“Ainda está viva”. Os negócios contemporâneos da Máfia siciliana

Paramount Pictures

Marlon Brando no papel de Vito ‘Don’ Corleone em “O Padrinho”

Não caiu: tropeçou, levantou-se e seguiu outros caminhos. Esta Coisa Nossa tem ideais que não morrem e soldados que morrem por eles.

“A Cosa Nostra está viva e presente”.

O procurador antimáfia de Sicília, Maurizio de Lucia, foi claro, em declarações à BBC, na sequência da maior operação antimáfia desde a década de 1980, que decorreu em fevereiro, com muito sucesso, com um número recorde de detenções: 181.

Helicópteros, 1200 agentes com balaclavas e metralhadoras em punho, cães-polícia. Não acontecia há anos. Apesar de não ser a força que era — confessa de Lucia — a nova geração de mafiosos sicilianos usa telemóveis encriptados para comunicar, com milhares de cartões SIM de curta duração que contrabandeia, inclusive, para dentro das prisões, que estará ainda em grande parte à sua mercê.

O tráfico de droga faz parte das novas rotinas, mas a lavagem de dinheiro e o jogo ainda serão presentes. Mas hoje quem manda no tráfico é a Ndrangheta, originária da região italiana de Calabria, que se organiza na Itália continental de uma maneira semelhante à máfia — que fica com as ‘migalhas’ dos vizinhos.

Aliás, a fraqueza da Cosa Nostra tem sido evidente desde 2008, quando quase toda a liderança da Cosa Nostra foi presa.

As escutas revelam um cenário difícil para os negócios da máfia. Os membros queixam-se constantemente da perseguição das autoridades, mas também da falta de gente que se queira juntar à organização. E os que se juntam, ouve-se, são de fraca qualidade.

Se Corleone, nos arredores de Palermo, foi o berço dos mais famosos chefes Toto Riina e Bernardo Provenzano, dando nome ao Don que vemos na imagem deste artigo, as famílias do centro da cidade de Palermo recuperaram, com o tempo, a autoridade.

Depois do mega-julgamento de 1986-87 com o juiz Giovanni Falcone na liderança — assassinado num atentado bombista aquando da confirmação das sentenças em 1992 —, muita coisa mudou no combate à Cosa Nostra.

Um novo regime prisional, o “41-bis”, deu início ao verdadeiro combate à comunicação com o mundo de fora e a previsões de penas mais duras para membros do crime organizado; a criação de uma base de dados muito mais completa ajudou a manter o olho nos mafiosos; a criação da direção nacional antimáfia trouxe mais recursos para o combate ao crime organizado.

Entretanto, o número de homicídios cometidos pela famosa organização criminosa reduziu drasticamente, de 718 em 1991 para apenas 28 em 2019. A violência foi reinventada para se camuflar na justiça. Os homicídios eram a atividade da máfia siciliana que mais luz incidiam sobre as suas atividades obscuras, tanto nos media como no parlamento, e os mafiosos de Sicília perceberam isso.

As ameaças de morte tornaram-se localizadas, como relata anualmente a instituição de caridade antimáfia Avviso Pubblico, de modo a chamarem menos à atenção dos media nacionais.

Apesar da queda na taxa de homicídios e outros crimes violentos, o número de propriedades e empresas apreendidas à máfia disparou — um exemplo claro de que a baixa na violência não significa necessariamente que o crime mafioso terminou ou sequer diminuiu.

ZAP //

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