Ronaldo cresceu a ser “o Chora” e isso destinou-o à excelência

Abedin Taherkenareh / EPA

Ronaldo a chorar após a eliminação contra Marrocos, no Mundial 2022

Cristiano Ronaldo completa esta quarta-feira 40 anos de idade. Muito chorou ao longo destes mais de 30 anos de futebol. E só temos de lhe agradecer por isso.

Ninguém tem dúvidas: Cristiano Ronaldo é um dos melhores atletas da história do desporto. Para muitos (incluindo o próprio), é também o melhor futebolista de sempre.

Opiniões e distinções à parte, Ronaldo é um atleta como nunca houve e, desde sempre, se destinou à excelência… não fosse ele “o Chora”.

Os mais próximos, tanto familiares e amigos, contam, em cada entrevista que, desde muito novo, Ronaldo era extremamente competitivo.

Na cabeça dele, só uma palavra fazia sentido: ganhar. Quando perdia, ficava frustrado, resmungava e… chorava.

Numa entrevista recente à Nova Gente, Kátia Aveiro revelou que foi o próprio pai José Diniz Aveiro (falecido em 2005) que lhe pôs alcunha de “Chora”.

“Quando o Cristiano era pequenino, ele chorava muito nos jogos quando perdia. O meu pai dizia ‘olha o Chora vem aí’“, recordou.

A mesma alcunha foi, depois, adotada por colegas de equipa, ao longo dos anos.

Em 2017, em entrevista ao Tribuna Expresso, Ricardo Santos, antigo colega de Ronaldo no Andorinha, confirmou que aquele que viria a ser o melhor jogador do mundo era “o Chora” – precisamente, porque chorava sempre que perdia.

O pequeno Ronaldo seguiu, depois, para o Nacional… onde continuou a ser “o Chora”. É o que conta ao Observador o jornalista da RTP Tiago Góes Ferreira, que foi colega de CR7 nos insulares em 1995.

“O engraçado dele era a competitividade”, contou. “Desde o futebol até aos matraquilhos (…) Chorava. Ele chorava imenso, a gente chamava-lhe o Chora. O gajo ficava lixado e chorava mesmo. Nos treinos, quando o treinador lhe dava na cabeça, o gajo chorava”, contou Tiago Góes Ferreira.

Mas foi esta mentalidade que tornou Ronaldo num dos melhores se sempre.

O pequeno CR7 já era obcecado por ganhar… ou, como dizem outros, era “chato”. No âmbito das celebrações do 40.º aniversário do astro português o antigo colega na Academia do Sporting Duarte Monteiro explicou à TSF porquê.

“Lembro-me de que no próprio treino ele era demasiado competitivo. Às vezes até se tornava chato porque ele queria sempre competir com os melhores. Quando eu digo com os melhores, é aquele que seria o atleta mais rápido do plantel, ele só faria velocidade com esse atleta Se fosse para saltar mais alto, ele só iria fazer aqueles exercícios com os atletas que saltassem mais alto”, contou.

Ronaldo não chorava por qualquer amor

Duarte Monteiro contou também que Ronaldo desabafava algumas vezes com ele, onde dizia que só queria namoradas depois de ser o melhor do mundo.

“Lembro-me de algumas conversas em que ele me dizia, em tom de brincadeira, que ia ser o melhor do mundo. Relativamente, por exemplo, a namoradas, ele dizia: ‘Não quero saber nada disso, só me vou casar depois dos 30, quando fizer a minha carreira, vou ser o melhor do mundo, vou criar o meu legado”, contou.

E, se por mulheres não chorava, Ronaldo continuava a chorar (e muito) pelo seu grande amor: o futebol.

Uma das primeiras imagens que marcaram a carreira de Cristiano Ronaldo foi precisamente o choro compulsivo, na final do Euro 2004, após a derrota frente à Grécia.

Era um sentimento de impotência vindo de um miúdo de 19 anos que não tinha conseguido dar o primeiro título ao seu país… Por que acharia ele que tinha essa responsabilidade?

12 anos depois, em 2016, Portugal voltou a chegar à final (em e contra a França), Ronaldo voltou a chorar. Tinha-se lesionado, ainda na primeira parte. Estava a acontecer outra vez? CR7 voltava a sentir-se impotente.

No final do jogo, “o Chora” voltou a chorar – mas, finalmente, de alegria. Afinal, todas as lágrimas anteriormente derramadas valeram a pena. Ronaldo venceu.

No Euro 2016, Ronaldo tinha 31 anos. Poucos previam que oito anos depois, em 2024 e já com 39 anos, Ronaldo voltasse a chorar ao serviço da seleção. Mas aconteceu. Ronaldo voltou a fazê-lo, outra vez num Europeu, depois de falhar um penálti frente à Eslovénia, nos oitavos-de-final da competição.

Aos 39 anos (repita-se) a fome de vencer ainda estava lá; e o pequeno e insaciável “Chora” também. E é, precisamente, esta forma de viver a vida e o futebol que fazem com que chegue aos 40 anos como sendo ainda um atleta de excelência.

O Chora entra esta quarta-feira, 5 de fevereiro, numa nova década. Não sabemos por quantos mais anos vamos continuar a ter o prazer de o ver “chorar”. Sabemos apenas (os amantes de futebol) que, quando chegar o fim, quem vai chorar somos nós.

Miguel Esteves, ZAP //

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