“Lição de anti-imperialismo”. Humilhado por Trump, Zelenskky recebe apoio esmagador

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Tim Ireland / EPA

Volodymyr Zelenskyy na cimeira da NATO

Donald Trump acusa Zelensky de querer “continuar a lutar” e exige “cessar-fogo já”. Zelenskyy “não quer perder” o apoio de Washington, mas, numa “lição de anti-imperialismo”, não o troca pela liberdade e valores da Ucrânia. Europa e Austrália juntam-se em apoio a Kiev.

O Governo norte-americano liderado por Donald Trump está a considerar suspender o envio de equipamento militar para a Ucrânia, após a altercação registada na Casa Branca com o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, noticiou esta sexta-feira o jornal Washington Post.

De acordo com o Post, que cita uma alta autoridade norte-americana, o governo está a considerar “suspender todos os envios em curso” para a Ucrânia devido à intransigência de Zelensky em relação ao processo de paz com a Rússia.

Esta medida afetaria a chegada de radares, veículos, munições e mísseis à Ucrânia.

Volodymyr Zelensky deixou na sexta-feira prematuramente a Casa Branca, após um confronto verbal sem precedentes com Donald Trump na Sala Oval, em que o Presidente norte-americano, erguendo a voz, ameaçou o seu convidado de “abandonar” a Ucrânia se este não fizer concessões à Rússia.

“Ele pode voltar quando estiver pronto para a paz“, disse Donald Trump numa mensagem na sua rede social, Truth Social, logo a seguir à sua partida precipitada.

A assinatura de um acordo sobre os minerais, hidrocarbonetos e infraestruturas ucranianas, para a qual o chefe de Estado da Ucrânia se tinha deslocado a Washington, não se realizou, nem a conferência de imprensa conjunta que estava prevista no final do encontro.

Donald Trump acusou também o homólogo ucraniano, que também ali estava em busca do apoio de Washington, após três anos de guerra com a Rússia, de ter “faltado ao respeito aos Estados Unidos” na Sala Oval, sublinhando que os Estados Unidos deram à Ucrânia muito dinheiro e que ele “devia estar mais grato”.

Numa cena de tensão sem precedentes, que se prolongou por vários minutos e que envolveu também o vice-presidente norte-americano, JD Vance, os três dirigentes levantaram a voz e falaram uns por cima dos outros várias vezes.

Trump criticou em especial Zelensky por “se ter colocado numa posição muito má” em relação à Rússia e disse-lhe que ele “não tinha as cartas na mão“, quanto ao desenlace da guerra.

O presidente norte-americano ameaçou mesmo o homólogo ucraniano, dizendo para fazer um acordo com a Rússia — “ou deixamo-lo ficar mal“, e acrescentando que será “muito difícil” negociar com o líder ucraniano.

Você está a brincar com a vida de milhões de pessoas. Está a brincar com a terceira guerra mundia”, disse-lhe ainda Trump, furioso.

Rubio exige desculpas

Após o tenso encontro entre os dois chefes de estado, o chefe da diplomacia dos Estados Unidos, Marco Rubio, apelou a Volodymyr Zelensky que peça desculpas após um confronto verbal com o homólogo norte-americano, Donald Trump na Casa Branca.

O líder ucraniano “devia pedir desculpa por estar a desperdiçar o nosso tempo com uma reunião que terminou assim”, disse na sexta-feira o secretário de Estado dos EUA.

Detalhámos muito claramente qual é o nosso plano, que é levar os russos à mesa das negociações”, disse Rubio, em entrevista à televisão norte-americana CNN.

Mas “durante dez dias, em todos os compromissos que tivemos com os ucranianos, houve complicações, incluindo as declarações públicas do Presidente Zelensky”, disse Rubio, questionando a disponibilidade do Presidente ucraniano “para atingir a paz”.

Talvez ele não queira um acordo de paz. Diz que quer um, mas talvez não queira”, disse o diplomata, acrescentando que “este enfraquecimento dos esforços para alcançar a paz é muito frustrante”.

Será difícil sem o vosso apoio

Numa entrevista à televisão norte-americana Fox News depois do confronto com Trump, Zelensky rejeitou dever um pedido de desculpas a Trump. “Penso que temos de ser muito abertos e honestos, e não tenho a certeza de que tenhamos feito algo de errado”, disse o Presidente ucraniano.

“Respeito o Presidente Trump e respeito o povo americano”, disse Zelensky, que defendeu que os ucranianos são os primeiros a querer acabar com a guerra, mas recusou conversações de paz com a Rússia sem garantias de segurança contra uma nova ofensiva.

Ninguém quer acabar com a guerra mais do que nós“, sublinhou Zelensky, que frisou que Kiev “não quer perder” o apoio de Washington, maior contribuidor para o esforço militar contra o invasor russo desde a invasão em 2022.

Será difícil sem o vosso apoio, mas não podemos perder os nossos valores, o nosso povo. Não podemos perder a nossa liberdade“, afirmou Zelensky, cujo país foi invadido pela Rússia, que em 2022 declarou a anexação de quatro regiões no leste e sul.

Ocidente une-se em apoio à Ucrânia

O presidente do Conselho Europeu, António Costa, manifestou esta sexta-feira o seu apoio ao Presidente ucraniano, afirmando que este “nunca estará sozinho“, após as declarações do Presidente norte-americano Donald Trump.

Nunca estará sozinho, caro Presidente Zelensky. Continuaremos a trabalhar consigo para uma paz justa e sustentável”, escreveu António Costa na rede social X.

A sua dignidade honra a bravura do povo ucraniano. Seja forte, seja corajoso, seja destemido”, acrescenta o presidente do Conselho Europeu, no rescaldo do encontro tenso na Casa Branca entre Zelensky, Trump e o vice-presidente dos EUA JD Vance.

Também a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, prometeu  trabalhar com o Presidente da Ucrânia para uma “paz justa e duradoura” no país, e afirmou, numa mensagem no X/Twitter, que Zelensky “nunca está só”, recomendando-lhe que “seja forte, corajoso, destemido“.

O primeiro-ministro da Austrália, Anthony Albanese, disse por seu turno que o país “apoiará a Ucrânia” durante o tempo que for necessário. “O povo ucraniano não está apenas a lutar pela sua soberania nacional, mas também para afirmar o respeito pelo direito internacional“, disse o chefe do Governo australiano.

“Vamos continuar a apoiar a Ucrânia durante o tempo que for necessário, porque esta é a luta de uma nação democrática contra um regime autoritário liderado por Vladimir Putin, que tem planos imperialistas para a Ucrânia, mas também para toda a região”, alertou Albanese.

Lição de anti-imperialismo

O primeiro-ministro português transmitiu esta sexta-feira uma mensagem de apoio ao Presidente ucraniano depois de uma reunião tensa na Casa Branca que terminou sem acordo.

A Ucrânia pode sempre contar com Portugal“, pode ler-se num mensagem publicada nas redes sociais de Luís Montenegro, escrita em português e em inglês, e na qual o primeiro-ministro português identifica Volodymyr Zelensky.

Também os líderes do PS, IL, BE, Livre e PAN reagiram ao confronto na Casa Branca entre o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, e o Presidente dos Estados Unidos, reafirmando o apoio à Ucrânia e condenando Donald Trump.

A luta da Ucrânia pela liberdade e pela independência é também a nossa luta. Uma luta feita de coragem, de resistência e de determinação”, escreveu o secretário-geral do Partido Socialista, Pedro Nuno Santos, na rede social X.

Já o líder da Iniciativa Liberal, Rui Rocha, recorreu também ao X para defender que “não se pode estar ao lado da Ucrânia e estar simultaneamente ao lado de Trump”, tal como “não se pode defender a UE e estar simultaneamente ao lado de Putin” e que “não se pode defender Portugal e estar simultaneamente ao lado dos seus inimigos”.

O porta-voz do Livre, Rui Tavares, afirmou no X que Zelensky, “ao não se vergar à intimidação de um extorsionário, foi uma autêntica lição de anti-imperialismo”.

Para a coordenadora do Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua, Trump e o vice-presidente dos Estados Unidos, JD Vance, “decidiram humilhar Zelensky na Casa Branca”.

“O mundo está a assistir, em direto, a uma sucessão de mentiras e acusações. O que é preciso acontecer mais para que o Governo português condene Trump? Nem Putin, nem Trump: a Europa tem de afirmar a sua autonomia”, acrescentou Mariana Mortágua no X.

A líder do PAN, Inês Sousa Real, partilhou a opinião da coordenadora do BE de que Trump tentou humilhar o Presidente ucraniano na Casa Branca.

Donald Trump desceu ao mais baixo nível da falta de diplomacia na sua tentativa de humilhar Zelensky e a Ucrânia. Perante todo este contexto, a Europa pode e deve ser um farol no que respeita ao progresso, união e respeito dos valores que devem nortear as relações entre estados”, escreveu no X a deputada única do PAN.

Zelensky agradece apoio

O Presidente ucraniano pediu hoje que “ninguém se esqueça” do seu país. “Para nós é muito importante que a Ucrânia seja ouvida e que ninguém se esqueça dela, nem durante a guerra nem depois“, escreveu Zelensky numa mensagem publicada na sua conta no Telegram.

É importante que o povo ucraniano saiba que não está sozinho, que os seus interesses estão representados em todos os países, em todos os cantos do mundo”, acrescentou Zelensky.

O Presidente ucraniano também aproveitou para reiterar o seu agradecimento ao apoio recebido, sem mencionar de forma direta o incidente com Trump, que resultou numa inédita e tensa discussão pública.

Obrigado pelo vosso apoio durante este momento difícil, por todos os vossos esforços pela Ucrânia e pelos ucranianos, e pela vossa ajuda, não apenas diplomática e financeira, mas também política, e pelas vossas orações”, acrescentou.

ZAP // Lusa

9 Comments

  1. Não sei o que vai acontecer daqui para a frente, mas a Ucrânia tem de ficar com as suas terras, o Trump cala o bico e o Putin é lançado aos cães.
    Não foi justa, a situação de ontem. Contudo, parece que nenhuma abordagem serve para o monstro da Rússia. O Biden também tentou planos de paz, isto e aquilo, envio armamento, financiou a Ucrânia, o que é digno. Mas isso não teve assim grande expressividade, porque a guerra, infelizmente, continuou a arrastar-se, apesar de as tropas russas terem ficado enfraquecidas.
    Depois, veio o Trump, e pôs-se com um discurso esquisito. A favor da Rússia. Mas porquê? Se ele é a favor de Israel (país atacado pelo Hamas), também deveria ser a favor da Ucrânia, que sofreu com os ataques da Rússia a partir de fevereiro de 2022. E não venham com a treta da NATO. Se os russos não queriam a Ucrânia na NATO (e é claro que agora podem esquecer isso), não tinham que estar com coisas e organizar um ataque massivo que destruiu dezenas e dezenas de cidades e matou milhares e milhares de cidadãos.
    A Ucrânia é um país mais pequeno. A Rússia já tem muitos territórios, é maior, mais forte. Porque é que ninguém convence o Putin de que ele não precisa de mais do que aquilo que já tem? Não bastou aquele ataque à Crimeia em 2014?! O que é que ele quer? Aproveitar a boa relação diplomática, para o manipular, pondo-o a dizer disparates?!
    O Zelenskyy fez muito bem em abandonar a reunião. Para quê dar os minerais à América, e ficar sem as suas terras? O Trump está mesmo maluco. Não sabia que a recompensa dos Estados Unidos poderia alguma vez ser a de ficar com esses minerais, e, ainda, apoiar o Putin nesse acesso de loucura por não ter ainda desistido de roubar as terras da Ucrânia…! E mais, o Zelenskyy não é ditador, não sei aonde foram buscar essa ideia estapafúrdia.
    O principal aqui é perceber como domar o monstro, como conseguir negociar, por forma a que a Ucrânia saia a ganhar e a Rússia nunca mais lá ponha o focinho. Afinal, a economia deste último país também está quase em recessão, não é? O Putin também quer isso? Economia miserável, abatimento de soldados, continuidade das sanções de países do Oriente e do Ocidente (notar: apenas os da oposição)? O Putin não está a ver bem o cenário, e pensa que o presidente da Ucrânia vai ceder aos caprichos de um monstro. Enganou-se. Quanto ao Trump, que se cale. E espero que controle mais aquilo que diz, e como diz.

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  2. O Mundo ter de estar atento ao Putin.
    Já sabemos como actua, ataca outros se sentir “confiança” que ninguem se vai “mexer” em defesa dos que são atacados. Assim, sabendo que o Trump não se vai envolver num”ataque”, tem o caminho livre para atacar a Polonia e Alemnaha.
    Foi o caso da Crimeia, e agora do ataque à Ucrania. Sentiu-se que não haveria envolvimento e avançou.
    O Trump se se poe do lado do Putin, está a incitar ao ataque no Norte da EUropa. Já pelo Baltico a destruir Cabos, sabne que ninguem se mexe contra.
    Se a Russia atacar a Europa, aí sim, teremos a III Guerra. O Trump tem de pensar 2x no que está a fazer, está a conduzir o Mujndo a uma nova guerra. Paz com os Russos, só com a Força, eles só percebem as Armas, Bombas, etc.

  3. Acho interessante o rescaldo do que aconteceu.

    Caso os EUA retirem o apoio militar o que fará a Europa?

    Se a Europa tivesse poder de negociação já o tinha exercido; os líderes que se manifestaram estão apenas a sinalizar virtudes que não as têm. A terem que ações foram desencadeadas? Apenas posts nas redes sociais. Pura treta.

    Impressão minha ou ninguém percebeu os contornos do acordo?

    A ter sido assinado, os EUA estariam automaticamente a posicionar-se na Ucrânia. Putin iria invadir e correr o risco de enfrentar os EUA millitarmente?

    Não me parece, mesmo! Leiam sobre geopolítica e negociação e deixem-se de posts nas redes sociais.

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  4. Putin e Trump ; . “Os lobos não se comem entre Eles” . Atuação mais degradante , irreverente , humiliante ; era de esperar de parte de Trump . Os USA , não querem apoiar a Ucrânia , tem esse direito , bastava dize-lo de forma Civilizada e Diplomática . Mas Trump e Putin , são o que são ; Falsos , Escroques e un perigo para outras Nações !

  5. Resumindo o Zelensky, não tem dinheiro, armas pessoal, por isso vai só contar com a Europa para ajudar com o nosso dinheiro e as nossas vidas. Tal como o Macron, disse e muito bem vamos colocar os europeus a combater com os Ucranianos, por isso se os meus dois filhos morrerem ou ficarem inválidos nesta guerra, vai valer a pena e acredito que quem está a postar por aqui partilha o mesmo sentimento que eu. Vamos continuar a opinar a favor desta guerra, até nos bata à porta, e quando forem os nossos filhos a tombar, vamos continuar com este discurso, sem dúvida. Já agora nós portugueses vamos pedir aos Ucranianos para darem a sua vida para conquistarmos Olivença aos espanhóis.

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