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“Erro histórico”. A Batalha de Aljubarrota não foi em Aljubarrota

Miguel Esteves, ZAP / Google Maps

Capela de São Jorge, construída no local exato onde Nuno Álvares Pereira ergueu o Estandarte de Portugal, após a Batalha de Aljubarrota, frente aos castelhanos. Recriação de placas com as distâncias em 1385, desde São Jorge, concelho de Porto de Mós (Leiria)

7 dias, a pé, até Lisboa. 12 até ao Reino de Castela. 13 até ao Reino dos Algarves. Neste preciso planalto, localizado em São Jorge e não em Aljubarrota, aconteceu… a Batalha de Aljubarrota.

Foi há 640 anos. A 14 de agosto de 1385, Portugal afirmava a sua independência, com a vitória do nosso Rei D. João I sobre o Rei Juan de Castela (João I de Castela).

Após a morte d’El Rey D. Fernando (1383), Portugal viveu dois anos bastante críticos.

Não havia filho varão para herdar a coroa. A única filha legítima de D. Fernando era a infanta D. Beatriz… que, para azar dos portugueses, era casada com o rei João I de Castela. Tal cenário era uma ameaça à soberania de Portugal.

O povo e os defensores do Reino suspiraram, assim, pelo Mestre de Avis, que era filho bastardo de D. Pedro I (e meio-irmão de D. Fernando).

A 6 de abril de 1385, o Mestre de Avis conseguiu reunir consenso e foi nomeado pelas Cortes de Coimbra como Rei de Portugal.

Mas Juan I não aprovou. O Rei de Castela não desistia do direito à coroa portuguesa e, a 8 de julho de 1385, decidiu invadir Portugal, por Almeida (Guarda) para enfrentar as tropas de D. João I.

A Fundação da Batalha de Aljubarrota relata vieram de “lá” 40.000 castelhanos. Já o exército português era constituído apenas por aproximadamente 7.000 homens, com armamento mais modesto, e a pé.

Poucos? Mas bons e, acima de tudo, liderados por um dos grandes estrategas do período medieval: o Condestável do Reino de Portugal, Nuno Álvares Pereira.

A estratégia delineada por Nuno Álvares Pereira levou Portugal à vitória, permitindo, assim, a afirmação da independência lusitana.

Esta batalha foi uma das mais raras e importantes batalhas campais da Idade Média, tendo posto frente-a-frente os exércitos dos reis. Daí, chamar-se, original e corretamente, “Batalha Real”.

Batalha Real?

Sim, Batalha Real. Só a partir do século XV é que os historiadores começaram a chamar-lhe Batalha de Aljubarrota. É o que explica, ao ZAP, Tânia Vieira, guia no Centro Interpretativo da Batalha de Aljubarrota (CIBA), em São Jorge, concelho de Porto de Mós (Leiria).

Porquê fazer o centro em São Jorge e não em Aljubarrota?

“Porque foi precisamente aqui, debaixo dos nossos pés, que aconteceu a Batalha de Aljubarrota”.

Então não foi em Aljubarrota?

“Não. A Batalha é nomeada desta forma devido a um erro de cronista“.

Jean Froissart, anos mais tarde, fez entrevistas a aldeões e todos diziam que a batalha tinha acontecido em Jubarrote. E ficou, desde aí, Batalha de Aljubarrota”.

“A Batalha, inicialmente, visto que estavam aqui os dois reis, ficou conhecida como ‘Batalha Real’. Só depois no século XV é que o nome alterou”.

“E o sítio onde estamos era conhecido como a ‘cumeeira de Aljubarrota’”.

Mas não é em Aljubarrota.

“Não é em Aljubarrota. Nós estamos em São Jorge. Aljubarrota fica a 10 quilómetros daqui”.

“O sítio onde estamos ficou conhecido como São Jorge devido à capela, mandada construir por Nuno Álvares Pereira, no exato local onde ergueu o Estandarte, depois de ter vencido a batalha”.

A aldeia adotou o nome por causa da capela, que é construída em honra de Santa Maria da Vitória também”.

Chamar-se Batalha de Aljubarrota foi um “erro histórico”?

“Exatamente”.

Como deveríamos referir-nos à Batalha, então?

“Batalha Real”.

E a história da Padeira de Aljubarrota?

“A padeira surge apenas no pós-batalha. Devido ao facto de ter havido mais mortes no pós-batalha do que propriamente aqui”.

Porque depois os espanhóis fugiram por aí…

“Fugiram e a ordem que os populares tinham era que todo e qualquer castelhano que fosse apanhado seria morto ou preso, consoante o nível hierárquico”

“Por exemplo, Pedro López de Ayala, cronista castelhano, uma vez que sabia ler e escrever, foi preso. Esteve dois anos preso em Ourém”.

Miguel Esteves, ZAP //

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