Luigi Mangione acusado de terrorismo. Nova Iorque quer criar linha telefónica de apoio a CEOs

Altoona Police Department

Luigi Mangione, suspeito de assassínio do diretor executivo da UnitedHealthcare

A acusação de terrorismo está a ser muito criticada online, onde Mangione tem uma grande base de apoio. Uma nova sondagem aponta que 41% dos jovens norte-americanos consideram o asssassinato do CEO aceitável.

Luigi Mangione, o jovem de 26 anos suspeito de ter assassinado o CEO da seguradora UnitedHealthcare, foi formalmente homicídio em primeiro e em segundo grau, incluindo uma acusação de homicídio como um ato de terrorismo.

Esta acusação é baseada numa lei criada em Nova Iorque após o 11 de Setembro que alarga a definição de terrorismo a crimes que tenham a “intenção de intimidar ou coagir uma população civil, influenciar a política de uma unidade governamental através de intimidação ou coação ou afetar a conduta de uma unidade governamental através de homicídio, assassinato ou rapto”, cita a Associated Press.

A mensagem escrita que Mangione deixou aos polícias deverá ser usada pelos procuradores para tentar provar a acusação de terrorismo, já que deixa em claro as posições políticas do suspeito. No manifesto, o suspeito critica o sistema de saúde privado dos Estados Unidos e descreve as seguradoras como “parasitas” que “tiveram o que mereciam”.

De acordo com o procurador nova-iorquino Alvin Bragg, a intenção do suspeito era “semear o terror“. Já Karen Friedman Agnifilo, advogada de Mangione, considera que a acusação de terrorismo é disproporcional e é um exemplo de “overcharging”. Caso seja condenado, Mangione arrisca uma pena de prisão perpétua.

A decisão de acusar Luigi Mangione de terrorismo está a ser bastante contestada na internet, onde o jovem se tornou um símbolo contra um sistema de saúde que anualmente leva à morte de 68 mil norte-americanos.

Entre os argumentos dos defensores de Mangione, há quem aponte a parte do seu manifesto onde frisa que queria fazer um ataque “direcionado, preciso e que não põe em risco inocentes“, o que contraria a ideia geral que os ataques terroristas são indiscriminados e não têm um alvo específico.

Há quem argumente que esta definição mais alargada de terrorismo também deveria ser aplicada às seguradoras, já que também causam a morte de milhares de norte-americanos em nome de uma ideologia capitalista.

“Luigi Mangione está a ser acusado de homicídio em 1º grau e terrorismo por alegadamente “influenciar as políticas de uma unidade do governo por intimidação ou coerção”. Mas não faz mal que as companhias de seguros com fins lucrativos nos matem em nome do lucro e subornem o nosso governo para impedir a mudança do sistema”, aponta uma publicação no X, com mais de 27 mil likes.

Outros preferem lembrar os suspeitos dos inúmeros tiroteios em massa que assolam os Estados Unidos todos os anos e que nunca foram acusados de terrorismo, assim como os apoiantes de Trump que invadiram o Capitólio.

“Se o Luigi tivesse atirado sobre alguém que não fosse um CEO, o Governo não lhe chamaria terrorismo”, refere outra publicação.

A acusação de terrorismo pode também ser vista como uma forma de tentar silenciar o apoio que o jovem tem recebido, com os seus defensores a serem agora vistos como simpatizantes de um terrorista.

O caso de Briana Boston também está a ser mencionado como um exemplo das tentativas de reprimir a raiva da população contra o sistema de saúde e atacar a liberdade de expressão.

A mulher de 42 anos foi presa após repetir as palavras “delay, deny, depose” — as mesmas palavras inscritas nas balas usadas para matar o Brian Thompson — numa chamada com a sua seguradora quando teve o seu pedido recusado. “Vocês serão os próximos”, terá dito ainda Briana, que arrisca agora uma pena de prisão de 15 anos.

“Acusar o Luigi de terrorismo faz parte de um plano maior para infiltrar os círculos onde as pessoas não expressaram empatia nenhuma pelo CEO. Eles querem banir a mobilização contra as corporações sob o pretexto de “ameaças terroristas”. Estão a fazer de tudo para que se calem e aceitem os seus senhores corporativos e nunca questionem os gangsters capitalistas que lucram com a vossa miséria e morte”, apontou o comentador político Kyle Kulinski.

41% dos jovens consideram assassinato de CEO “aceitável”

Enquanto isto, o apoio a Mangione não dá sinais de abrandar. Uma sondagem do Emerson College concluiu que 68% dos inquiridos considera que ações do assassino contra o CEO foram inaceitáveis, enquanto que 17% as acham aceitáveis.

O grupo demográfico mais dividido são os jovens entre os 18 e 29 anos, com 41% a declarar o assassinato aceitável, contra 40% que o consideram inaceitável. Dos 41% de defensores, 17% descreve mesmo o ato como “completamente aceitável”.

Esta sondagem alinha-se com a onda de memes nas redes sociais em apoio a Luigi Mangione, incluindo canções em sua honra e comparações com o filme Joker, onde o famoso vilão de Batman se torna um herói popular após matar três investidores de Wall Street.

CEOs em pânico

O apoio a Mangione está a preocupar os executivos das companhias de seguros nos Estados Unidos. Com o receio de serem alvos de ataques semelhantes, as empresas retiraram as informações sobre os seus gestores de topo dos seus sites, cancelaram reuniões e aconselheram os executivos a apagarem a suas pegadas digitais.

“A América corporativa está nervosa. As pessoas estão em alerta máximo”, referiu Keith Wojcieszek, diretor mundial dos serviços de informação da Kroll, numa entrevista telefónica à CNN.

A Governadora de Nova Iorque, Kathy Hochul, até organizou uma reunião virtual com 175 executivos e as suas equipas de segurança para discutir como devem responder ao assassinato de Thompson. Um dos assuntos discutidos na reunião foi a criação de uma linha telefónica de apoio aos CEOs para poderem denunciar ameaças.

A revelação foi arrasada nas redes sociais, com os utilizadores a questionar porque é que os políticos não agem para resolver problemas que afetam a classe trabalhadora com a mesma prontidão mostrada às elites.

Muitos expressaram a sua indignação perante a ideia de o gabinete de Hochul utilizar o dinheiro dos contribuintes para proteger líderes empresariais ricos que podem contratar a sua própria segurança.

“Porque é que o dinheiro dos meus impostos iria para ajudar a proteger pessoas que são mais do que capazes de contratar segurança privada? Nova Iorque é tão estúpida!”, escreveu um utilizador no X.

“Espero que isto seja uma piada, porque o tratamento especial dado aos “CEOs” através do 112 deveria mostrar a todos quem está realmente a ser servido pela polícia”, comentou outro na plataforma.

“Parece que não me lembro deste tipo de resposta quando a taxa de homicídios aumentou em 2022”, publicou um utilizador.

Outros apontaram para preocupações sociais mais amplas. “Que tal uma linha direta para o caso de a sua companhia de seguros não pagar os seus medicamentos? Ou se as inundações relacionadas com o clima destruírem a sua casa?”, questionou outro utilizador.

Adriana Peixoto, ZAP //

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