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Portugal não exporta aço para os EUA, mas pode perder mil milhões de euros com as tarifas

Taxas alfandegárias de 25% sobre todas as importações de aço e alumínio — assim decretou Donald Trump. Mas os EUA esqueceram-se de especificar: é só a matéria prima, ou também os componentes fabricados com eles? E o que ganham com isto os produtores americanos?

Em 2024, Portugal não exportou nem um cêntimo de aço ou alumínio para os EUA. Seria de esperar, portanto, que estivéssemos a salvo das tarifas norte-americanas, aplicadas indiscriminadamente a qualquer país que exporte estes produtos para o país.

“São 25% sem exceções ou isenções, são todos os países”, confirmou esta segunda feira o presidente Donald Trump.

O problema é que os EUA não especificaram um pormenor importante: se estas tarifas se aplicam apenas ao metais em si (a matéria prima), ou também ao componentes, como cabos e máquinas, fabricados com estes produtos.

Para Portugal, este detalhe não é apenas importante: é essencial. Exportamos mil milhões de euros em materiais deste tipo para o país, segundo avança o JN. A aplicarem-se as tarifas sobre estes produtos, todo este negócio pode ir por água abaixo.

Outro fator importante: Trump tem admitido impor igualmente tarifas sobre automóveis, microprocessadores e produtos farmacêuticos, avançava já a Reuters no final de janeiro, ideia reforçada esta segunda feira pelo presidente norte-americano.

Ainda que Portugal exporte menos produtos farmacêuticos do que em 2023 para os EUA, este setor é o principal no que toca a exportações para este país.

Portugal exportou em 2024 1168 milhões de euros em medicamentos para os EUA: é o principal produto que enviamos para o país.

Como aponta a Renascença, por cada 100 euros que recebemos por exportações para os EUA (e são por ano 5,3 mil milhões de euros, avança o INE), 25 deles vêm de produtos farmacêuticos (25%).

Trump prometeu já tarifas contra todos os produtos da União Europeia, pelo que, mesmo que os produtos farmacêuticos, de uma forma geral, sejam “poupados” pelos norte-americanos, as exportações portuguesas para o país deverão sofrer, de qualquer das formas, um abalo.

Para além disso, a União Europeia já garantiu que vai responder às tarifas norte-americanas com a mesma moeda de troca, o que pode também traduzir-se num abalo na economia portuguesa.

O impacto pode ser de 3,9 mil milhões de euros na nossa economia, sentidos em especial no setor dos combustíveis e óleos, dos quais somos cada vez mais dependentes.

Até os americanos perdem, diz a História (muito) recente

Durante o seu primeiro mandato, em 2018, Trump tinha já tido a ideia de aplicar taxas à importação de aço e alumínio, para incentivar à produção dentro do país e à autossuficiência, ideal desde sempre defendido pelo presidente norte-americano.

Eram taxas alfandegárias de 25% sobre o aço e uma taxa de 10% sobre o alumínio.

Mas as queixas do próprios empresários da indústria norte-americana, que viram a sua produção ficar mais cara, e de muitos parceiros do comércio tradicional, acabaram por levar o republicano a recuar, de forma discreta e por prestações, sem fazer muito alarido.

De acordo com o El País, com as barreiras na fronteira, as importações norte-americanas de aço e alumínio caíram, a produção interna aumentou e os preços pagos pela indústria americana também subiram: naquela ocasião, o aumento foi de 2,4% e 1,6%, respetivamente, apontam dados da Comissão de Comércio Internacional.

Para além disso, esta medida resultou na perda de cerca de 75 000 postos de trabalho. No total, a decisão de Trump terá custado aos consumidores desta indústria metalúrgica um total de quase 650 000 euros. Parece ser um tiro no pé.

Terá Trump feito as contas, e está apenas a usar as ameaças de tarifas como uma poderosa arma de negociação? Ou pretende dar uma segunda chance ao protecionismo nos EUA, uma vez que diz que quer “tornar a América rica de novo”?

Carolina Bastos Pereira, ZAP //

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