A Comissão Europeia notificou esta quarta-feira as fabricantes de automóveis que vão ser aplicadas taxas adicionais de até 38,1% sobre os veículos elétricos chineses importados a partir do próximo mês — uma medida que irá provavelmente desencadear possíveis retaliações da China.
Menos de um mês depois de Washington ter quadruplicado as taxas de importação de VEs chineses, que atingem agora os 100% do valor do veículo, Bruxelas anunciou também esta quarta-feira novas taxas aduaneiras provisórias para estes veículos.
A medida surge após um inquérito aberto pela UE em outubro a auxílios diretos, benefícios fiscais, créditos à exportação e empréstimos concedidos por bancos estatais às construtoras chinesas de veículos automóveis, “causando assim prejuízo à indústria da União Europeia”.
Segundo a agência Reuters, a UE irá impor uma taxa adicional de 21% sobre a importação de veículos das empresas chinesas que colaboraram no inquérito, e de 38,1% no caso das que não colaboraram.
Os veículos da BYD, considerada a “Tesla chinesa” e lançada em Portugal em maio do ano passado, terão uma taxa de 17,4%. No nosso país, os carros elétricos da BYD são até 14% mais baratos do que os das marcas europeias e norte-americanas.
As novas tarifas, que entram em vigor a 4 de julho, somam-se à taxa de 10% já existente para a importação de veículos elétricos. Os produtores ocidentais, como a Tesla e BMW, que exportam carros da China para a Europa, foram considerados empresas colaboradoras.
A Comissão Europeia disse em outubro ter “provas suficientes de que as importações do produto objeto de inquérito originário da China beneficiaram de subvenções passíveis de medidas de compensação concedidas pelo Governo”, o que levou ao rápido crescimento das marcas chinesas no mercado europeu.
A investigação às “práticas de apoios ilegais à indústria automóvel chinesa” irão continuar até novembro, altura em que a UE irá aplicar taxas definitivas sobre estes veículos.
O Ministério do Comércio da China afirmou que iria acompanhar de perto o desenvolvimento e tomaria resolutamente todas as medidas necessárias para salvaguardar os direitos legítimos das empresas chinesas.
Em conferência de imprensa, Margaritis Schinas, vice-presidente do executivo liderado por Ursula Von Der Leyen, afirmou que o inquérito permitiu concluir que “os veículos fabricados na China estavam a beneficiar de subsídios injustos, ameaçando os produtores da UE”.
“Com base nisso, a Comissão entrou em contacto com as autoridades chinesas para discutir estas conclusões e explorar possíveis formas de resolver os problemas identificados”, acrescentou Schinas.
A medida surge numa altura em que as fabricantes europeias enfrentam desafios levantados pela entrada no mercado europeu de veículos elétricos de baixo custo de rivais chineses.
Há já 15 anos que a China está a apostar na produção de carros elétricos, levando um grande avanço sobre as marcas europeias e americanas.
Apesar de ainda terem pouca expressão no mercado nacional — representam apenas 2,6% dos 13 783 elétricos matriculados em Portugal em 2023 —, os carros elétricos chineses distinguem-se pelos preços competitivos.
De acordo com o Público, praticamente todos os 10 modelos chineses à venda em Portugal são mais baratos do que os concorrentes, quando se compara modelos de gamas equivalentes.
A média das diferenças de preços oscila entre os 10% e os 14%. No entanto, algumas marcas fazem grandes descontos, o que pode anular a vantagem de preço dos chineses.
A diferença chega até a ser de 34% (BYD Han versus Telsa Model S), mas também há casos em que um carro elétrico China é 1% mais caro do que o alemão (Aiways U6 versus Volkwagen ID.5, sendo o chinês maior e ligeiramente mais potente).
Esta diferença foi salientada em março pelo director-executivo da Renault, Luca de Meo, numa carta aos principais líderes (e cidadãos) europeus, onde afirma que “temos que dizer a verdade: um carro chinês é 7 mil euros mais barato“.
Segundo de Meo, a Europa foca-se em “regulamentar massivamente”, os EUA “estimulam”, a China “planeia”.
Em média, produzir um elétrico custa 40% mais do que um carro com motor térmico.
O principal fator para esta diferença é a bateria elétrica, que é precisamente o ramo em que a China tem uma vantagem em relação ao resto do mundo, já que as empresas chinesas controlam dois terços do mercado mundial de baterias.
Isto é uma politica de mau perdedor, recorrendo a protecionismo. Viva a livre concorrência, desde que não nos passem á frente. Se estes carros são melhores e mais baratos, o consumidor é que fica prejudicado com este tipo de sanções, na verdade, um tiro no pé, porque os chineses irão retribuir as dificuldades de importação de produtos europeus.
O caro Capeta tem vistas curtas… muito curtas, mas falta-me o tempo e paciência para lhe explicar os diversos porquês.
Leia. Procure informação e perceba.
Estamos a travar uma verdadeira guerra económica que terá efeitos potencialmente devastadores na UE a médio/longo prazo. Já nos chega a completa impreparação da UE para travar esta (ou qualquer outra) guerra. A última coisa que precisamos é de patetas alegres que digam «Se é mais barato, qual é o problema?»
Só peca por tardio.