O “manipulador” Putin está a brincar com Trump ao dizer “nim” a um cessar-fogo?

// Gage Skidmore; Firdaus Omar / Flickr; Depositphotos

O presidente russo disse esta quarta-feira ser “a favor” da trégua de 30 dias que a Ucrânia aceitou perante os Estados Unidos, mas com vários “ses”. “Entre ‘nyet’, ‘não’, ‘da’ e ‘sim’, Putin está mesmo no meio”.

Apesar de ter garantido apoiar o cessar-fogo, Vladimir Putin disse que este, a acontecer, tem de conduzir a uma “paz duradoura”, e confessou que ainda vê problemas na sua aplicação e que preferia discuti-lo ao telefone com o presidente norte-americano, Donald Trump.

“Pode ser que o Presidente Trump e eu conversemos por telefone e a discutamos em conjunto. Mas, quanto à ideia em si de pôr fim ao conflito por meios pacíficos, apoiamo-la”, declarou o líder russo em conferência de imprensa no Kremlin com o homólogo bielorrusso, Alexander Lukashenko, que por sua vez disse que Trump “não tem qualquer plano” para a paz na Ucrânia.

Mais especificamente, Putin apontou a necessidade de um mecanismo para controlar possíveis violações da trégua: o cessar-fogo não deve ser utilizado para rearmar os ucranianos ou para os ajudar a mobilizar mais tropas, sublinhou, levantando várias outras dúvidas.

“Toda a gente se iria embora? Devemos libertá-los, depois de terem cometido numerosos crimes contra civis, ou os dirigentes ucranianos vão ordenar-lhes que se rendam? O que é que isso vai acontecer? Isso não é claro”, apontou: “as tropas russas estão a avançar praticamente em todos os setores da linha de contacto e estão reunidas todas as condições para cercarmos unidades bastante grandes. Então, o que é que aconteceria durante esses 30 dias?”.

Outro “se” de Putin tornou-se evidente ontem. Moscovo não quer um cessar-fogo sem ver resolvidas as “causas profundas” da sua “incursão militar especial” na Ucrânia, explicou o líder russo. Mais uma vez, parece referir-se à alegada ameaça da expansão da NATO após a Guerra Fria e do governo de Zelenskyy que terá de cair, sendo essa uma das principais exigências do lado de Moscovo.

Mas afinal Putin aceita ou não um cessar-fogo de 30 dias? Até Trump — que avisou que espera que o Kremlin aceite a proposta e ameaçou com represálias — achou a resposta de Putin “incompleta”.

“Seria muito dececionante para o mundo” se Moscovo rejeitasse esta proposta, comentou Trump na Casa Branca. Mas quem está com pressa nesta novela é o presidente norte-americano, e Putin parece estar a tentar ganhar tempo à medida que as suas tropas estão prestes a expulsar por completo as forças ucranianas de Kursk, onde a Ucrânia surpreendeu Moscovo em agosto passado e região mais valiosa para a Ucrânia em eventuais conversações de paz.

“Todos ouvimos as palavras muito previsíveis e muito manipuladoras de Putin em resposta à ideia” da trégua, comentou por sua vez o presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskyy.

“Se colocarmos Putin numa escala entre ‘nyet’, ‘não’, e ‘da’, ‘sim’, ele está mesmo no meio”, brinca o antigo almirante e Comandante Supremo Aliado da NATO, James Stavridis, na CNN, que garante que Putin até pode levar uns socos de Trump, mas nunca desistirá dos seus objetivos.

Tomás Guimarães, ZAP //

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