A Angonabeiro, empresa angolana do grupo português Nabeiro, vai investir um milhão de dólares na aquisição da totalidade do capital da empresa pública angolana de produção de café Liangol, cuja gestão já assegura há 14 anos.
A informação foi avançada à Lusa pelo diretor-geral da Angonabeiro, José Carlos Beato, e surge na sequência do decreto executivo conjunto dos ministérios da Economia e da Indústria, de 13 de novembro, autorizando a privatização desta unidade, instalada em Cacuaco, nos arredores de Luanda.
“O grupo Nabeiro veio para Angola no ano 2000, a convite do Governo angolano, numa lógica de revitalização da fileira do café e que supunha a reabilitação de uma fábrica. Isso foi feito e portanto estávamos em Angola ao abrigo de um contrato de gestão da antiga Liangol, mas havia a perspetiva que esse ativo fosse privatizado um dia, e foi isso que aconteceu”, explicou o diretor da Angonabeiro.
Desde 2001 que a empresa do grupo português assume a gestão da fábrica da Liangol, depois de garantir também a sua reabilitação e modernização, tendo em conta que estava desativada desde 1984.
Nas próximas semanas, segundo José Carlos Beato, será assinada a escritura pública de compra e venda da empresa com o Estado angolano, tendo esta primeira fase do investimento, de mais de um milhão de dólares (900 mil euros), sido candidatado a incentivos públicos, ao abrigo da lei do investimento privado em Angola.
“No fundo é o culminar de um processo que justificou a vinda do grupo Delta para Angola, a criação de uma empresa de direito angolano, a Angonabeiro, e o desenvolvimento que temos feito ao longo destes 15 anos na fileira do café em Angola”, apontou ainda o administrador.
A empresa ocupa uma área de quatro hectares, com uma zona de armazenamento, torra e embalagem de café, onde o grupo Nabeiro assegura a produção e comercialização de 250 toneladas do café (2014) da marca própria Ginga, que lidera estacada as vendas em Angola.
Na mesma área, onde já trabalham cerca de 100 pessoas, a Angonabeiro tem projetos para, numa segunda fase, aumentar a capacidade de armazenamento e de distribuição, tendo em conta o objetivo de revitalizar o setor do café no país.
Angola já foi o quarto maior produtor mundial de café, com 200 mil toneladas anuais, antes de 1975. Essa produção está hoje reduzida a menos de 5%, fruto do abandono do cultivo durante a guerra civil angolana que se seguiu à independência.
As empresas do setor estimam que o país produz atualmente cerca de 3.000 toneladas de café – embora números oficiais apontem para 15.000 – e só a Angonabeiro comprou em 2014, a cerca de 20.000 produtores de várias províncias angolanas, 800 toneladas, o maior registo de sempre. No ano anterior conseguiu adquirir 600 toneladas e em 2012 apenas 500.
Só para Portugal, excluindo assim a quantidade necessária para a produção da marca angolana Ginga, a empresa exportou 500 toneladas de café, um volume recorde que segundo José Carlos Beato apenas cobre cinco dias de produção na fábrica portuguesa.
Portanto, garante, mais café fosse produzido (sobretudo recolhido) em Angola e mais seria comprado e exportado pela empresa, que tem vindo a alargar as zonas onde compra diretamente aos produtores, quando os consegue.
“Temos uma atividade que é quase de garimpar o café, vamos atrás dos agricultores, sempre com parceiros locais que têm a capacidade de descascar o café, de assegurar a primeira fase do tratamento”, explicou o responsável da Angonabeiro.
As vendas da empresa angolana do grupo Nabeiro cresceram 32% em 2014, face ao ano anterior, com um volume de faturação anual que se cifra acima dos 20 milhões de dólares (18 milhões de euros).
Em Angola, o negócio tem sido impulsionado nos últimos anos pela venda de cápsulas da marca Delta e pelo negócio da marca Ginga, com origem em café 100% angolano.
/Lusa