O Universo está a morrer lentamente, porque a energia produzida pelas galáxias é menor, em todos os comprimentos de onda de radiação, especifica um estudo divulgado pelo Observatório Europeu do Sul, OES.
Uma equipa internacional de astrónomos analisou perto de 200 mil galáxias e mediu a energia gerada numa enorme zona do Universo próximo da Via Láctea, onde se localiza a Terra.
Em comunicado, o OES, organização da qual Portugal faz parte, refere que o grupo confirmou que a energia gerada nesta zona, no Universo de hoje, é “cerca de metade da produzida há dois mil milhões de anos” e descobriu que “este desvanecimento ocorre em todos os comprimentos de onda” da radiação de luz, “desde o ultravioleta ao infravermelho longínquo”, ambos invisíveis aos olhos.
O trabalho foi feito no âmbito do projeto Galaxy And Mass Assembly (GAMA), “o maior rastreio alguma vez realizado em múltiplos comprimentos de onda”.
“Usámos tantos telescópios terrestres e espaciais quantos os que nos foi possível usar, para medir a produção de energia de cerca de 200.000 galáxias ao longo do maior intervalo de comprimentos de onda possível”, afirmou Simon Driver, do Centro Internacional para a Investigação em Radioastronomia, na Austrália, que lidera a equipa do GAMA.
O Observatório Europeu do Sul assinala que o “declínio lento” do Universo “é conhecido desde o final da década de 1990”, mas ressalva que a investigação, agora divulgada, “mostra que este processo está a acontecer em todos os comprimentos de onda, desde o ultravioleta ao infravermelho, representando assim a estimativa mais completa de produção de energia no Universo próximo”.
Em 2004, um estudo determinou que o Universo podia ainda durar mais 30 mil milhões de anos do que se pensava, com base nas imagens de 42 supernovas (explosões de estrelas) captadas pelo telescópio espacial Hubble.
Há cerca de três anos, uma outra equipa internacional de astrónomos, liderada pelo português David Sobral, do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço, concluiu que estão a formar-se 30 vezes menos estrelas do que há 11 mil milhões de anos.
O Universo tem quase 14 mil milhões de anos. Grande parte da sua energia – a das galáxias, das estrelas, dos buracos negros e a chamada energia escura, que continua a ser um mistério para os físicos, mas que representa mais de 70 por cento da composição do Universo – foi criada na sequência do Big Bang, uma espécie de explosão de partículas.
“Estamos numa época em que se formam poucas estrelas, e vão formar-se cada vez menos à medida que os anos passam. Mesmo que esperássemos um tempo infinito, o Universo nunca vai formar mais do que cinco por cento das estrelas que existem hoje”, explicou David Sobral à Lusa, acrescentando que a maioria das estrelas que existem, e vão existir, foi gerada no passado.
Segundo David Sobral, por o Universo estar em expansão acelerada, e ser cada vez mais difícil formar novas estrelas, é que ele pode estar a morrer, embora lentamente, porque, afinal de contas, “as estrelas vivem mesmo muito tempo”.
O astrónomo Simon Driver adianta, no comunicado do OES, que “energia adicional está a ser constantemente criada pelas estrelas” à medida que estas fundem, por fusão nuclear, elementos químicos como o hidrogénio e o hélio.
A nova energia gerada, salienta, “é absorvida pela poeira à medida que viaja pela sua galáxia hospedeira, ou escapa para o espaço intergaláctico e viaja até atingir alguma coisa, como por exemplo outra estrela, um planeta ou, muito ocasionalmente, um espelho de telescópio”.
A equipa de Driver vai apresentou os resultados da sua investigação na XXIX Assembleia Geral da União Astronómica Internacional, em Honolulu, Havai, nos Estados Unidos.
Para o seu trabalho, os astrónomos socorreram-se dos telescópios terrestres Vista e VST, do Observatório Europeu do Sul, no Chile, e espaciais GALEX e WISE, da agência espacial norte-americana NASA, e Herschel, da agência espacial europeia ESA.
O grupo pretende dar continuidade ao estudo, “mapeando a produção de energia ao longo de toda a história do Universo”, com o auxílio daquele que é visto como o maior e o mais potente radiotelescópio do mundo, o Square Kilometre Array, que será construído na Austrália e na África do Sul, com participação portuguesa, da Universidade de Évora e do Instituto de Telecomunicações.
/Lusa
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