Ventura, não pede desculpa? “O PS é que tem de pedir desculpa!”

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Miguel A. Lopes / Lusa

O presidente do Chega, André Ventura

Todos os partidos, sem excepção, criticam o que aconteceu no Parlamento com Ana Sofia Antunes. Mas o líder do Chega tem outras ideias.

Desde 2022 o nível de conversa, de conteúdo, na Assembleia da República passou a ser outro quando oito deputados do Chega foram eleitos. Desde 2024 esse nível passou para outro patamar quando passaram a ser 50 (agora 49) deputados do Chega no Palácio de São Bento.

Mas parece que a tolerância chegou ao fim nesta semana, por causa das “bocas” enviadas a Ana Sofia Antunes, deputada cega do PS. Foram ouvidos recados como “aberração”, “pareces uma morta” ou “isto não é uma esquina”.

Esta sexta-feira foi dia de críticas ao Chega. Todos os partidos com assento parlamentar, sem excepção, abordaram o tom dos deputados do Chega.

O PS já ficou farto. A líder parlamentar Alexandra Leitão insurgiu-se contra a conduta do Grupo Parlamentar do Chega e disse que “o ambiente de violência verbal, de provocação e de intimidação que se vive na Assembleia da República tem que acabar e é tempo de dizer basta“. Por isso, vai propor alterações ao código de conduta dos deputados para incluir novas sanções.

Hugo Soares, líder parlamentar do PSD, disse que os apartes nos debates têm sido “pior do que conversa de café”.

Pedro Nuno Santos (PS) atirou: “O que pensariam as pessoas se os seus filhos fossem alvo de bullying, porque é isso que se passa. Os deputados do Chega são um bando de delinquentes, não respeitam ninguém, nem quem lhes paga os salários – os portugueses”.

Mário Amorim Lopes (IL) destacou a expressão “isto não é uma esquina”, que “sugeriu que a pessoa, enfim, pratique outro tipo de actividades; isto não tem cabimento dentro de uma Assembleia da República”.

Mariana Mortágua (BE) acha que “muitas pessoas que votaram no Chega têm vergonha destes comportamentos”.

Paulo Raimundo (PCP) considera que “as opções políticas têm de ter confronto político intenso mas isso não tem de ultrapassar os limites do respeito e da forma de estar na vida”.

Rui Tavares (Livre) resumiu: “Nenhum parlamento tem obrigação de aceitar comportamentos anti-parlamentares, venham de onde venham”.

Paulo Núncio (CDS) contou aos jornalistas que “o que se tem passado no plenário nos últimos dias tem sido uma enorme indecência”.

Inês de Sousa Real (PAN) repetiu a ideia de repetição: “Eu e outras deputadas temos vindo a ser alvo dos apartes e chacota do Chega”.

E o que diz Ventura?

Diz que o Chega está disponível para uma “auto-crítica”, mas “só no dia que dezenas de deputados deixarem de fingir que não ofendem os outros e deixarem de se fazerem de virgens ofendidas da democracia”.

André Ventura diz que outros deputados, sobretudo à esquerda, “fizeram choradinhos durante a manhã toda” desta sexta-feira.

“Se há partido que tem sofrido na pele esses ataques, esse partido é o Chega. Nunca houve nenhum líder tão insultado como o do Chega. E nunca houve nenhum partido tão insultado na Assembleia da República como o Chega”, repetiu.

O Chega, acrescentou, está a ser alvo de “um ataque concertado de assédio, de ofensas e de insultos”.

O presidente do Chega não admitiu a existência de qualquer ofensa por parte dos seus deputados em relação a Ana Sofia Antunes.

Quando foi questionado se iria pedir desculpa à deputada socialista, André Ventura recusou e voltou a desviar o foco: “O PS é que tem de pedir desculpa aos milhares de cidadãos portadores de deficiência que deixou por apoiar”.

Recado da mesa

Também nesta sexta-feira, na recta final de outro debate na Assembleia da República, Rita Matias, deputada do Chega, assegurou que “não houve qualquer crítica” de nenhum deputado do seu partido à deputada Ana Sofia Antunes. E disse que Isabel Moreira (PS) é que atacou o deputado do Chega, Filipe Melo, e o seu filho neurodivergente – mas não revelou o que Isabel Moreira fez.

No mesmo debate, o Chega ouviu um “recado” da mesa da Assembleia da República. O vice-presidente Rodrigo Saraiva (IL) avisou que “quem vai à guerra dá e leva” e que “quem agride não é vítima no segundo seguinte”. E avisou Pedro Pinto, líder parlamentar do Chega: “Demorou 24 horas para comentar o que foi dito ontem, lamentou vários dos apartes que ouviu. Penso que só lhe faltou ser consequente e pedir desculpa“.

“Relativamente a ontem, aquilo que foi dito pode ter sido dito da forma que não era pretendida, mas foi dito, foi grave, foi indigno e foi factualmente errado, porque a senhora deputada Ana Sofia Antunes, a maior parte das intervenções que fez nesta Câmara até foi sobre assuntos europeus”, acrescentou Rodrigo Saraiva.

Nuno Teixeira da Silva, ZAP //

4 Comments

  1. Tadinhos !!! os meninos do infantário da direita disseram palavras feias aos meninos bétinhos do infantário da esquerda !!!
    O POVO É QUE DECIDE QUEM É SANCIONADO OU NÃO ATRAVÉS DO VOTO !!!. Mais uma vez a altivez do PS e a mania de que mandam nisto tudo é bem patente, se não suportam a pressão do parlamento que nestes ultimos 50 anos dava para pintar as unhas e dormir umas sonecas, demintam-se e deem lugar a outros, alem do mais o histórico de mau comportamento no parlamento por parte do PS e outros também não é famosa, quem não se lembra dos corninhos de Manuel Pinho, “mentirosa é a tua tia….” José Socrates, as bacoradas ditas pelo Rui Tavares, etc… tudo miminhos de boa camaradagem.

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  2. Aqui ele perde, ainda por cima insultos. A humildade em assumir as atitudes erradas é uma virtude de qualquer político deve ter.
    Não devemos justificar os nossos erros pelos erros dos outros.

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  3. O Dr. André Ventura perdeu completamente o controlo do partido, revelando-se um líder fraco e incapaz de assumir a responsabilidade política pelas suas escolhas. A crise interna do Chega expõe uma evidente falta de liderança e coerência. Perante este cenário, deveria colocar imediatamente o seu lugar à disposição e abrir caminho a novos candidatos.

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