Nos últimos anos, o bioma amazónico libertou mais carbono do que absorveu e uma maior degradação poderá fazer com que esta mudança seja permanente.
A desflorestação empurrou a Amazónia para o limite de um ponto de viragem que a tornaria uma fonte líquida de CO2 e aceleraria as alterações climáticas, de acordo com uma investigação que utiliza novas tecnologias para mapear as emissões de carbono na floresta tropical de 2013 a 2022.
Embora seja historicamente um sumidouro de carbono, o bioma amazónico libertou mais carbono do que absorveu durante 2015/2016 e 2017/2018, segundo o relatório da Planet Labs, uma empresa que fornece imagens de satélite, e da organização sem fins lucrativos Amazon Conservation.
“A Amazónia está a oscilar entre o sumidouro e a fonte. Mas, a dada altura, com a continuação da degradação, poderá passar a ser uma fonte permanente de carbono”, afirma Matt Finer, da Amazon Conservation, que liderou a investigação.
Os 6,7 milhões de quilómetros quadrados de árvores, plantas e solo da Amazónia absorvem carbono à medida que a floresta tropical cresce, arrefecendo o Planeta, mas os investigadores estão preocupados com o facto de a desflorestação estar reduzir a capacidade da floresta tropical para regular o clima global.
Segundo o New Scientist, o sudeste da Amazónia, onde se registou a maior desflorestação, já se tornou um emissor líquido constante de carbono, à medida que o seu ecossistema se foi transformando.
Finer e os seus colegas utilizaram a aprendizagem automática, imagens de satélite, lasers aéreos e dados globais de biomassa da NASA para mapear as alterações em todo o dossel da floresta tropical com uma resolução de 30 metros, um nível de pormenor sem precedentes.
De seguida, utilizaram os dados de biomassa para comparar o carbono perdida com os incêndios e a limpeza da floresta com o carbono armazenado com o crescimento da floresta.
Um relatório anterior da Amazon Conservation concluiu que a Amazónia absorveu 64,7 milhões de toneladas de carbono entre 2013 e 2022 — um ganho de apenas 0,1% dos 56,8 mil milhões de toneladas de carbono armazenadas na floresta tropical.
O Brasil, a Colômbia, o Suriname, a Guiana Francesa absorveram a maior quantidade de carbono, enquanto a Bolívia, a Venezuela, o Peru e o Equador libertaram a maior quantidade.
A nova repartição desses dados em períodos de dois anos mostra como a floresta passou de sumidouro de carbono a fonte durante períodos que coincidiram com épocas severas de seca em 2015 e 2016 e incêndios em 2016 e 2017.
O armazenamento de carbono acima do solo recuperou de 2019 a 2022. O estudo não inclui dados mais recentes, mas os incêndios e as secas em 2023 e 2024 sugerem que a Amazónia voltou a ser uma fonte de carbono.
“Na década de 1990, a floresta amazónica removia perto de 1,5 mil milhões de toneladas de dióxido de carbono por ano, mas como este estudo mostra, quando se somam as emissões da desflorestação, degradação e incêndios, a capacidade da floresta para remover carbono é agora muito pequena“, diz Carlos Nobre da Universidade de São Paulo, Brasil.
“As árvores que não foram desmatadas para fins agrícolas ou de apropriação de terras. Estão degradadas pelos danos causados ao seu ambiente, o que significa que absorvem menos carbono e são mais suscetíveis a incêndios, que aceleram ainda mais as alterações climáticas”, acrescenta.
As conclusões vêm juntar-se às evidências de estudos com metodologias diferentes que também concluíram que a capacidade da floresta tropical para compensar a poluição da humanidade está a diminuir.
Um estudo utilizando dados de satélite publicado em 2021 concluiu que a Amazónia brasileira libertou mais carbono para a atmosfera na década anterior do que absorveu e uma análise das leituras de dióxido de carbono na atmosfera de 2010 a 2018 concluiu que os incêndios estavam a libertar muito mais carbono do que o absorvido através do crescimento da floresta.
Embora a diminuição da capacidade da Amazónia para absorver carbono seja preocupante, é importante notar que a área estudada no relatório é todo o bioma amazónico, que inclui Manaus, uma cidade de 2 milhões de pessoas, diz Erika Berenguer da Universidade de Oxford.
As pessoas normalmente assumem que quando se fala da “Amazónia” se está a falar apenas da floresta, mas estes estudos analisam frequentemente todo o bioma. Se isolarmos apenas a floresta, ela é um sumidouro, que está a absorver menos carbono, mas continua a ser um sumidouro“, afirma.