Um novo estudo concluiu que os carros autónomos são, efetivamente, mais seguros do que os humanos em muitas situações — mas não em todas.
É compreensível que os veículos autónomos sejam sujeitos a normas de segurança incrivelmente elevadas, mas por vezes esquecemo-nos de que a verdadeira base de referência é a condução frequentemente perigosa dos seres humanos.
Agora, um novo estudo mostra que os carros autónomos estiveram envolvidos em menos acidentes do que os humanos — na maioria dos cenários.
Um dos principais argumentos a favor da transição para veículos autónomos, nota o Singularity Hub, é a perspetiva de eliminar o erro humano da condução.
Tendo em conta que mais de 40.000 pessoas morrem em acidentes de viação todos os anos nos EUA — e cerca de 420, em média, em Portugal, mesmo uma melhoria modesta da segurança poderia fazer uma enorme diferença.
No entanto, nos últimos anos, os automóveis autónomos têm estado envolvidos numa série de acidentes que suscitaram dúvidas sobre a sua segurança e levaram mesmo recentemente algumas empresas de maior dimensão, como a Cruise, a reduzir as suas ambições.
No novo estudo, os investigadores analisaram milhares de relatórios de acidentes que envolveram veículos autónomos e condutores humanos.
Os resultados do estudo, publicados a semana passada na revista Nature Communications, sugerem que, na maioria das situações, os veículos autónomos são mais seguros do que os humanos.
A equipa de investigadores da Universidade da Flórida Central centrou o seu estudo na Califórnia, onde está a decorrer a maior parte dos testes de veículos autónomos.
Recolheram 2100 relatórios de acidentes envolvendo veículos autónomos de bases de dados mantidas pela Administração Nacional de Segurança do Tráfego Rodoviário, pelo Departamento de Veículos Motorizados da Califórnia e por notícias de acidentes publicadas nos jornais.
Em seguida, compararam-nos com 35 000 relatórios de incidentes envolvendo condutores humanos compilados pela Patrulha Rodoviária da Califórnia. A equipa usou uma abordagem designada por “análise de caso-controlo combinado“, na qual tentaram encontrar pares de acidentes envolvendo humanos e automóveis autónomos que, de outra forma, tinham características muito semelhantes.
Desta forma, é possível controlar todas as outras variáveis que podem contribuir para um acidente e investigar o impacto do “condutor” na probabilidade de ocorrência de um acidente.
A equipa encontrou 548 correspondências deste tipo e, quando comparou os dois grupos, verificou que os automóveis autónomos eram mais seguros do que os condutores humanos na maioria dos cenários de acidente que analisou.
No entanto, há algumas ressalvas importantes.
Os investigadores descobriram também que os autónomos tinham cinco vezes mais probabilidades de se envolverem num acidente ao amanhecer ou ao anoitecer e quase duas vezes mais probabilidades ao fazer uma curva.
Segundo os autores do estudo, no primeiro caso a maior probabilidade deve-se provavelmente a limitações nos sensores de imagem — o que coloca em causa a ideia corrente de que os veículos autónomos conseguem “ver” melhor do que os humanos, principalmente em condições meteorológicas adversas.
Já no que diz respeito às surpreendentes dificuldades em fazer curvas, devem-se provavelmente à sua capacidade limitada de prever o comportamento dos outros condutores, explica J. Christian Gerdes, investigador da Universidade de Stanford, disse ao IEEE Spectrum.
Aparentemente, os veículos autónomos são espetaculares — a conduzir a direito.
No entanto, os veículos autónomos também tiveram alguns pontos positivos. A probabilidade de baterem por trás é de cerca de metade da dos humanos, e a de se envolverem numa colisão lateral era apenas 1/5.
Os investigadores também descobriram que a probabilidade de um veículo autónomo se despistar com chuva ou nevoeiro era cerca de 1/3 da probabilidade de um condutor humano, vantagem atribuída ao uso de sensores de radar — que são essencialmente imunes ao mau tempo.
A leitura destes resultados dá algumas respostas, mas também lança o debate.
Os autores do estudo admitem que existem poucos dados sobre acidentes com veículos autónomos, o que limita o âmbito das suas conclusões.
“Os relatórios de acidentes das empresas de condução autónoma são muitas vezes tendenciosos, procurando atribuir a culpa aos condutores humanos, mesmo quando os factos não o apoiam”, explica Missy Cummings, investigadora da Universidade George Mason, à New Scientist.
No entanto, o estudo é um primeiro passo importante para quantificar os potenciais benefícios da tecnologia de veículos autónomos em termos de segurança, e destaca algumas áreas importantes em que ainda são necessários progressos.
Só com uma análise clara dos números é que os decisores políticos podem tomar decisões sensatas sobre onde e quando esta tecnologia deve ser implementada.
Mas independentemente do horizonte temporal de que estejamos a falar, parece inevitável um futuro em que todos os veículos em circulação serão autónomos, “falarão” uns com os outros, com os semáforos e com as estradas, saberão tudo o que está à sua frente e à sua volta.
Nessa altura, haverá zero condutores humanos — e zero acidentes