A falta de consenso ou o “quase” que nunca se chega a concretizar. Recordações do currículo do quase candidato a presidente da República.
António Vitorino não vai ser candidato a Presidente da República. O antigo ministro retirou-se da corrida a Belém na semana passada.
“Não me apresentarei a candidato. Eu sempre disse, fui sempre coerente, de que devia haver apenas um candidato nesta área política (…) e manifestamente há um dado objectivo: a minha candidatura não conseguiu reunir o consenso para poder ser uma candidatura única desta área e portanto eu não me apresentarei”, justificou.
“Ficámos todos tão surpreendidos”, ironizou João Miguel Tavares, no dia do anúncio de Vitorino.
No mesmo programa da SIC Notícias, Pedro Mexia acrescentou que António Vitorino é como “uma daquelas pessoas que põe na badana dos livros que foi finalista do prémio tal… Uma pessoa que não ganhou, mais valia não dizer nada“.
O comentador Pedro Mexia lembra que António Vitorino já foi “quase candidato, proto-candidato, ou esteve mesmo para ser primeiro-ministro, secretário-geral do PS…”.
“Há mais de 25 anos que é assim”, acrescentou João Miguel Tavares. “Só avançaria se todos desistissem a favor dele”, incluindo Gouveia e Melo: “Quando ele for candidato único a umas eleições democráticas, eu acho que ele vai estar presente”.
Quais são os exemplos?
O PS, depois de passar por uma fase em que teve 4 líderes em 7 anos (Almeida Santos, António Macedo, Vítor Constâncio e Jorge Sampaio), aplicou uma espécie de aristocracia, uma lista de quem ocupa os lugares-chave no partido.
Em mais do que um momento (pós-Sampaio e pós-Guterres) António Vitorino era o nome preferido por muitos socialistas para liderar o PS. Recusou. Ferro Rodrigues foi eleito depois de Guterres e, quando saiu, António Vitorino era um dos nomes mais fortes. Recusou. Seguiu-se José Sócrates.
O ex-comissário europeu nunca foi derrotado em eleições em Portugal. Mas começa a ser colado ao rótulo do “quase”. Ou ao rótulo de desistente, de retirada.
Quase era líder do PS, no início do século. Afastou-se da corrida mesmo antes de se anunciar como candidato.
Antes, foi ministro da Defesa mas demitiu-se em 1997 por causa de falsas declarações entregues às Finanças, sobre uma propriedade no Alentejo. Não esperou pela publicação da notícia do Público; decidiu demitir-se quando recebeu a lista de perguntas do jornalista sobre este assunto.
Mais recentemente, em 2023, desistiu de (tentar) ser director-geral da Organização Internacional para as Migrações porque tinha perdido na primeira volta contra Amy Pope. Aqui sim, foi derrotado numas eleições, na primeira volta; e retirou-se depois.
Por fim, a candidatura a presidente da República. Era falado há meses, mas viu que não era o único candidato ligado ao PS. Afastou-se.