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Neonazis atacam. “Estou zangada porque estamos distraídos. Isto vai acelerar muito”, avisa Graça Fonseca

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Estela Silva / Lusa

A ministra da Cultura, Graça Fonseca

Teatro em Lisboa, voluntários no Porto. “Sinto que estamos demasiado distraídos politicamente, colectivamente, civicamente”.

Na terça-feira, um grupo com alegadas motivações neonazis atacou elementos da companhia de teatro A Barraca. Um dos actores, Adérito Lopes, foi hospitalizado.

Pelo menos dois dos atacantes são membros do grupo de extrema-direita “Sangue e Honra”. Um deles esteve envolvido no assassinato de Alcindo Monteiro, há 30 anos, na mesma data (10 de Junho).

No mesmo dia, terça-feira, duas voluntárias foram agredidas por dois homens no Porto. As mulheres distribuíam alimentos a pessoas em situação de sem-abrigo.

Os dois agressores fizeram saudações nazis e responsabilizaram as mulheres pelo aumento da imigração em Portugal. Um dos detidos também agrediu um agente da Polícia de Segurança Pública.

Para já, Luís Montenegro não fala sobre o assunto.

O primeiro-ministro tinha estado fora de Portugal, na Conferência do Oceano das Nações Unidas, em Nice, França. Entretanto voltou e, ainda ontem, quinta-feira, esteve no Mosteiro dos Jerónimos para assinalar os 40 anos do tratado de adesão de Portugal à Comunidade Económica Europeia.

Mas continua sem reagir a estas agressões por parte de neonazis, o que deixa Graça Fonseca chocada: “Estou chocada com a ausência do primeiro-ministro no espaço público. Estou mesmo chocada, porque o silêncio perante a violência significa pactuar com a violência e com o que está a acontecer. O primeiro-ministro não pode remeter-se ao silêncio e à invisibilidade perante a gravidade do que está a acontecer”.

Na Antena 1, a antiga ministra da Cultura avisa: “A liberdade de criação assusta muito grupos neonazis e o autoritarismo. Conhecemos isso da história, mas, é precisamente por isso que me parece tão grave o silêncio, porque, no momento em que deixou de existir Ministério da Cultura e em que mais precisamos desta dimensão de liberdade, era muito importante que o Governo, através do primeiro-ministro, tomasse uma posição muito clara”.

“Não é admissível numa democracia e, para isso, nós precisamos de um poder político forte e que diga que não é admissível“, justificou.

Graça Fonseca, que está “profundamente zangada”, vai mais longe e aponta para o colectivo: “Estou profundamente zangada porque estamos colectivamente a deixar que a degradação da democracia e o ataque à liberdade que sejam quase uma normalidade. Sinto é que estamos demasiado distraídos politicamente, colectivamente, civicamente. Sinto que estamos todos demasiado desatentos e que a situação que estamos a viver se vai acelerar muito rapidamente“.

“Sinto que o deixar instalar o medo de falar, o medo de estar em palco e que o medo de dizer que não aceito se vai acelerar muito”, alertou a ex-ministra.

O ministro da Presidência, Leitão Amaro, assegurou nesta quinta-feira que as “ameaças extremistas, como outras fontes de ameaça à segurança, estão a ser monitorizadas”. E garantiu que uma das prioridades do Governo é ter mais polícia na rua, além de uma “Justiça cada vez mais rápida”.

ZAP //

1 Comment

  1. O silêncio é cumplicidade. E a cumplicidade é criminosa. Montenegro só tem duas saídas: condenar veementemente e tomar medidas firmes e imediatas para travar esta epidemia fascista ou ser sujeito à condenação pública como cúmplice de criminosos. A pergunta que se impõe é: porque decidiu o governo AD excluir os grupos neonazis do relatório de segurança interna (RASI) minimizando a importância da sua atividade? É legítimo ou não concluir que este governo está a contribuir para o clima de violência e insegurança que estes grupos, apoiantes de partidos como o Chega e o Ergue-te, promovem? E sendo a resposta positiva, como será inevitável concluir, caso o governo não mude de atitude e caso as forças de segurança não atuem como devem, o que resta ao cidadão comum fazer senão tomar medidas para defesa própria?
    Ao demitir-se das suas responsabilidades, este governo ficará para a história como instigador, por omissão, do confronto civil entre grupos e organizações extremistas que destilam ódio e violência contra cidadãos que apenas procuram fazer o seu trabalho. Sejam eles atores de teatro, voluntários, polícias ou quaisquer outros. Isto já não é violência contra imigrantes (igualmente intolerável), isto é violência (organizada) de portugueses contra portugueses. E o desfecho / consequência deste comportamento tem um nome, a que Montenegro e o seu governo omisso ficará ligado e pelo qual será julgado e condenado: guerra civil.

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