Nesvorný et al.

A estrutura em espiral na nuvem de Oort interior vista por um observador distante ao longo da direção do nó galáctico — simulação
Era para ser um simples representação sobre o espaço visto num planetário, mas levou à descoberta inesperada de uma nova estrutura.
Uma equipa de astrónomos que dava os últimos retoques na apresentação visual “Encontros na Via Láctea”, uma exposição digital no Museu Americano de História Natural, descobriu acidentalmente uma estrutura em espiral na Nuvem de Oort.
Há muito que se pensava que esta estrutura era uma concha descaracterizada de detritos de gelo, explica o The Daily Galaxy.
Embora a apresentação tenha sido concebida para o público em geral, acabou por desencadear uma reavaliação científica da fronteira mais externa do sistema solar. A descoberta foi recentemente publicada no The Astrophysical Journal.
Durante a produção do espetáculo imersivo, os investigadores que trabalhavam no museu notaram uma “anomalia visual”. A projeção na cúpula mostrava uma caraterística inesperada no interior da Nuvem de Oort — uma região a milhares de milhões de quilómetros para lá de Plutão.
Em vez de uma esfera lisa, a secção interior parecia formar uma espiral, semelhante a um S invertido. Este pormenor não fazia parte da conceção artística; provinha diretamente de dados reais de simulações astrofísicas.
“Porque é que há ali uma espiral?” interrogou-se Jackie Faherty, astrofísica do museu.
Essa pergunta inocente deu origem a uma investigação sobre o que viria a revelar-se um avanço na ciência planetária. A Nuvem de Oort, outrora modelada como uma esfera simétrica ou uma concha ligeiramente deformada, revelava agora um interior muito mais estruturado e dinâmico do que se supunha.
A exposição não era propriamente revolucionária. Os dados visuais tinham sido baseados no trabalho de David Nesvorny, do Instituto de Investigação do Sudoeste, especialista em dinâmica do sistema solar.
Quando contactado, até Nesvorny ficou surpreendido com o que viu na sua própria simulação. “É uma espécie de acidente estranho que tenha acontecido de facto”, admitiu.
Embora a espiral nunca tivesse sido explicitamente representada antes, estava escondida em dados reais – especificamente, as simulações orbitais de cometas influenciados pelas forças gravitacionais do Sol, dos planetas gigantes e até da própria Via Láctea.
Estas interações gravitacionais tinham “conspirado” para moldar a Nuvem de Oort interior numa espiral mais listada — uma configuração surpreendentemente reminiscente da estrutura da nossa galáxia.
Importância da espiral na Nuvem de Oort
A Nuvem de Oort é mais do que um cemitério imenso de corpos gelados; crê-se que é o local de nascimento de cometas de longo período que ocasionalmente entram no sistema solar interior.
Uma estrutura em espiral no seu interior implica um processo dinâmico subjacente muito mais complexo do que se pensava anteriormente.
Se o padrão espiral for real – e não apenas uma peculiaridade da simulação – então poderá mudar a forma como os cientistas seguem as trajetórias dos cometas, avaliam os riscos de impacto e compreendem a história inicial do sistema solar.
Andre Izidoro, um cientista planetário da Universidade Rice, chamou-lhe “uma mudança notável na nossa compreensão do sistema solar exterior”.
Isto sugere que mesmo regiões distantes e lentas do espaço são moldadas por forças galácticas e pela dinâmica interna do sistema solar de maneiras que só agora começamos a compreender.
O que torna esta descoberta única é a origem da informação. Não veio de um telescópio ou de uma sonda espacial, mas de uma apresentação planetária digital, concebida para contar histórias, não para as investigar.