A Coreia do Norte “é só garganta”?

Abdalla All Omari / Facebook

Caricatura de Kim Jong-un, líder da Coreia do Norte

Explosão de estradas, tiros na fronteira, balões com estrume… vem mesmo “um desastre horrível” daí ou é tudo espetáculo?

A picardia vem desde a separação de 1953, mas esta semana arrancou com aquilo que pareceu ser uma escalada da tensão entre as duas Coreias.

Depois de ter acusado a vizinha de baixo de sobrevoar a sua capital com drones, a Coreia do Norte destruiu as estradas e caminhos de ferro que ligavam o país ao Sul.

A própria irmã do líder norte-coreano Kim Jong-un, Kim Yo Jong, previu o pior: vem aíum desastre horrível“, alertou.

Após a resposta a tiro de Seul, Pyongyang definiu oficialmente esta quinta-feira a Coreia do Sul como “Estado hostil” na sua Constituição, o que de certa forma garante que o líder norte-coreano Kim Jong-un já não ambiciona a reunificação, como ambicionava até há uns meses atrás.

E há outro sinal que mostra o afastamento entre Norte e Sul: o comércio entre as duas nações caiu ao ponto de ser hoje para praticamente inexistente — comparativamente a 2015, ano em que circularam 2,7 mil milhões de dólares entre as Coreias, segundo a Bloomberg.

Já tínhamos visto algo parecido acontecer há uns meses. Raros tiros foram disparados em pelo menos quatro ocasiões em julho, depois de uma guerra com balões de estrume e de as tropas norte-coreanas terem violado a fronteira.

Mas, apesar de todas as ameaças e avisos, ainda não assistimos a uma escalada de violência significativa. Na verdade, estes atos não passam de ações simbólicas por parte da nação liderada por Kim Jong-un, acreditam alguns especialistas.

“A maior parte das estradas inter-coreanas estão fechadas desde 1953”, explica Jim Hoare, historiador e antigo diplomata britânico na Coreia do Norte, ao Business Insider: “É, de facto, mais um gesto simbólico que na realidade não faz qualquer diferença em relação à situação no terreno.”

É espetáculo — para os de dentro e, especialmente, para os de fora: faz tudo “parte da estratégia de brinkmanship [provocação] da Coreia do Norte”, diz Edward Howell, da Fundação Coreia na Chatham House, ao mesmo website: “[a Coreia do Norte] quer testar e ver se os EUA lhe fazem concessões”, sublinha.

O cenário de guerra inter-coreana provavelmente não agrada ao lado de Kim Jong-un, por duas razões.

Além de uma invasão ao Sul representar um esforço financeiro considerável — segundo a Bloomberg Economics, poderia custar à economia mundial 4 biliões de dólares só no primeiro ano, o que se traduz em 3,9% do PIB da Coreia do Norte — a recente destruição das estradas que ligam ao Sul mostra que Kim não planeia invadir o país vizinho.

“Se eu estivesse a planear uma invasão, não faria explodir as rotas para o sul”, conclui Hoare.

Tomás Guimarães, ZAP //

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