Deixar as portas abertas está nos mandamentos do “reino dos gatos”. A culpa é da curiosidade (que tanto pode matar um gato, como um bracarense).
Os gatos não gostam de portas fechadas. Em Portugal, também conhecemos alguém assim…
Diz-se, quando alguém deixa a porta aberta, que “deve ser de Braga”.
Reza a lenda que esta expressão começou no século XVI, quando foi construída o Arco da Porta Nova, no coração de Braga.
Como na altura já não havia guerras e a cidade se estendia para lá das muralhas, não era preciso nenhuma porta.
Braga terá sido pioneira neste sistema de “portas da cidade abertas”, no Reino de Portugal. Segundo esta teoria, a partir daí e até hoje, os bracarenses terão ficado conhecidos como aqueles que não fecham as portas.
Tal como “os de Braga”, mas noutro “reino”, os gatos também não querem as portas fechadas. Quando tal não acontece, os felinos exibem comportamentos agressivos como bater nas portas; enfiar as patas por baixo da porta; ou miar de forma sobressaltada.
“Curioso” em saber porquê?
A comportamentalista veterinária Karen Sueda explicou à Live Science que esta reação é motivada tanto por fatores evolutivos como pela influência dos donos.
Os gatos são animais naturalmente curiosos e temem perder algo importante, explicou a especialista. O medo de ficar de fora leva-os a querer explorar o que se encontra do outro lado da porta.
Na natureza, essa curiosidade e vigilância são essenciais para a sobrevivência, permitindo-lhes manter o controlo sobre o seu território.
Ingrid Johnson, outra especialista em comportamentos felinos, explica que os gatos têm uma necessidade inata de controlar o acesso ao seu espaço e às suas necessidades básicas, o que é crucial para a sua segurança.
“Os gatos gostam de controlar o acesso aos espaços e às necessidades básicas vitais e ao território. Isso não os torna maus. Não faz deles outra coisa senão uma espécie que é tanto predadora como presa que tem de caçar para sobreviver, mas também tem de se sentir segura e protegida no seu ambiente”, elucidou.
Os terríveis três C’s (não confundir com P’s)
Jane Ehrlich, outra comportamentalista do reino animal, explica, à Live Science, como uma porta fechada interfere com “os terríveis três C’s terríveis” que os gatos odeiam: falta de escolha (choice), falta de controlo (control) e mudanças (changes).
“Os gatos detestam não ter escolha, detestam não ter controlo e detestam mudanças. Embora os gatos não queiram necessariamente estar envolvidos no que quer que esteja a acontecer atrás da porta, querem ter a certeza do que está a acontecer”, disse a especialista.
Jane Ehrlich sublinhou que os gatos não compreendem que uma porta fechada é apenas temporária, o que pode aumentar o seu stress: “Apenas sabem que o local a que tinham acesso anteriormente – onde se sentem seguros – é agora subitamente retirado. Quando os policiamos, criamos-lhes stress“.
Aqui, mais uma vez, constatamos ligeiras semelhanças entre os gatos e os bracarenses. Tal como os felinos têm os “terríveis três C’s”, também se diz que Braga é a cidade dos “três P’s”… mas isso é melhor deixar para outro artigo.