Nunca, como agora, os efeitos da poluição sobre o planeta foram tão nefastos e efetivos. Vários estudos demonstram que se verificam alterações no meio ambiente que poderão levar à perda do nosso património natural e cultural.
Segundo um alerta lançado pelas Nações Unidas, “as alterações climáticas estão a pôr em risco um terço dos locais considerados património natural da humanidade e um sexto do património cultural mundial”.
Uma questão que preocupa, sobretudo naquilo que para mim me é mais relevante: a preservação do Património Cultural.
Como forma de alerta e protesto contra as alterações climáticas, vários grupos ativistas antecipam-se e levam a cabo ações de destruição deste mesmo património. Impelidos por uma distorcida motivação altruísta, destroem património, mesmo antes que a própria natureza o possa fazer.
Assim foi em Stonehenge, no Museu Nacional de Oslo, na National Gallery de Londres ou nas Portas de Brandemburgo, em Berlim, para citar apenas alguns exemplos.
Também em Portugal, este tipo de protesto tem aumentado. Depois da tinta vermelha sobre o quadro de Pablo Picasso no Museu Berardo em 2023, foi a vez do Castelo de São Jorge, em Lisboa: no passado mês de setembro, um movimento ativista pelo clima pintou a fachada do Castelo com tinta vermelha, justificando o ato em comunicado, com a seguinte questão: “de que servem monumentos históricos, se permitirmos que a humanidade passe à história?”
No mesmo comunicado é referido que será simples e rápido o processo de restauro, o que não é verdade.
Não comentando para já a validade moral do ato, sabemos que, do ponto de vista técnico, a remoção efetiva de qualquer material estranho a uma obra, irá provocar danos, os quais serão, em última análise, irreversíveis.
Para termos uma ideia, é comum referir que uma ação de limpeza de um monumento equivale à passagem de um inverno. Ou seja, por cada limpeza realizada num monumento, retiramos-lhe um ano de vida.
Se juntarmos a esta questão o próprio custo da intervenção, percebemos o peso que este tipo de ação tem na sociedade e, sobretudo, na preservação dos nossos monumentos.
Poderemos, pois, afirmar que as alterações climáticas estão a destruir o Castelo de São Jorge? Na verdade, estão a ser mais nefastos os efeitos do vandalismo do que os efeitos da poluição.
Os grupos ativistas terão certamente — nos tribunais, sejam eles nacionais ou internacionais — outras formas de suster e julgar as ações nefastas dos governos e das grandes empresas contra o nosso planeta.
Em Portugal, a nossa legislação prevê o crime de “Dano Qualificado” para quem destrói, danifica ou desfigura, no todo ou em parte, o Património Cultural classificado e os Monumentos Públicos, sendo um crime punível com pena de prisão até 8 anos.
Esperamos que sejam tomadas as decisões que possam, pelo menos, desencorajar este tipo de protesto. Vandalizar um Monumento Nacional, como o Castelo de São Jorge, não poderá ser equiparado a um qualquer corte de via, na Avenida de Berna ou na 2ª circular.
Registe-se, que já neste mês de setembro, as duas ativistas da National Gallery foram condenadas a penas de prisão efetiva: dois anos e 20 meses, respetivamente.
Todos temos direito de reivindicar e defender os nossos ideais. O meu propósito, por exemplo, é a defesa do Património Cultural. Terei, por isso, direito a levar a cabo ações contra o Património Natural? Poderei alertar para os efeitos das alterações climáticas sobre o Património Cultural, despejando óleo no Rio Tejo, por exemplo?
Felizmente, não. O objetivo até seria válido, mas afortunadamente a nossa sociedade não vive na desordem e os ideais pessoais não se poderão sobrepor à vivência comum.
Efetivamente, o Homem tem sido o principal fator de destruição do nosso Património Cultural: desde finais do século XIX que combatemos o enegrecimento dos nossos monumentos, provocado pela contaminação atmosférica; as chuvas ácidas corroem os materiais e trazem consequências irreversíveis; o vandalismo faz parte da vivência nas nossas cidades.
Todos estes são fatores estudados e apresentados como paradigmas, sob o ponto de vista académico. E, no fundo, quando falamos de poluição ou vandalismo, tudo se resume a uma questão de ignorância ou egoísmo.
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