O (outro) 5 de Outubro português ignorado pelos portugueses

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Basilio / Wikimedia

Mapa do Condado Portucalense (1070)

Todos nós assinalamos a Implantação da República (é por isso que é feriado). E o 5 de Outubro que (quase) fundou Portugal?

Este sábado é dia 5 de Outubro. “É feriado!”, reagem logo os portugueses.

Muitos nem saberão porque é feriado, mas quem sabe tem noção do que aconteceu naquela quinta-feira, 5 de Outubro de 1910.

Foi nesse dia que a monarquia caiu. A república passou a vigorar em Portugal, num movimento que na verdade começou na madrugada anterior, de dia 4, quando militares e civis republicanos se revoltaram contra o regime anterior.

O Rei D. Manuel II deixou de ser rei quando, às 9h da manhã de 5 de Outubro de 1910, foi proclamada a implantação da república, em Lisboa. José Relvas foi o autor desse anúncio histórico. Teófilo Braga liderou o primeiro governo provisório, Manuel de Arriaga viria a ser o primeiro Presidente da República.

E o outro?

Mas há outro evento muito importante que também aconteceu no dia 5 de Outubro: o nascimento de Portugal. Ou quase.

Em 1143 foi realizada uma cimeira em Zamora, Espanha, onde esteve Afonso Henriques e Afonso VII, rei da Galiza, Castela e Leão (eram primos).

Afonso Henriques intitulava-se “rei” do Condado Portucalense – actual Norte e Centro de Portugal, sensivelmente – e andava a alargar o seu território, com incursões militares na Galiza, lembra a RTP.

Estava próxima uma guerra interna na Península Ibérica. Mas apareceu o representante do Papa, o cardeal Guido de Vico, que conseguiu que os dois lados assinassem o Tratado de Zamora.

Essa reunião em Zamora aconteceu nos dias 4 e 5 de Outubro de 1143. O acordo foi assinado no dia 5 de Outubro de 1143 – foi nesse dia que D. Afonso Henriques passou a ser rei.

Foi nesse dia que Portugal nasceu.

Foi? Um país independente nasceu naquele dia? Mais ou menos. D. Afonso Henriques passou mesmo a ser “rei”, mas isso não é sinónimo de independência; o título poderia ser revertido, anulado.

Mas Afonso Henriques não era só um grande líder militar; também se sabia mexer muito bem a nível diplomático.

Naquele dia 5 de Outubro reconheceu ser vassalo do primo Afonso VII. E, pouco depois, declarou-se vassalo do Papa – queria que a Igreja reconhecesse a independência de Portugal.

Isso só aconteceu quase 40 anos depois, mais concretamente no dia 23 de Maio de 1179, com a Bula pontifícia Manifestis Probatum assinada pelo Papa Alexandre III. Esse documento declarou o Condado Portucalense independente do Reino de Leão, e D. Afonso Henriques passou a ser oficialmente o seu rei.

Foi nesse dia que o Papa reconheceu o que tinha sido assinado no dia 5 de Outubro de 1143. Era oficial: havia um novo país.

Nuno Teixeira da Silva, ZAP //

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5 Comments

  1. Só é pena que isto seja mentira. E todos os anos há textos a propalar a mentira. Vamos por partes.
    1. A conferência de Zamora pode ter sido no início de outubro de 1143. Como pode ter sido em setembro. A datação incerta justifica-se pelo facto de não ter sido produzido nenhum documento.
    2. Não há tratado. É que não foi mesmo produzido nenhum documento. Não é só que não se conserve: não foi produzido. O tratado de Zamora é uma invenção, como vários historiadores têm demonstrado ao longo dos anos.
    3. Mesmo que tivesse havido uma conferência nesta data e que tivesse sido produzido um tratado a reconhecer Afonso Henriques como rei, tudo isso seria irrelevante. Afonso VII de Leão e Castela era imperator totus Hispaniae (imperador de toda a Hispânia), e nos laços vassálicos, um rei (rex) devia sempre fidelidade ao imperador (imperator), ou seja, não era independente.

  2. É mentira a fundação de Portugal ocorreu em 1128. Na data que dizem, o rei de terras que vieram a ser Espanha, reconheceu a inevitábilidade do reino português.

  3. A independência/fundação é um processo que decorre durante a maior parte do reinado de D.Afonso Henriques … terminando com a bula “Manifestis probatum” em 1179.

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