Novo sistema recorre ao processo de “evolução dirigida” e reduz a minutos o que demorava milhares ou milhões de anos.
O complexo processo de evolução, que normalmente decorre ao longo de milhares ou mesmo milhões de anos, pode agora ser comprimido em apenas alguns minutos, garantem alguns investigadores.
A enorme inovação deve-se à chamada evolução dirigida, que permitirá acelerar de forma inédita a transformação das proteínas, abrindo caminho para ainda maiores avanços na medicina e biotecnologia.
O método consiste em induzir mutações benéficas e selecionar variantes vantajosas, criando proteínas “hiperevoluídas” com potencial de aplicação em terapias contra o cancro e doenças neurodegenerativas.
Embora a abordagem seja estudada há anos, uma equipa do Scripps Research Institute desenvolveu recentemente o sistema T7-ORACLE, descrito no mês passado na revista Science, que consegue condensar o equivalente a 100 mil anos de evolução em apenas alguns minutos.
Segundo Peter Schultz, coautor do estudo citado pelo The Week, a nova técnica funciona como “um botão de avanço rápido para a evolução”.
Até agora, os sistemas de evolução dirigida exigiam rondas repetidas de manipulação genética e testes demorados, cada uma a levar uma semana ou mais. O T7-ORACLE contorna estas limitações ao recorrer a uma estirpe modificada da bactéria E. coli, equipada com um sistema artificial de replicação de ADN independente do genoma celular. Assim é possível introduzir mutações em cada divisão celular — processo que ocorre, em média, a cada 20 minutos.
O T7-ORACLE não é o único método inovador nesta área. Em maio, outros investigadores publicaram na Nature Communications a plataforma PROTEUS, capaz de promover a evolução de proteínas em células de mamíferos, ampliando ainda mais o sonho.
O conceito de evolução dirigida também recua a 2018, quando Frances Arnold recebeu o Prémio Nobel da Química pelo seu trabalho pioneiro na área. A técnica permite “criar” biomoléculas de forma semelhante à seleção artificial de plantas ou animais, mas agora em escalas temporais muito mais curtas.
As aplicações práticas vão desde o desenvolvimento de novos medicamentos e a compreensão da resistência aos antibióticos até ao uso em diagnósticos e terapias capazes de desligar doenças. Fora da medicina, há perspetivas de criar enzimas que degradem plásticos persistentes no ambiente.
Cuidado, aprendizes de feiticeiro. Ninguém consegue prever quais as consequências destas engenharias genéticas. Só o desenrolar normal da natureza permite manter as mutações favoráveis e eliminar as desfavoráveis. Mas estes tipos já se esqueceram das consequências de se terem feito experiências de transfusão de sangue de animais para pessoas…