Nova consequência da guerra: ter de aturar o marido

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Com uma das taxas de divórcio mais elevadas do mundo, a Rússia vai torná-lo mais difícil. Será mesmo para financiar a guerra? Ou é a nova forma de Putin segurar as famílias perante uma crise demográfica?

Para suportar os elevados custos da guerra, a Rússia está a tornar o divórcio — e não só — cada vez mais difícil para os seus cidadãos.

O Kremlin tem planos para tornar a separação oficial dos casais muito mais cara, num aumento que também se vai refletir nas mudanças de nome e queixas de negócios, avançou a Bloomberg no passado dia 28, citando órgãos de informação locais.

Para ajudar a pagar a invasão da Ucrânia, as taxas a pagar pelo divórcio — num dos países em que se registam mais divórcios no mundo, com 683 700 registos em 2023 — deverão disparar dos 650 para cinco mil rublos (cerca de 52 euros), quase oito vezes mais.

A proposta do Ministério das Finanças de Moscovo prevê assim que o divórcio custe cerca de um quarto do salário mínimo mensal do país. Mas não é só no divórcio que se vão ver aumentos.

As taxas de mudança de nome em documentos oficiais irão triplicar e as taxas aplicadas na apresentação de queixas de empresas junto do gabinete antitrust do país também não ficam atrás, segundo a agência norte-americana.

Disfarce demográfico

A proposta é sustentada pela ideia de que ajudaria a angariar mais fundos para a guerra, numa fase em que o Ocidente volta a ajudar em força a Ucrânia.

Os EUA anunciaram no mês passado a sua intenção de cortar mais linhas de vida financeiras da Rússia, com um novo pacote de sanções que visa praticamente todas as entidades estrangeiras que ainda mantêm laços com Moscovo. O cancelamento faz-se notar nos cofres de Putin: desde o fim de 2022 que o Kremlin regista um défice orçamental.

No entanto, a premissa orçamental parece ser um disfarce.

Putin tem apelado com alguma frequência à constituição de famílias maiores por parte dos russos, como resposta às baixas taxas de natalidade e ao declínio da população — em parte devido às baixas de guerra e à emigração por esta incentivada.

“Se quisermos sobreviver como grupo étnico — ou como grupos étnicos que habitam a Rússia — temos de ter pelo menos dois filhos“, disse Putin em fevereiro: “A norma deve passar a ser famílias numerosas”, sugeriu.

“Felizmente, muitos dos nossos grupos étnicos preservaram a tradição de ter famílias multigeracionais fortes com quatro, cinco ou até mais filhos. Lembremo-nos que as famílias russas, muitas das nossas avós e bisavós, tiveram sete, oito ou até mais filhos. Vamos preservar e reavivar estas excelentes tradições”, apelou.

Tomás Guimarães, ZAP //

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