Prémio salarial associado à licenciatura está a esbater-se há 18 anos e a queda é “especialmente notória nos salários à entrada no mercado de trabalho”. Ciências exatas, saúde e engenharia tendem a ter prémios salariais maiores.
O prémio salarial médio de um trabalhador com o ensino secundário e com o ensino superior atingiu o seu pico em 2006 e em 1996, respetivamente, e tem vindo a reduzir-se desde então.
A conclusão consta de uma nota de análise do PlanAPP divulgada esta terça-feira, que se centra na evolução dos salários por nível de ensino em Portugal, tendo em vista comparar trabalhadores com diferentes níveis de ensino e revelando o diferencial salarial que é estatisticamente atribuível às diferenças de educação entre trabalhadores, indicador designado por prémio salarial da educação.
Os dados demonstram uma associação positiva entre o nível de escolaridade e os salários recebidos, como era expectável.
No entanto, “considerando as estimativas de prémios salariais por nível de ensino adicional, observa-se, desde há quase duas décadas, uma redução dos prémios salariais médios associados ao ensino secundário e à licenciatura“, conclui o PlanAPP, notando ainda que “mais recentemente, comportamento foi acompanhado pelo aumento dos prémios associados ao ensino pós-secundário não superior (cursos profissionalizantes) e ao mestrado”.
Segundo esta análise, no início da década de 90, o salário de um trabalhador com ensino secundário era, em média, 17% superior ao que seria de esperar caso este tivesse apenas o 9º ano de escolaridade. Este diferencial atingiu o seu pico em 2006, isto é, há quase duas décadas, período “em que chegou a perto de 27%, tendo diminuído para níveis inferiores aos de 1990” em 2021, quando atingiu cerca de 15%.
Já no que toca aos trabalhadores com ensino superior, o pico do prémio salarial “ter-se-á dado mais cedo, em 1996”, atingindo os 54%, face aos trabalhadores com apenas o ensino secundário. “Desde então, o prémio tem vindo a reduzir-se a um ritmo aproximadamente constante, chegando, em 2021, a níveis perto dos 42%”, consta o PlanAPP.
Numa análise baseada nos níveis de ensino entre 2010 e 2021, o PlanAPP conclui que “a queda do prémio salarial do ensino superior tem sido comandada apenas pela licenciatura, dado que os prémios de mestrado e de doutoramento têm aumentado (embora não exista evidência estatística clara para esse aumento, no último caso, dada a dimensão dos intervalos de confiança”, sublinham.
Deste modo, se no início da década de 2010, “a licenciatura oferecia um prémio salarial na ordem dos 47% face ao ensino secundário”, em 2021 essa fasquia caía para 40%.
Já no que toca à “tendência de subida do prémio salarial no ensino pós-secundário não superior” e face aos trabalhadores com o ensino secundário entre 2010 e 2021, esta foi somente impulsionada pelo prémio salarial dos homens.
O PlanAPP recorreu ainda a uma metodologia para evidenciar a heterogeneidade entre trabalhadores individuais no que toca os prémios auferidos em cada nível de ensino, tendo verificado que, entre 2010 e 2021, os trabalhadores com ensino secundário e com licenciatura que ganham prémios mais baixos aumentaram o seu peso relativo no conjunto dos trabalhadores com o mesmo nível de ensino, muito embora os prémios muito altos não tenham desaparecido.
“Como consequência, estes níveis de ensino tornaram-se mais desiguais em termos do prémio salarial que lhes está associado (ainda que apenas ligeiramente no caso da licenciatura)”, alertam.
E, segundo o PlanAPP, a “diminuição dos prémios salariais da educação é especialmente notória nos salários à entrada no mercado de trabalho”.
“Dá-se também conta da importância de ramos de atividade específicos (mais intensivos em conhecimento e tecnologia) para a formação das gamas de prémios salariais mais elevados, a par de uma disparidade relevante entre diferentes ramos dos serviços e da indústria.
Existem também disparidades significativas nos prémios salariais associados a diferentes áreas de estudos. Áreas como as tecnologias da informação e comunicação (TIC), ciências exatas e da saúde e engenharia tendem a ter prémios salariais mais elevados. Merecem também destaque, sobretudo ao nível do mestrado, as ciências empresariais e direito”, constata o organismo.
A análise revela ainda que a composição do mercado de trabalho “mudou substancialmente nas últimas décadas”, com o nível de escolaridade dos cidadãos a aumentar: entre 1991 e 2021, a proporção de trabalhadores com ensino básico reduziu-se em quase metade (de 85% para 45% do total), enquanto a proporção de trabalhadores com ensino superior foi multiplicada por 10 (para perto de 25% do total).
E se olharmos especificamente para os trabalhadores com ensino superior, entre 2010 e 2021 verifica-se um “acréscimo relevante dos trabalhadores com mestrado”, tendo passado de 5,7% do total para 22,1% nesse período.
// Lusa
Continuem a formar licenciados e vão ver que a procura e oferta ainda vai tornar eles a ganhar menos que um Zé canalizador com o 9 ano.