A actividade humana está a deixar uma marca invasiva e persistente na Terra. E este impacto do Homem – que os cientistas dizem que marca a entrada do planeta no Antropoceno – será visível em sedimentos e rochas daqui a milhões de anos.
O termo Antropoceno, da palavra grega anthropos para “homem”, foi cunhado na década de 1980 pelo ecólogista americano Eugene Stoermer para ilustrar o impacto das populações humanas no ambiente.
Agora, porém, parece já merecer ser oficialmente incorporado no vocabulário dos geólogos, e a proposta é apresentada num estudo publicado esta quinta-feira na revista Science.
Liderado pelo geólogo Colin Waters, investigador do Serviço Geológico Britânico, o estudo demonstra que o Antropoceno começou a mostrar a maior parte dos seus sinais distintivos a partir de 1950, e encerra a época do Holoceno, que começou há 11.700 anos.
“Os depósitos antropogénicos recentes apresentam novos tipos de rochas e minerais, reflectindo uma rápida disseminação global de alumínio puro, cimento e plástico“, afirma o estudo.
“A queima de combustíveis fósseis disseminou também fuligem, esferas de cinza inorgânica e partículas carbonáceas esféricas por todo o mundo.”
Materiais ‘tecnofósseis’
Waters e os seus colaboradores chamaram “tecnofósseis” a estes materiais propensos a sobreviver no futuro.
Segundo os investigadores das 21 instituições científicas que assinam o estudo, o Antropoceno já tem uma “estratigrafia” – a identificação de épocas geológicas pela deposição de camadas no solo – distinta da Holoceno, o período mais recente da Era Quaternária.
Além das mudanças nas camadas geológicas, num futuro distante os paleontólogos serão capazes de identificar um evento de extinção em massa de espécies, ocorrido na nossa época, porque o planeta está no vias de perder 75% das espécies nos próximos séculos.
Aquecimento global
O Antropoceno também é distinto do ponto de vista das alterações climáticas globais, causadas pelo aumento da concentração de gases do efeito estufa, dizem os investigadores.
“As concentrações atmosféricas de CO2 e metano começam a distanciar-se do Holoceno a partir de 1850, e a diferença acentua-se a partir de 1950”, conclui o estudo.
As mudanças são visíveis na análise das camadas sedimentares depositados mais recentemente e no gelo que se tem formado nas regiões polares.
Algumas das mudanças detectadas são mais subtis, mas também distintivas.
Duas destas mudanças são a subida das temperaturas, que chega a uma média global de 0,9°C acima do natural, e o aumento no nível do mar, numa média de 3,2 mm por ano após a década de 1990. Os números podem parecer pequenos, mas não há registro de que tenham sido assim nos últimos 14 mil anos.
E se o aquecimento global continuar desenfreado, dizem os investigadores, a acção do Homem sobre o planeta acabará por virar a página não apenas à época geológica do Holoceno, mas também ao próprio período geológico do Quaternário – iniciado há 2,6 milhões de anos atrás.
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