Primeiro-ministro turco ameaça “partir as mãos” a quem tentar minar o seu poder

Πρωθυπουργός της Ελλάδας / Wikimedia

O primeiro-ministro da Turquia, Recep Tayyip Erdogan

O primeiro-ministro da Turquia, Recep Tayyip Erdogan

O primeiro-ministro da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, ameaçou “partir as mãos” aos seus adversários políticos caso utilizem o escândalo de corrupção em curso para minar o seu poder.

“Vamos colocar cada um no seu lugar”, disse o dirigente islamita-conservador perante uma vibrante multidão de apoiantes do seu Partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP) na província de Giresun, nas margens do Mar Negro.

“Vamos partir as mãos a quem ousar fazer-nos mal, semear distúrbios ou preparar-nos armadilhas neste país”, asseverou Erdogan.

No sábado, os dois filhos dos ministros do Interior e da Economia da Turquia foram acusados e colocados em prisão preventiva por juízes de Istambul, no âmbito de um escândalo de corrupção.

Suleyman Aslan, diretor-geral de um grande banco público, o Halkbank, está também entre as personalidades que foram acusadas de corrupção ativa, fraude, tráfico de ouro e desfalque.

Esta é a primeira vez que um escândalo desta dimensão atinge os mais próximos do primeiro-ministro turco, que governa a Turquia desde 2002 à frente de um Governo islâmico-conservador.

Os juízes responsáveis pelo caso decidiram também acusar e deter o empresário iraniano-azeri Reza Zerrab por suspeita de estar no centro do tráfico ilegal de ouro para o Irão, alvo de sanções económicas internacionais.

Por seu lado, o filho do ministro do Ambiente, também ouvido pela polícia, no âmbito da operação que envolveu cerca de 80 pessoas, foi libertado na madrugada de sábado depois de ter sido interrogado durante várias horas pelos procuradores e pelos juízes.

Até ao momento já foram indicadas 24 pessoas, e em resposta Erdogan, seriamente abalado por esta tempestade político-financeira que ocorre a apenas quatro meses das eleições municipais, desencadeou uma purga dos chefes da polícia, acusados de não terem informado a sua tutela política do inquérito que a visava.

Diversos ‘media’ turcos noticiaram hoje que 25 altos responsáveis da polícia foram afastados, após uma primeira vaga de perto de 50 despedimentos.

Erdogan declarou que combatia “um Estado dentro do Estado” e descreveu o inquérito sobre corrupção como uma “suja operação” destinada a denegrir o seu partido, no poder desde 2002.

Os críticos do primeiro-ministro acusam-no de tentar desesperadamente proteger os seus aliados, e a nomeação de Selami Altinok, um governador pouco conhecido e que não fez a sua carreira na polícia, para a chefia da polícia de Istambul foi entendida como uma tentativa de travar o inquérito judicial em curso e desencadeado na terça-feira.

“Está em curso uma suja operação (…) não aceitaremos estas manipulações políticas”, declarou quarta-feira Erdogan perante os ‘media’, ao lançar o contra-ataque num caso que agita todo o país e onde transparece uma luta aberta pelo poder.

Pouco antes, o porta-voz do seu Governo e vice-primeiro-ministro, Bulent Arinç, tinha já criticado uma “campanha planificada de difamação (…) elaborada no âmbito do que parece ser uma guerra psicológica”.

Erdogan e Arinç não apontaram os responsáveis da operação policial e judicial, mas observadores turcos têm identificado a poderosa confraria muçulmana do intelectual Fetullah Gulen, exilado nos Estados Unidos desde 1999.

Para este caso, foram designados dois novos procuradores para apoiar os dois magistrados responsáveis pela condução do inquérito, “atendendo à importância da investigação”.

Estas decisões sublinham o incómodo que este caso está a suscitar nas mais altas esferas do Estado turco, ao porem em causa numerosas personalidades consideradas próximas do Governo e do seu líder, para além das alegações de crescentes divergências entre Erdogan e o Presidente Abdullah Gul, ambos membros do Partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP, no poder desde 2002).

Numerosos observadores consideram este caso como uma nova etapa do conflito que opõe Erdogan à organização de Fetullah Gulen, designada “hizmet” (o serviço).

Apoiante incondicional do Governo do AKP, e considerada muito influente na polícia e na justiça turcas, a confraria de Gulen entrou em rota de colisão com o executivo após a sua recente decisão de encerrar as instituições de apoio escolar privado, uma importante fonte de receitas do “hizmet”.

A oposição, que segundo as sondagens vai ser derrotada por larga margem nas municipais de 2014, aproveitou a actual “onda de choque” para exigir a demissão de Erdogan.

/Lusa

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