Tinha o nível “que, hoje em dia, se encontra em jogadores como Cristiano Ronaldo”. Também nunca jogou futebol para lá dos infantis do CD Gouveia, da Guarda.
“¿Concentrão? ¿Quién es ese jugador?”
Tal como quando aquele jornalista tentou mencionar o caxineiro Fábio Coentrão, pronunciando mal o seu nome, Cristiano Ronaldo ficaria igualmente incrédulo no início do milénio se à baila viesse um jogador português ainda melhor que Cris, o melhor do mundo, CR7.
Falamos do craque, do mito, da lenda, do avançado perfeito, do melhor jogador de futebol de todos os tempos: Tó Madeira.
Na terceira divisão portuguesa, o jovem promessa marcava e encantava — não só Portugal, mas o mundo inteiro — a jogar pelo clube da sua terra natal, o CD Gouveia, até chegar a gigantes como o Real Madrid.
Se é adepto do jogo bonito e nunca ouviu falar dele, talvez seja porque Tó Madeira nunca jogou futebol profissionalmente. Mas para quem se divertiu sentado, a jogar o videojogo Championship Manager (CM) — pouco mais tarde conhecido como Football Manager (FM) — no início de 2000, o craque será para sempre recordado com muito carinho — ao ponto de uma equipa (real) ter sido criada com o seu nome, FC Tó Madeira, mais tarde, no Reino Unido.
Tó Madeira não existia no mundo da bola, mas estava no jogo, e quem o comprasse não ficaria descontente com os seus serviços. Mas afinal, como é que um jogador falso foi parar a um dos simuladores de futebol mais famosos do mundo?
O craque, que o sueco Gyokeres faria hoje lembrar, por não fazer menos de 30 golos por época, era na verdade António Lopes, um colaborador da empresa Sports Interactive (SI), que criou o videojogo.
A seu pedido, enviado por e-mail à empresa, António Lopes foi o responsável por criar e introduzir o plantel do Gouveia, da Guarda, no jogo. Mas o curso de engenharia civil que estava a tirar roubava-lhe tempo a mais — então António teve de ser criativo.
Sorrateiramente, meteu-se a si mesmo no jogo e a mais dois amigos naquele plantel da terceira liga, no seu caso com um pseudónimo pelo qual o tratavam quando era miúdo e que ficaria para a história. Neste processo, abusou também nos atributos e potencial do seu avatar, revelou o próprio ao jornal Público em 2014, criando assim uma lenda mundial.
A base de dados do videojogo identificou a gralha e uma nova versão do jogo foi lançada com a correção, sem a lenda, mas era tarde demais: Tó Madeira ficou para a história do futebol virtual, conhecido para lá de terras lusas. Tinha o nível “que, hoje em dia, se encontra em jogadores como Cristiano Ronaldo”, recordou ao P3.
Até hoje, o herói Tó Madeira não deu a cara, mas em Inglaterra, o mito sobreviveu pelo menos até 2018, ano em que o seu nome ainda pingava suor nas camisolas dos comandados de uma equipa de futebol amador chamada… FC Tó Madeira.
“O F.C. Tó Madeira nasceu a partir de uma brincadeira. Eu e um amigo, o Michael, que é agora o treinador, costumávamos marcar jogos de futebol com alguns amigos do trabalho. Como os jogos eram cada vez mais frequentes e quase sempre com os mesmos jogadores decidimos fazer uma equipa para atacar a época 2011/12”, revelou nessa época ao Mais Futebol Stuart Warren, jogador, treinador-adjunto e responsável pela comunicação do clube. A equipa acabaria por terminar a época em último lugar.
