Mohan Srivastava descobriu o sistema por trás das raspadinhas com o jogo do galo da Ontario Lottery and Gaming Commission. A revelação podia render-lhe 600 dólares por dia.
Um bilhete de lotaria de raspadinha aparentemente vulgar tornou-se num inesperado caso de estudo na estatística e conceção de jogos depois de o estatístico canadiano Mohan Srivastava ter descoberto uma falha que lhe permitiu prever os vencedores com uma precisão notável de 90%.
Em 2003, Srivastava, um geoestatístico sediado em Toronto, deparou-se com alguns bilhetes de raspadinha da Ontario Lottery and Gaming Commission (OLGC), que tinha recebido como presente. Um deles acabou por ser vencedor de um prémio de 3 dólares e, mais do que uma fonte de dinheiro rápido, tornou-se uma fonte de curiosidade profissional. Intrigado com a mecânica do jogo, Srivastava analisou o desenho do bilhete e rapidamente se apercebeu que era possível vencer o sistema.
O jogo em questão apresentava um conjunto de 24 “os seus números” num dos lados do bilhete e oito grelhas do jogo do galo no outro. Se os números do jogador se alinhassem em padrões de três em linha em qualquer grelha, ganhava um prémio em dinheiro.
“Comecei a olhar para o jogo do galo e a perguntar-me como é que eles fazem estas coisas. Os bilhetes são claramente produzidos em massa, o que significa que deve haver um programa de computador que estabelece os números. Claro que seria muito bom se o computador pudesse simplesmente cuspir dígitos aleatórios. Mas isso não é possível, uma vez que a empresa de lotaria precisa de controlar o número de bilhetes vencedores”, explica o estatístico à Wired.
Mas aqui que Srivastava notou algo peculiar: certos números, que apelidou de “singletons”, só apareciam uma vez no cartão inteiro. Quando três singletons diferentes se alinhavam numa linha, coluna ou diagonal de uma das 8 grelhas do jogo do galo, o cartão seria vencedor.
Esta observação não era apenas um caso aleatório. Srivastava testou a sua teoria comprando mais 20 bilhetes, prevendo seis vencedores com base no método do “singleton”. Quatro dos bilhetes ganharam de facto — um resultado com apenas 2% de probabilidade de ocorrer por mero acaso. Srivastava apercebeu-se de que tinha identificado uma falha matemática na conceção do jogo.
“Lembro-me de pensar: ‘vou ser rico! Vou ganhar a lotaria!‘ Quando percebi quanto dinheiro poderia ganhar se este fosse o meu trabalho a tempo inteiro, fiquei muito menos entusiasmado”, lamentou.
Apesar do potencial de lucro, Srivastava escolheu um caminho diferente. “Calculei que poderia esperar ganhar cerca de 600 dólares por dia. Não é mau. Mas, para ser sincero, ganho mais como consultor e acho que a consultoria é muito mais interessante do que raspar bilhetes de lotaria”, declarou.
Em vez de ganhar dinheiro, Srivastava comunicou a vulnerabilidade ao OLGC. Inicialmente cética, a Comissão mudou de opinião depois de Srivastava lhes ter enviado 20 bilhetes pré-selecionados, marcados como vencedores ou perdedores, todos corretamente previstos. Assim que a Comissão confirmou as suas descobertas, tomou imediatamente medidas para reformular o jogo, colmatando a lacuna.
A descoberta de Srivastava serve para recordar que mesmo os jogos de sorte assentam frequentemente numa base de regras com falhas que podem ser exploradas com uma observação atenta e as capacidades analíticas corretas.