Ex-líder do PSD descarta regresso à política e critica perda de “oportunidade de ouro” para reformas estruturais na altura de Costa e Marcelo. Sobre o Porto, garante: estava-se melhor há 11 anos.
Rui Rio reiterou a sua falta de interesse em voltar à vida política ativa, excluindo também uma eventual candidatura à Presidência da República em 2026, cenário que chegou a ponderar em 2015.
Durante um debate sobre a democracia no Porto, o ex-líder do PSD afirmou que o seu atual estado de espírito não lhe dá “grande vontade” a ocupar cargos políticos.“Não podem ficar zangados comigo por isso. Já dei muitos anos à política”, diz ao DN.
“O meu estado de espírito neste momento, e no que prevejo para o futuro próximo, é não ter grande vontade de voltar a ocupar qualquer cargo político. O mundo dá muitas voltas, mas, sinceramente, é esse o meu estado de espírito”, afirmou o antigo presidente da Câmara Municipal do Porto.
Cauteloso ao abordar questões internas do PSD, como a estratégia de Luís Montenegro para as próximas presidenciais, considerou “normal” a possível candidatura de uma figura militar como o almirante Gouveia e Melo, ao mais alto cargo do Estado.
“A oportunidade de ouro que se perdeu”
Rio voltou também a lamentar a falta de reformas estruturais no país, com destaque para a Justiça, tema central das suas propostas enquanto líder da oposição.
O ex-líder social-democrata considera que o período em que liderou o PSD foi uma “oportunidade de ouro” para realizar mudanças profundas, dadas as condições políticas favoráveis: uma maioria absoluta do PS e a sua disponibilidade para colaborar. Mas acusou o então primeiro-ministro, António Costa, e o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, de não aproveitarem essa janela de oportunidade.
“Hoje continuamos a perder oportunidade, porque ela já devia ter sido feita ontem, mas não com o mesmo valor da oportunidade que perdemos há 4, 5 ou 6 anos. Nessa altura, o PS tinha uma maioria absoluta e eu, enquanto líder da oposição, estava disponível para, juntamente com o Governo e com o Presidente da República, fazer as reformas de que o país necessita, a começar, desde logo, com o que mais falamos, que é a Justiça
“Essa foi a oportunidade de ouro que se perdeu, porque tínhamos um líder de oposição disponível, o que é dificílimo de conseguir para as reformas. Os governos normalmente querem fazer reformas e o Presidente da República também normalmente quer que se façam, o líder de oposição é que tradicionalmente não está para os ajustes, porque corre o risco de ser diminuído, digamos assim, no seu desempenho da oposição”, disse Rui Rio.
“Nessa altura eu estava disponível, quem não esteve foram o Presidente da República e o Primeiro-Ministro”, sublinhou: e agora, “o contexto é diferente”.
“O contexto é diferente. Não só o líder de oposição não tem a disponibilidade que eu tinha como, digamos, que há um líder de oposição e um segundo líder de oposição. A oposição está mais fragmentada do que estava. Portanto, é mais difícil”, acredita.
Sobre o Porto, que viu recentemente Rui Moreira dizer adeus à Câmara Municipal, Rio mostrou desagrado: admite não se sentir mais satisfeito como portuense agora do que há 11 anos, quando deixou a liderança da autarquia, sublinhando que há aspetos que observa “com descontentamento”.
Eu não fico zangado, antes pelo contrario.