Os barulhos da cidade estão fora de moda: por todo o mundo, escapa-se à poluição ruidosa através de isolamento arquitetónico, caminhadas na natureza ou meditação.
“Não creio que estejamos preparados para a quantidade de ruído que experimentamos ou para a sobre-estimulação”, diz a psicóloga norueguesa Olga Lehmann.
Lehmann conta à National Geographic que a exposição excessiva à poluição sonora, sobretudo a sons superiores a 85 decibéis — o nível a que costumamos encontrar restaurante barulhento — pode provocar perda de audição, tensão arterial elevada, stress e insónias.
A prática de momentos silenciosos no dia a dia até já é moda no TikTok, uma das redes sociais mais utilizadas pelos jovens, que promove práticas como o “silent walking” (uma caminhada silenciosa). Segundo a Healthline, fazer um passeio sem headphones pode aliviar o stress do quotidiano.
“Pequenos momentos de silêncio na vida quotidiana podem ajudar-nos a regular o stress e a tornar-nos menos impulsivos”, diz também Lehmann. E começa a haver mesmo quem leve essa prática mais a sério, e procure retiros de alguns dias.
E estão mesmo a popularizar-se experiências que vão para além do plano auditivo: “mergulham os participantes na escuridão total e no quase isolamento durante vários dias, com o objetivo de se auto-descobrirem”, escreve a National Geographic. Lehmann diz que as “opções extenuantes” funcionam para alguns, “mas eu prefiro começar com pequenos desafios”.
A Euronews explica que estas “quiet vacations” (férias silenciosas) que estão a popularizar-se cada vez mais são custosas para alguns: “embora dois terços (66%) dos Millennials acreditem que estar ‘fora do escritório’ deve significar desligar-se completamente, uma percentagem semelhante (64%) considera um desafio desligar-se totalmente durante o seu tempo livre”, explica a investigadora Libby Rodney.
Mas as práticas também podem ser tão simples como sentar-se num parque, num museu ou numa biblioteca sem estar a olhar para o telemóvel durante 10 minutos, ou juntar-se a uma aula de meditação ou de ioga.
Mas, alerta Lehmann, independentemente da prática, tempo de silêncio não significa necessariamente reclusão. “Estamos numa pandemia de desconexão e solidão”, diz Lehmann. “É a isso que eu poderia chamar o lado negro do silêncio.”
Aliás, o silêncio pode mesmo ser uma prática coletiva: organizações como a americana Peace in the Wild planeiam atividades ao ar livre, como caminhadas meditativas em grupo.
No Booktok, ficou conhecido também o Silent Book Club (o “Clube do Livro Silencioso”), que consiste num grupo de leitura sem conversa: as pessoas juntam-se, leem cada uma o seu livro. “Chamamos-lhe a happy hour dos introvertidos”, diz Guinevere de la Mare, co-fundadora do grupo, que já marca presença em 50 países, inclusive em Portugal.
Tecnologias como os smartwatches já alertam os utilizadores para os níveis elevados de poluição sonora, que são uma realidade cada vez mais frequente, com metade da população mundial a viver em grandes cidades.
Mas há quem nos possa salvar, para além da arquitetura, que tem tido cada vez mais em atenção, nas grandes cidades, ao isolamento de paredes e janelas: a natureza pode ser a verdadeira solução.
Segundo a National Geographic, a vegetação pode desempenhar um papel importante. A plantação de filas de árvores em auto-estradas, por exemplo, reduz o ruído em até 12 decibéis. E as “paredes vivas”, como o exterior com 30 mil plantas de um edifício de escritórios em Dusseldorf, na Alemanha — é a maior fachada verde da Europa. Estas absorvem o ruído e minimizam o calor urbano.
Enquanto as grandes cidades tentam encontrar soluções viáveis, há sempre os escapes que todos podem praticar. É uma nova era, uma “contracultura” bem diferente, como alerta a National Geographic: é a “contracultura do silêncio”.