A “Montanha que come Homens” é o único lugar do mundo onde é legal comprar dinamite

Jbmurray / Wikimedia Commons

O “Cerro Rico”, em Potosí

Uma discreta cidade mineira enche-se de turistas uma vez por ano, e já foi uma das maiores e mais importantes cidades do mundo cristão. A vida é dura, mas ainda há quem encontre criatividade e fé.

Um bastão de dinamite comprado num mercado da cidade mineira boliviana de Potosí custa 1.76 euros.

“Para os mineiros, a coisa mais essencial é a dinamite“, diz à CNN Jhonny Condori, um guia turístico da mina, que leva visitantes a visitar a montanha Cerro Rico (“Montanha Rica”), com capacetes, macacões e apertados num pequeno espaço.

A dinamite (que é ilegal para comercialização em qualquer parte do mundo, menos aqui) é essencial para acelerar o ritmo de extração dos minerais. Mas “se não souberem manejá-la, é perigoso”, explica Condori.

Potosí é uma das cidades com maior altitude mundo: fica a mais de 4.000 metros acima do nível do mar.

A esperança média de vida dos mineiros bolivianos é de apenas 40 anos: acidentes e doenças relacionadas com a respiração de sílica são a principal causa de morte, e é por isso que a região mineira é conhecida por “Montanha que come Homens”.

No local, há várias crianças que trabalham, num país onde a idade legal para trabalhar são 14 anos, mas muitas famílias contornam a lei por necessidades financeiras. Potosí é uma das regiões mais pobres da Bolívia.

E o seu passado é ainda mais negro. No século XVI, a região foi descoberta pelos colonizadores espanhóis por ser altamente rica em prata. “A região transformou-se muito rapidamente numa espécie de pesadelo”, conta o professor Kris Lane. “Era um lugar sem lei, um lugar de trabalho forçado”.

Potosí tornou-se assim a quarta maior cidade do mundo cristão, com uma população de mais de 200.000 habitantes no final do século XVI. Consta-se que terá sido responsável, na altura, pela extração e comercialização de 60% da prata do mundo inteiro.

Mas o Sol foi de pouca dura e as reservas de prata acabaram por se esgotar, e a principal extração é agora de zinco ou estanho, minerais mais baratos.

Cada entrada de poço de mina em Potosí é marcada por uma efígie com chifres, semelhante a um demónio, o “El Tío” (“O tio”). “Somos muito politeístas, acreditamos em vários deuses”, explica o guia turístico.

O “El Tío” é uma espécie de amuleto que, na verdade, terá sido introduzido pelos patrões coloniais para intimidar a sua força de trabalho indígena, “mas hoje em dia, é ele que nos dá a sorte”, explica Condori.

Potosí é palco de um vibrante “carnaval mineiro” entre fevereiro e março de cada ano, que atrai um grande número de turistas.

Na verdade, conta o professor, no meio da miséria existe ainda uma esperança de humanidade, através da arte: “Neste espaço de aparente horror, encontra-se camaradagem, criatividade… a música sai deste lugar, poesia interessante, muita fluorescência cultural”.

ZAP //

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.