No Brasil, um fenómeno curioso parece afetar as vendas dos brinquedos da saga Star Wars: os bonecos do herói Finn parecem ter ficado encalhados nas prateleiras.
Quem deu nota foi o site Melhores do Mundo, que publicou um vídeo poucos dias depois do Natal a mostrar lojas de várias cidades brasileiras em que praticamente todos os brinquedos relacionados à saga Star Wars estavam esgotados – exceto os de Finn, o personagem de John Boyega.
Desde que foi anunciado que haveria um herói negro na saga Star Wars, muitos comemoraram a novidade pelo facto de que representar uma grande conquista na discussão sobre a representatividade. Depois de anos a ver heróis brancos a salvar o mundo, crianças e adultos teriam um personagem negro a ocupar um lugar de destaque.
O efeito é poderoso: no Brasil, no início da semana, tornou-se viral a foto de um miúdo feliz porque tinha finalmente um boneco em que se reconhecia.
“Ele nem sabe o que é Star Wars, sabe que o boneco é igual a ele #representatividade”, escreveu Jaciana Melquiades, a mãe do pequeno Matias, de 4 anos, na legenda da foto.
Jaciana explica que, encontrar o boneco na prateleira de uma loja, o filho “começou a saltar, agarrou a caixa e não quis deixar na loja… queria o boneco de qualquer maneira”.
É neste contexto de entusiasmo que o site Melhores do Mundo abriu o debate sobre os bonecos de Finn que, a avaliar pelo vídeo com referências de vários pontos do país, parecem ter literalmente sobrado nas lojas brasileira.
Lucas Ed, psicólogo e um dos membros do site, lamenta que nem mesmo o destaque dado ao personagem tenha sido capaz de atrair a atenção das pessoas aos produtos relacionados, e lança a hipótese de que isso acontece porque as pessoas “não se identificam com esse personagem“.
O psicólogo – que é mulato – conta que quando era pequeno conseguia identificar-se com o personagem de Luke Skywalker mesmo sendo loiro e ele uma criança negra, e isso nunca foi um problema na altura de brincar.
No entanto, o inverso quase não acontece: “tem um problema aí que é das pessoas brancas terem dificuldade de se identificar com aquilo que não é exatamente igual a si – que é um movimento que não existe com os consumidores negros porque eles não têm essa opção”, explica Ed.
Para o psicólogo, é uma visão que pode indicar um caso de normatização onde o normal é branco – e o negro é anormal.
A solução passa, por exemplo, em apostar em mais personagens negras que não se definem pela sua cor (ou género): “A gente precisa conseguir enxergar nesses personagens – negros e mulheres – que ali está o herói da história e que ele é interessante porque é o herói“, conclui Lucas Ed.
É estranho porque no meu tempo de criança, os bonecos do Lando Calrissian nunca ficavam nas prateleiras… E ele nem era o personagem principal.
Ou as novas gerações andam armadas em parvas ou então as novas gerações andam armadas em parvas.
Ai Brasil, Brasil….