ZAP // Remko de Waal, Guillaume Horcajuelo / EPA

Veículos, aviões, vinhos, carteiras de luxo. Produtos de sectores essenciais da economia europeia correm o risco de ser duramente afetados pelas tarifas de 30% anunciadas este sábado pelo presidente dos Estados Unidos, com entrada em vigor prevista para 1 de agosto.
O presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou este sábado a imposição de tarifas de 30% sobre todos os produtos da União Europeia e do México, a partir de 1 de agosto.
As tarifas sobre dois dos maiores parceiros comerciais dos Estados Unidos foram anunciadas em cartas publicadas por Trump na sua plataforma Truth Social.
“A partir de 1 de agosto de 2025, cobraremos à União Europeia uma tarifa de 30% sobre os produtos da UE enviados aos EUA, independentemente de todas as tarifas setoriais”, lê-se na carta publicada na Truth Social e endereçada à presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.
Donald Trump justifica estes impostos aduaneiros com o que considera ser um desequilíbrio comercial entre os Estados Unidos e a União Europeia, com prejuízo para os americanos.
Segundo a Comissão Europeia, a relação comercial entre os Estados Unidos e a UE representa 30% do comércio mundial, com um intercâmbio de bens e serviços em 2024 de 1,68 mil milhões de euros.
Os produtos farmacêuticos são os bens mais exportados pela Europa para os Estados Unidos (22,5% do total em 2024, segundo o Eurostat, e para já estão isentos das tarifas estabelecidas por Washington.
Várias empresas farmacêuticas já anunciaram investimentos nos Estados Unidos para reforçar a sua produção no país, ao mesmo tempo que pedem à UE uma flexibilização do seu quadro regulamentar.
Os Estados Unidos são também um “mercado-chave” para a indústria automóvel europeia, que exportou, em 2024, cerca de 750.000 veículos, por um valor total de 38,5 mil milhões de euros, segundo a Associação Europeia de Construtores Automóveis (ACEA).
A Alemanha produz a maioria destes veículos exportados, em particular os modelos berlina, SUV e desportivos de topo de gama de marcas como Audi, Porsche, BMW e Mercedes.
Em 2024, os Estados Unidos representaram 23% da faturação da Mercedes. A fabricante também produz nos EUA os seus SUV, que depois exporta para outros países. Estes modelos podem vir ser afetados por represálias europeias.
As tarifas aduaneiras americanas atuais já pesam consideravelmente no sector aeronáutico, altamente globalizado. Desde 12 de março que é aplicada uma sobretaxa de 25% às importações de alumínio e aço nos Estados Unidos, materiais-chave para a indústria aeroespacial.
Além disso, nota a AFP, todos os produtos (incluindo aviões) importados da Europa devem pagar uma taxa adicional de 10%.
O acordo que estava em negociação esta semana entre a UE e os Estados Unidos antes do anúncio de Trump, neste sábado, deveria incluir isenções para os sectores de aeronáutica, bebidas alcoólicas e produtos cosméticos.
O setor de luxo manteve-se relativamente discreto nos últimos meses sobre as suas reações, mas o impacto das tarifas poderia ser significativo.
A LVMH, líder mundial do sector, realiza um quarto das suas vendas nos Estados Unidos (e 34% das suas vendas de vinhos e licores). O grupo francês já tem nos Estados Unidos três ateliês da Louis Vuitton e quatro da marca americana Tiffany.
A Hermès, conhecida pelas suas carteiras Birkin e pelos lenços de seda, já tinha informado que compensaria “por completo” as primeiras tarifas aduaneiras de 10% impostas em abril por Donald Trump, aumentando os seus preços de venda nos Estados Unidos.
Mas 30% são outra história, diz a AFP.
Os perfumes e os cosméticos de marcas francesas e italianas vendem muito bem nos Estados Unidos — onde, em 2024, a L’Oréal realizou 38% da sua faturação anual.
A empresa produz localmente pouco menos de 50% dos produtos que comercializa no país, e o que é importado da Europa corresponde principalmente a produtos de luxo como a Lancôme, Yves Saint Laurent e Armani.
O director-geral da L’Oréal mencionou em abril a possibilidade de deslocar “uma parte” da produção nos Estados Unidos.
As tarifas de 30% são também um golpe mortal para a comida “Made in Italy”, disse, neste sábado, o principal sindicato agrícola italiano, que teme um impacto nos preços para os consumidores.
Com tarifas de 30%, os impostos adicionais para certos produtos emblemáticos do ‘Made in Italy’ alcançariam 45% para os queijos, 35% para os vinhos, 42% para os tomates processados, 36% para as massas recheadas e 42% para as compotas e conservas, diz o sindicato italiano.
No caso da França, os Estados Unidos são o primeiro mercado internacional para o sector de vinhos e licores, com um total em 2024 de 3,8 mil milhões de euros.
“Seria uma catástrofe para todo o sector, num momento em que os vinhos e os licores já enfrentam enormes dificuldades”, diss à AFP o director da secção de viticultura do sindicato FNSEA, Jérôme Despey. “Temos visto com frequência ameaças por parte dos EUA; pedimos à Comissão Europeia que não ceda na negociação”.
Fui imigrante durante alguns anos nos estados unidos…2015 ate 2023…e lembro-me de em algumas lojas de vinhos( liquors stores ) um vinho português da região do Alentejo amo mesmo preço que se vendia em portugal…isso ainda é mais estranho que o aumento, ja com transporte e impostos ficava pelo mesmo valor