Contradições na morte de Odair. Afinal, polícias não foram ameaçados com arma branca

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João Relvas / Lusa

Protestos dos moradores do bairro do Zambujal após morte de Odair Moniz

A versão dos agentes envolvidos na morte de Odair Moniz contradizem o primeiro comunicado da polícia sobre os acontecimentos daquela madrugada. Por seu turno, a PSP mantém que não invadiu casa da família da vítima.

Lisboa continua a ferro e fogo depois da morte de Odair Moniz às mãos da polícia, esta segunda-feira.

várias versões e contradições sobre o que realmente aconteceu naquela madrugada.

Segundo o primeiro comunicado da PSP, tudo começou com a fuga de Odair depois de ver um carro da polícia, na Avenida da República, na Amadora.

De acordo com a RTP, o homem de 43 anos ter-se-á recusado a parar depois de, alegadamente, transpor um traço contínuo.

Ao ver aquele comportamento suspeito, a PSP começou a perseguição e conseguiu intercetar o suspeito, que entrou em despiste e abalroou outros carros, numa rua na Cova da Moura, também na Amadora.

Já fora do carro – de acordo com essa versão inicial da PSP – o suspeito terá resistido à detenção e tentado agredir os agentes com uma arma branca.

“Quando os polícias procediam à abordagem do suspeito, o mesmo terá resistido à detenção e tentado agredi-los com recurso a arma branca, tendo um dos polícias, esgotados outros meios e esforços, recorrido à arma de fogo e atingido o suspeito”, que acabou por morrer.

No entanto, a história contada pelos agentes daquela operação contraria essa primeira versão. De acordo com a CNN Portugal, os agentes da PSP admitiram que não foram ameaçados diretamente com uma arma branca por Odair.

Os agentes confirmaram que houve confrontos físicos, mas vítima nunca terá usado a faca, que foi encontrada mais tarde dentro de uma bolsa.

A única arma usada naquele episódio terá sido mesmo a pistola de um dos agentes – que admitiu ter feito três disparos, um para o ar e dois que atingiram a vítima.

A Visão divulgou, esta quarta-feira, um vídeo daquele momento, com Odair estendido no chão e dois polícias ao lado.

Os dois polícias – aparentemente jovens – parecem desorientados e vão-se orientando por indicações de moradores daquela rua.

“Vê se ele está acordado, amigo”, recomendou um morador.

“Está desmaiado, já chamámos a ambulância”, respondeu o polícia.

“Veja se [o tiro] foi mesmo na perna (…) Eu acho que foi na barriga”, voltou a apelar o mesmo morador. “Estava muito próximo”, acrescentou o morado.

No entanto, os polícias demoraram algum tempo a aproximar-se do corpo.

“Veja se foi na barriga”, insistiu um morador.

“Não, foi da cintura para baixo”, respondeu o polícia já agachado junto ao corpo.

“Mas na virilha é perigoso”, disse o morador.

“Eu sei, mas foi da cintura para baixo”, ripostou o polícia.

“Mas foi desnecessário, amigo”, disse o morador ao polícia.

Segundo a CNN, os tiros atingiram Odair na zona da axila e no abdómen.

O polícia que o baleou a vítima tem 20 anos e apenas um ano de serviço.

Casa de Odair invadida?

Outra das contradições deste caso é sobre a alegada entrada da polícia em casa de Odair Moniz, na terça-feira à noite, já depois da sua morte.

À RTP a irmã de Odair Moniz relata que a polícia entrou à força pela habituação, arrombando a porta e agredindo a família, que estava a fazer o luto.

“Uma sobrinha do meu cunhado levou uma cacetada na coxa (…) nós estávamos aqui no nosso luto, não fizemos nada. Eu acho que isto é uma pura injustiça, já mataram o meu irmão”, disse Ana Isabel.

Rapidamente começaram a circular vídeos na Internet do aparato. A Record TV captou o momento em que a polícia voltou ao prédio, depois da porta ter sido arrombada. “Vocês não são dignos para estar aqui, é lá fora”, disseram os moradores revoltados.

Exigindo, depois, à polícia que resolvessem o problema da porta, a polícia remeteu essa questão para “amanhã”: “Hoje à noite já não se consegue”. “Mas como é que vamos dormir com a porta rebentada?”, ripostou um morador.

De acordo com a advogada da Vida Justa, a polícia faltou ao respeito à família da vítima, por lhes dizer que “têm de fazer luto de forma civilizada”.

PSP insiste que não invadiu casa

Esta quarta-feira, a PSP voltou a negar que tenha entrado na casa de Odair Moniz: “Refutamos clara e perentoriamente (…), nunca houve entrada dentro de nenhuma residência forçada por parte da PSP”, disse o diretor nacional em substituição da PSP, Pedro Gouveia, em conferência de imprensa sobre os distúrbios na Área Metropolitana de Lisboa.

O superintendente avançou que “no prédio da pessoas que falceu havia um conjunto de pessoas aglomeradas à entrada e a polícia interveio para que entrassem dentro da habitação e que não se mantivessem no exterior tendo em conta a desordem generalizada que havia no local”.

“Entraram para dentro do átrio desse prédio, nunca entraram dentro de nenhuma residência”, precisou.

Questionado sobre os motivos de a PSP não ter avançado com esta explicação no comunicado divulgado na manhã desta quarta-feira, Pedro Gouveia afirmou que a polícia se “limitou a definir aquilo que aconteceu”.

Segundo apurou a CNN Portugal, Odair tem cadastro por tráfico de droga e crimes violentos, como assalto à mão armada, pelo qual esteve preso.

Miguel Esteves, ZAP //

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3 Comments

  1. Alguém precisa de se chegar a frente e dizer porque terem mentido no relatório e depois explicar o que levou o policia usar a arma…. No mínimo essa pessoa não deve estar num trabalho que permite usar arma em publico…. Depois rever a formação foi lhe dada para não haver repetição do erro que não se pode resolver.

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  2. No meio de tanta mentira, de tanto encobrimento, de tanta falta de dignidade e de coragem por parte dos responsáveis, pelo menos agora sabe-se a verdade… A justiça, essa, vai ser a do costume!

  3. Um santo como todos os amigos sempre disseram, tráfico de droga, assalto á mão armada, cadastro e esteve preso antes. Isto o que se sabe pois em Portugal nem 10% dos actos criminosos chegam a ser do conhecimento da polícia ou chegam a julgamento. Seria a pessoa certa para se envolver numa luta corpo a corpo com dois jovens policias com uma arma na cintura que poderia ser alcançada facilmente pelo bandido e matado um dos policias

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