António Pedro Santos / Lusa

O ministro das Finanças, Joaquim Miranda Sarmento
Um “impasse prolongado” teria efeito financeiros no país, mas o crescimento económico registado nos últimos semestres fortificou a capacidade de resistência portuguesa. Mas a geopolítica pode tramar-nos.
Esta quarta feira, o ministro das Finanças, Joaquim Miranda Sarmento, rejeitou terminantemente que atual crise política resultante do chumbo da moção de confiança apresentada pelo governo tenha impacto na economia nacional.
Numa conferência do Jornal Económico, o ministro garantiu que “de maneira nenhuma” haveria um impacto da crise política nos resultados portugueses.
Isto porque “a economia portuguesa teve um crescimento de 1,9%, superior à estimativa das instituições. O quarto trimestre (do ano passado) foi francamente positivo, tivemos o maior crescimento em cadeia da união europeia com 1,5%, o terceiro maior crescimento em variação homologa com 2,9% e isso significa o efeito carry over para 2025 de 1,4%”.
Ou seja, mesmo que exista uma estagnação económica, Portugal nunca baixa. Miranda sarmento resume: “Mesmo que os quartos trimestres de 2025 estagnassem, a economia portuguesa ainda assim cresceria 1,4%”.
O economista do banco Carregosa Paulo Rosa, citado pelo Jornal de Negócios, concorda com essa visão. Afirma que o crescimento económico registado se deve ao “turismo, pelo aumento do número de pessoas empregadas e pelo crescimento do investimento estrangeiro, fatores que contrastam positivamente com o resto da Europa”. Refere ainda a descida da taxa de desemprego para valores históricos.
“Nenhum investidor vê estas variáveis macroeconómicas favoráveis e a política de consolidação das contas públicas a serem postas em causa com as eleições antecipadas, tal como não foram anteriormente”, assegura.
É claro que, “um impasse prolongado na formação do Governo ou uma mudança radical na orientação económica” podem, sim, afetar a economia. No entanto, há outros fatores que a afetam mais.
É o caso da “instabilidade externa” que é “bastante complexa”, como explica o economista Filipe Grilo. Refere-se não apenas à aplicação de tarifas à Europa por parte dos EUA, mas também ao aumento dos gastos em defesa, num momento em que crescem as tensões entre o ocidente e a Rússia.
Nesse sentido, seria preferível, aponta outro analista, Ricardo Amaro, Portugal encontrar-se numa fase de estabilidade política. “Seria desejável termos um Governo na plenitude de funções nos próximos meses devido à instabilidade externa”, aponta.
E o PRR?
A Comissão Europeia garante ao Eco que “o processo político não tem implicações diretas no Plano de Recuperação e Resiliência (PRR)”.
O porta-voz da Comissão Europeia afirmou que “os compromissos do PRR são assumidos pelos Estados-membros e não pelos governos individuais. Por conseguinte, o processo político não tem implicações diretas no PRR”.
Ou seja, no cenário de eleições antecipadas, os representantes europeus garantem que vão continuar “a trabalhar com um governo interino, tanto na revisão intercalar com o na execução dos programas de Política de Coesão de forma mais ampla”.