Barreiras de atitude, lentidão de processos e a ausência de criatividade em quem decide colidem com a vontade da pessoa com deficiência de aceder à Cultura no Porto.
A cultura no Porto não tem espaço nem convites para pessoas com deficiência. A denúncia é feita à Lusa por agente do teatro portuense.
A impreparação das salas de espetáculo para receber, por exemplo, mais do que duas ou três pessoas em cadeiras de rodas e a quase inexistência de Língua Gestual Portuguesa nesses locais, somam-se à falta de convites aos jovens atores com deficiência para integrar companhias de teatro.
Inês Carvalho, formadora e mediadora artística do Visões Úteis, projeto artístico sediado no Porto, apontou às barreiras físicas nas salas de espetáculo que não estão preparadas para receber “um grupo de pessoas em cadeira de rodas que queira ir ver um espetáculo”.
“Estamos a fazer um caminho, mas ainda não está, sequer, no que é razoável”, continuou Inês Carvalho.
Mónica Cunha, diretora artística do Campus Artístico da Associação do Porto de Paralisia Cerebral (APPC) defende que “o teatro não tem de estar nas associações, mas sim na comunidade” e que as pessoas com deficiência “têm de ir à comunidade”.
Assinalando, a propósito, que “não é fácil chegar às companhias de teatro”, apontou o dedo “à comunidade artística do Porto” que acusou de estar “cada vez mais elitista”.
Inês Carvalho retomou a palavra para afirmar, enquanto artista profissional, que “não consegue ver este grupo como amador” e que “tem qualidade profissional”.
“O caminho está a começar, mas tem muitas falhas pelo meio. Tenta-se abrir, mas depois não se abre verdadeiramente. Não se pensa em tudo, não se é flexível, não se é criativo”, disse, sobre o caminho por fazer nas companhias de teatro antes de sugerir a quem decide “conviver com as pessoas com deficiência e instituições” pois ficarão “deslumbradas com as possibilidades que existem e perceberão melhor como construir esse acesso”.
Mónica Cunha aproveitou o mote para frisar que “continua a faltar o convite para integrar um espetáculo de uma companhia de teatro (aos atores e atrizes com deficiência]”.
“Aqui são as barreiras atitudinais e não as físicas a bloquear a sociedade, num processo que é muito mais largo que a Cultura”, concluiu.
ZAP // Lusa