Cabul está a secar devido a uma combinação de diferentes fatores, incluindo as alterações climáticas, a má gestão dos recursos hídricos, a rápida urbanização e o aumento da população, que ronda os 5 a 6 milhões de pessoas.
Cabul, a capital do Afeganistão, corre o risco de se tornar a primeira capital moderna a ficar sem água.
A Mercy Corps, uma ONG humanitária, publicou um relatório em abril que concluiu que a crise da água em Cabul atingiu um ponto de rutura, com os aquíferos a esgotarem-se mais rapidamente do que podem ser reabastecidos, bem como questões relacionadas com a acessibilidade da água, a contaminação e as infraestruturas.
O problema da falta de água na capital do Afeganistão não é novo e tem vindo a agravar-se de forma constante há décadas.
O relatório sublinha que o problema foi agravado pelo declínio do financiamento humanitário para o Afeganistão desde agosto de 2021, altura em que os Talibãs regressaram ao poder com a retirada das forças americanas e aliadas do país.
“Sem mudanças em grande escala na dinâmica de gestão da água, a cidade enfrenta um desastre humanitário sem precedentes na próxima década, e provavelmente muito mais cedo”, escreveram representantes do Mercy Corps na conclusão do relatório.
O novo relatório baseia-se em trabalhos anteriores da Organização das Nações Unidas (ONU), que concluiu que as águas subterrâneas de Cabul correm o risco de se esgotar até 2030, com cerca de metade dos furos na província de Cabul já secos.
Em junho, um residente de Cabul disse ao The Guardian que já não há água de poço de boa qualidade disponível.
Mohammed Mahmoud, um especialista em segurança da água que não participou no relatório, disse à Live Science que Cabul está claramente a passar por uma crise de água cada vez mais grave.
Mahmoud é o diretor executivo da ONG Climate and Water Initiative e o responsável pela política climática e hídrica do Médio Oriente no Instituto da Água, Ambiente e Saúde da Universidade das Nações Unidas.
O especialista descreveu as conclusões do relatório como “bastante alarmantes” e referiu que também estava preocupado com a queda acentuada do lençol freático de Cabul e com o número crescente de residentes forçados a gastar uma parte significativa do seu rendimento no acesso à água.
A Mercy Corps fez saber que os níveis dos aquíferos de Cabul desceram cerca de 30 metros na última década e que algumas famílias estão a gastar até 30% do seu rendimento só em água.
“O que está a acontecer em Cabul reflecte uma tendência mais ampla a que assistimos em todas as regiões com problemas de água a nível mundial, especialmente no Médio Oriente e no Norte de África”, afirmou Mahmoud.
Como refere a Live Science, o relatório salienta que Cabul está à beira de se tornar a primeira capital do mundo a ficar sem água. No entanto, não é a primeira grande cidade a enfrentar uma ameaça existencial relacionada com a água (e, com base nas tendências atuais, não será a última).
A revista lembra o caso da Cidade do Cabo – capital legislativa da África do Sul – que, em 2018, quase ficou sem água durante uma seca, que só foi evitada, graças a restrições rigorosas.
A situação foi ainda pior para a cidade indiana de Chennai em 2019, quando os seus quatro principais reservatórios secaram, limitando gravemente o abastecimento de água e mergulhando a cidade numa grave crise.