Kamijima Town Tourism Office

Edifícios adornados com murais de manga iluminam a frente marítima em Takaikamishima
Numa pequena ilha no oeste do Japão está em curso uma experiência ousada para evitar a extinção: transformá-la num centro global de manga, e torná-lo um local de peregrinação de fãs das icónicas novelas gráficas japonesas.
Com uma população de apenas 11 pessoas, a remota ilha de Takaikamishima, na região de Ehime, no Japão, está a apostar tudo na banda desenhada — que os residentes esperam que mude a sua sorte.
Em abril, a pequena ilha de 1,34 km² abriu uma escola de manga, na esperança de conseguir revitalizar-se — através da que é uma das exportações culturais mais icónicas do Japão.
Vinte e três estudantes do ensino básico e secundário de outras partes do município de Kamijima – que inclui Takaikamishima – já se inscreveram na escola, conta uma reportagem do jornal japonês Kyodo.
A iniciativa marca o culminar de um esforço de oito anos liderado por dois entusiastas de manga — determinados a dar à ilha despovoada uma segunda vida.
Sadamu Kimura, 74 anos, um dos poucos residentes restantes da ilha, uniu forças a Osamu Hasebe, um executivo de corporação médica de 76 anos do município de Yamanashi, para dar vida ao projeto. Ambos sonham em fazer de Takaikamishima um local de peregrinação para fãs de manga de todo o mundo.
“Se os estudantes daqui se tornarem artistas profissionais, penso que isto se tornará uma espécie de lugar sagrado para o manga“, disse Hasebe, na cerimónia de inauguração da escola, ao jornal The Mainichi.
O centro de manga ocupa agora a antiga escola primária e secundária da ilha, que encerrou em 2023. Renovada e reutilizada, a instalação inclui três salas de aula e uma sala de referência de manga.
O programa oferece seis cursos intensivos, cada um com aulas de dia inteiro realizadas duas vezes por mês entre o final de maio e o final de julho. O currículo abrange tudo, desde a construção de enredos até à ilustração de personagens, fundos, robôs e máquinas.
A propina para cada curso, que custa 80.000 ienes, cerca de 550 euros, inclui instrução, alojamento e refeições. Podem inscrever-se até 30 estudantes por curso, com candidaturas abertas a aspirantes a artistas de manga de todo o país.
Naruto Maegami, estudante do ensino secundário de outra ilha no município de Kamijima, conta que as lições eram fáceis de seguir. “Foi divertido. As explicações do professor eram fáceis de entender.”
A supervisionar o lançamento da escola estava Masanori Baba, que também dirige a associação de residentes na ilha. Mudou-se para Takaikamishima em 2022 com a esposa e duas filhas, aumentando a população para 11.
Baba espera agora ver esse número triplicar durante o seu tempo de vida. Para que isso aconteça, a ilha precisa de uma economia, diz Baba – e a escola de manga poderá ser o início de algo maior. “Espero que sejamos inundados com pessoas que querem mudar-se para cá”, disse.
O manga tem vindo a mudar gradualmente a ilha nos últimos anos. Os edifícios públicos, incluindo o salão comunitário, tornaram-se telas para murais coloridos. Mais de 30 personagens de manga adornam agora os edifícios da frente marítima da ilha, transformando a zona ribeirinha numa galeria vibrante ao ar livre.
Takaikamishima tinha cerca de 300 residentes na década de 1950, a maioria dos quais vivia da pesca e agricultura. Mas a sua população tinha encolhido para apenas 51 em 2007 – o mesmo ano em que Hasebe visitou pela primeira vez e começou a procurar formas de travar o declínio da ilha.
A ilha é uma das cerca de 256 “ilhas remotas” habitadas que são oficialmente reconhecidas à luz da Lei de Desenvolvimento de Ilhas Remotas do Japão – destinada a sustentar comunidades isoladas e garantir a integridade territorial da nação.
Embora estas comunidades sejam lar de menos de 0,3 % da população do Japão, desempenham um papel desproporcional na salvaguarda das fronteiras marítimas e zonas económicas exclusivas da nação.
“É difícil para as pessoas que vivem nestas ilhas encontrar formas de desenvolver a sua comunidade”, diz ao The Mainichi o Presidente da Câmara de Kamijima, Toshiyuki Uemura. “Que tenham decidido implementar este projeto de manga é um desenvolvimento maravilhoso — em que nunca teríamos pensado“.