biden queria também juntar a aprovação do pacote ao seu plano de investimentos sociais Build Back Better, mas a oposição não deixou. O valor da lei acabou por cair para 1.2 biliões, para descontentamento dos progressistas. As cedências foram necessárias para satisfazer os Republicanos e conseguir garantir a aprovação no Senado, que tem 50 Senadores para cada lado.
Depois de conseguir uma aprovação bipartidária histórica em Agosto no Senado, tendo 19 Republicanos votado a favor mesmo com as tentativas de sabotagem de Donald Trump no bastidores, o caminho na Câmara dos Representantes foi mais complicado.
O caucus progressista de 96 membros na Câmara dos Representantes fez um ultimato, mantendo a lei das infraestruturas refém da aprovação no Senado do pacote social Build Back Better. No entanto, os Senadores Democratas Kyrsten Sinema e Joe Manchin recusam-se a votar a favor do plano social.
As negociações para a aprovação do Build Back Better continuam num impasse, mas por agora Biden conseguiu garantir a aprovação da lei das infraestruturas na Câmara dos Representantes de forma peculiar: perante a resistência dos progressistas do seu partido, foram 13 Republicanos que votaram a favor e acabaram com o bloqueio.
A grande maioria dos representantes do caucus progressista, incluindo a líder Pramila Jayapal, também acabou por ceder, mas seis continuaram a votar contra, sendo eles os membros da “The Squad” — Ilhan Omar, Alexandra Ocasio-Cortez, Ayanna Pressley, Rashida Tlaib, Cori Bush e Jamaal Bowman.
“Passar a lei das infraestruturas sem passar sem o Build Back Better é um risco enorme. As pessoas vão apontar para os os investimentos pró-clima na lei das infraestruturas, mas as cedências ao petróleo e gás eliminam o seu progresso ou arriscam emissões piores. Passar o Build Back Better desbloqueia as vantagens climáticas da lei das infraestruturas”, justificou Ocasio-Cortez no Twitter.
Já o líder da minoria Republicana do Senado e ex-aliado próximo de Donald Trump que também votou a favor da lei, Mitch McConnell, congratulou o fim do impasse, dizendo que os EUA “precisam desesperadamente” de uma renovação nas infraestruturas.
A aprovação proposta bipartidária custou muitas cedências a Biden, que teve de pesar na balança os benefícios de acabar com o impasse e avançar com pelo menos parte da sua agenda política, ou do compromisso com as mudanças estruturais que prometeu na campanha eleitoral.
Caiem também nesta aprovação muitas das esperanças dos Democratas para as eleições intercalares, depois do impasse ter sido uma das causas da queda da popularidade do Presidente norte-americano, que geralmente se nota nas intercalares.
O partido espera agora usar esta aprovação como prova do sucesso do diálogo bipartidário e do poder conciliador de Biden no avanço do fornecimento de internet, da qualidade da água e da resposta à crise climática.
“Meus caros, muitas vezes em Washington a razão pela qual não fazemos nada é porque insistimos em conseguir tudo o que queremos. Tudo. Com esta lei, o nosso foco estava em conseguir fazer coisas. Concorri à Presidência porque a única forma de avançar no nosso país a meu ver é através dos compromissos e do consenso“, argumentou Biden.
O Presidente vai agora abandonar Washington para festejar esta vitória com os eleitores e tentar subir as suas taxas de aprovação. Os estados do New Hampshire e Michigan vão receber Biden nos próximos dias.
“Vemos isto como uma oportunidade porque sabemos que a agenda do Presidente é bastante popular“, explicou a porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki, que espera que o contacto directo com os eleitores ajude a explicar como a lei “os vai ajudar”.
Apesar de considerarem a lei um avanço, muitos especialistas lembram que a legislação está longe de ser suficiente para enfrentar os desafios que as infraestruturas dos EUA enfrentam, especialmente no contexto de uma emergência climática.