O “narcoterrorismo” tomou conta da segunda maior cidade de França, Marselha, onde grupos criminosos rivais lutam pelo controle do tráfico de droga com uma “selvajaria sem precedentes”. E teme-se o contágio a outras cidades francesas.
Só neste ano já foram contabilizados 17 “narcomicídios” (homicídios relacionados com o tráfico de droga) em Marselha.
Os casos mais recentes são especialmente chocantes porque envolvem dois adolescentes, de 14 e 15 anos, que foram contratados por grupos criminosos para actos de vingança contra gangues rivais.
Um dos jovens, de 15 anos, acabou por receber 50 facadas e morreu queimado vivo depois de ter sido recrutado por um membro detido do grupo “Máfia DZ” para intimidar um rival do “clã dos Negros”.
Terá sido contratado por apenas 2 mil euros nas redes sociais, segundo revelam os media franceses.
Poucos dias depois da morte deste adolescente, o mesmo detido do “Máfia DZ” recrutou um jovem de 14 anos para se vingar e assassinar um membro do “clã dos Negros” . Também terá sido recrutado pelas redes sociais a troco de 50 mil euros.
Este segundo jovem acabou por ser detido antes de cometer o homicídio vingativo, mas depois de ter assassinado um taxista da plataforma TVDE Bolt, um pai de família de 36 anos, que o transportou para o local onde ia fazer o “serviço”.
O adolescente deslocou-se no táxi da vítima e pediu-lhe para esperar por ele. Como o taxista se recusou, o jovem deu-lhe um tiro na nuca e fugiu. Acabou por ser o detido que o contratou a denunciar à polícia onde se encontrava.
Já foi colocado num centro educativo fechado fora de Marselha porque, como é menor de 16 anos, não pode ser detido.
O adolescente já era conhecido dos tribunais como um pequeno traficante de droga, e estava colocado nos serviços sociais desde os 9 anos de idade. A imprensa francesa diz que vivia sozinho porque os pais estão ambos detidos por tráfico de droga.
Mas o que se passa em Marselha?
A segunda maior cidade de França vive mergulhada num ambiente de “narcoterrorismo” com gangues, clãs e máfias a usarem armamento pesado e assassinatos com extrema violência em ajustes de contas e lutas pelo controle do lucrativo negócio das drogas.
Há torturas, mutilações e execuções públicas que envolvem elementos dos próprios grupos quando são castigados. O procurador do Ministério Público Nicolas Bessone fala de uma “selvajaria sem precedentes”.
Actualmente, o tráfico de droga em Marselha é controlado pelo grupo criminoso “Máfia DZ” que também lidera uma rede de distribuição entre França e Espanha, como avança a rádio RMC.
Este grupo surgiu no início de 2010, mas já causou muito derramamento de sangue em Marselha, depois de ter sucedido ao “Clã Yoda” (nome inspirado na personagem da saga “Star Wars”) no controle do negócio.
A detenção do líder deste clã, Felix Bingui, em 2023, travou uma onda de confrontos e ajustes de contas na luta pelo domínio do negócio.
Actualmente, a “Máfia DZ” terá, sobretudo, conflitos com o chamado “clã dos Negros” que está localizado numa zona específica da cidade conhecida como Félix-Pyat. Este último é um gangue conhecido que “acordou” depois de ter tido vários líderes presos.
Em 2023, a “Máfia DZ” e o “Clã Yoda” foram responsáveis pela maioria dos homicídios que ocorreram em Marselha, segundo dados do procurador Nicolas Bessone citados pela France 3.
“85% das mortes cometidas a partir da prisão”
Nos últimos anos, têm sido detidos vários líderes destes grupos, mas isso acaba por não ter o efeito desejado. É que muitos continuam a controlar o negócio da droga a partir das prisões, com recurso a telemóveis que entram ilegalmente.
“85% das mortes que ocorreram em Marselha, em 2023, foram cometidas a partir da prisão”, refere à RTL o jornalista Jean-Michel Decugis que publicou o livro “Assassinos a soldo: investigação sobre o novo fenómeno dos atiradores”.
O tráfico de droga também é cada vez mais internacional e, muitas vezes, os verdadeiros chefes destes grupos estão no estrangeiro, beneficiando de grande conforto financeiro graças a empresas de lavagem de dinheiro.
Aos 9 anos tornam-se “vigias”, aos 14 já matam
Outro fenómeno preocupante é que assassinos e vítimas são cada vez mais jovens. Muitos tornam-se “vigias” logo aos 9 anos de idade, e aos 14 anos já matam por dinheiro.
Noutros tempos, os jovens tinham que passar por vários patamares dentro de um grupo criminoso, começando por crimes menores até terem a “oportunidade” de cometerem um homicídio.
Actualmente, “encontram-se da noite para o dia com armas de guerra nas mãos”, sublinha o senador Etienne Blanc, eleito pelo partido “Os Republicanos” e relator da Comissão Parlamentar de Inquérito ao tráfico de droga que foi concluída no início do ano.
“50% dos autores de crimes ligados ao narcotráfico têm entre 16 e 21 anos“, refere Blanc em declarações ao jornal Public Senat, frisando que “estamos a assistir a um rejuvenescimento significativo à frente das redes de tráfico de droga”.
Estes jovens sem qualquer treino ou experiência com armas, acabam por improvisar, inspirados pelo que vêem nos filmes, e as vítimas colaterais tornam-se inevitáveis.
O “sonho Kalashnikov”
O recrutamento de menores tem a ver, em parte, com o facto de não poderem ser responsabilizados criminalmente devido à idade. Muitos deles são alvos fáceis com a promessa de dinheiro rápido por viverem em ambientes familiares desestruturados, sem sequer frequentarem a escola.
Alguns nem vivem com a família, estando debaixo da tutela dos serviços de proteção de crianças e jovens – o que é também um sinal do falhanço do sistema.
Mas não é apenas o dinheiro que os motiva. Está também em causa uma “procura de reconhecimento” e de “identidade”, como nota o jornalista Jean-Michel Decugis à RTL.
São apanhados pelos grupos criminosos “em mecanismos semelhantes aos de uma seita ou aos do jihadismo“, e a violência torna-se “um meio de autoestima e de afirmação”.
Muitos jovens perseguem o “sonho Kalashnikov, o sonho do dinheiro fácil através da droga, que não existe”, acrescenta o jornalista Philippe Pujol que escreveu vários livros sobre o tráfico de droga em Marselha, também em declarações à RTL.
Pode França tornar-se um “narco-Estado”?
Em Março passado, na apresentação dos resultados da Comissão Parlamentar de Inquérito ao tráfico de droga, revelou-se que em 2023, houve uma explosão no número de assassinatos cometidos por gangues organizados, verificando-se um “aumento de 50%” em relação a 2022, conforme citou o Le Figaro na altura.
O presidente do tribunal judicial de Marselha, Olivier Leurent, considerou, então, que é “essencial a implementação de um plano Marshall contra o tráfico de droga” em Marselha.
“O nosso Estado de Direito está em causa“, alertou citado pelo Public Senat.
Leurent também sublinhou que o Estado está “a travar uma guerra assimétrica“, encontrando-se numa “situação vulnerável face aos traficantes de droga que dispõem de uma força de ataque considerável com meios financeiros, humanos, tecnológicos e até legislativos”.
“O risco a curto prazo é ver o Estado de direito desintegrar-se“, alertou também.
O Le Figaro referia que Marselha é apenas “o epicentro de um fenómeno nacional”, salientando que o “know-how” dos traficantes está a ser exportado para outras cidades francesas. Há receios de França se torne num “narco-Estado”.
“O que está a acontecer em Marselha, é uma ilustração do colapso da nossa democracia face à negação da realidade”, analisa também o senador Etienne Blanc.
A Europa na sua totalidade , está cada Dia que passa a ser un Alvo de Actos Terroristas nas suas diversas formas . O coração da U.E é o que mais enfrenta os malefícios desta escoria da Sociedade . Neste pequeno retângulo chamado Portugal , também já se sente o perigo iminente desta criminalidade organizada . Só com repressão pura e dura , é que “talvez” se possa conter este “Cancro” que mina a nossa Sociedade e proteja as Pessoas de Bem !