Avad Parsa / EPA

Uma nova coligação parece estar a alinhar-se na Europa, em resposta à aproximação dos EUA à Rússia. Mas quem alinha e quem sai de cena?
Este domingo, o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, anunciou a sua intenção de se aliar à França para tentar obter um cessar-fogo na Ucrânia. Junto do presidente francês, Emmanuel Macron, propôs uma trégua de um mês entre a Rússia e a Ucrânia “no ar, no mar e nas infra-estruturas energéticas”.
A proposta chega num momento de tensão entre os EUA e a Ucrânia, depois de criticas acesas de Donald Trump a Volodymyr Zelenskyy, tendo o primeiro mostrado interesse num acordo de paz orquestrado pelos os EUA e a Rússia, à revelia da Europa.
Para se referir aos países que os apoiarão, recuperou uma expressão que teve origem em George W. Bush em 2003. A “Coligação dos Interessados” (em inglês, “Coalition of the Willing”) era o conjunto dos 38 países que apoiaram a invasão do Iraque por parte dos EUA.
O analista Peter Walker, escreve no The Guardian que poucas frases são repetidas na política sem uma razão deliberada, e que por isso o nome da nova aliança que quer instaurar a Ucrânia pode ser uma “farpa” atirada a Trump, que relembra o mundo de que os EUA têm uma política de “nós ajudamo-vos, agora retribuam o favor”.
Isto porque Trump tem cobrado à Ucrânia a ajuda que tem enviado para o país, exigindo um acordo de exploração das terras raras ucranianas.
“É um passo na direção certa. Não se trata de uma exclusão — quanto mais, melhor. Mas temos de avançar para uma forma mais rápida e ágil e penso que isso passa por uma coligação de Estados interessados”, concluiu Starmer acerca dos país que podem agora juntar-se para instaurar a paz na Ucrânia. Mas quais serão eles?
Os evidentes e os “poker face”
De acordo com Michael Clarke, analista militar citado pela Sky News, “tem de ser uma ‘coligação de interessados’ porque existem pelo menos dois membros da NATO — a Eslováquia e a Hungria — que vetam tudo o que não agrade a Putin.
Starmer está “bastante tímido em relação a quem está disposto a participar”, diz o professor. Ainda assim, comenta, “o importante é que o Reino Unido e a França vão liderar a coligação porque são as duas potências militares mais importantes da Europa”.
O analista aponta 4 países que considera poderem alinhar-se com os britânicos e franceses: Estónia, Lituânia, Letónia e Finlândia, países que fazem fronteira com a Rússia.
A Itália é uma potencial participante, mas a primeira-ministra Giorgia Meloni já criticou a posição de Macron, e no domingo, disse que o envio de tropas italianas para a Ucrânia “nunca esteve em cima da mesa” . Outro possível aliado, não-europeu mas integrante da NATO, é o Canadá, cujas ligações com os EUA se têm desintegrado.
O The New York Times menciona ainda os países do norte da Europa como a Dinamarca e os Países Baixos como “candidatos óbvios” a participar.
Quem não deverá alinhar é a Polónia (um dos países mais fortes da Europa no que toca a armamento), sendo que o primeiro-ministro Donald Tusk já afirmou no mês passado que “não tencionamos enviar soldados polacos para o território da Ucrânia”.
O analista da Sky News explica que a fronteira que a Polónia partilha com a Ucrânia e a Bielorrússia pode estar a amedrontar o país.
A Espanha também está reticente. O ministro dos Negócios Estrangeiros, José Manuel Albares, disse no mês passado que era “muito cedo para falar sobre o envio de tropas para a Ucrânia”.
E um elemento essencial é a Alemanha, que é ainda um “poker face”, um jogador cujas intenções se desconhecem. Isto porque o país sofreu grandes quebras na sua economia este ano, consequência, entre outras coisas, da crise política que se instaurou no país e levou os alemães a votos este mês. Ainda não se conhecem exatamente as pretensões de Friedrich Merz, que deverá ser o próximo chanceler.
E Portugal?
Tal como o ministro espanhol, Marcelo Rebelo de Sousa também disse que é “ainda é cedo para se colocar a questão” do envio de tropas portuguesas para a Ucrânia.
O próprio Macron sabe que ainda não é para agora: “Não haverá tropas europeias em solo ucraniano nas próximas semanas”, ressaltou. “A questão é saber como utilizar este tempo para tentar obter uma trégua acessível, com negociações que irão durar várias semanas e depois, uma vez assinada a paz, um destacamento”.
Mas os portugueses ainda não decidiram a sua posição. O ministro da Defesa, Nuno Melo, disse na SIC que “haverá tempo para pensar a utilização de militares e em que contexto”.
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