Uma equipa de cientistas descobriu uma nova forma de tratar o cancro da mama que se espalha para o cérebro — conjugando a ação de dois medicamentos já anteriormente testados no combate ao cancro da mama.
O cancro da mama é uma doença na qual as células mamárias crescem e se multiplicam de forma descontrolada.
Ao contrário do que acontece nos tumores benignos, as células cancerosas podem invadir os tecidos vizinhos e espalhar-se para outras partes do corpo.
Num novo estudo, publicado em abril no Clinical and Translational Medicine, os investigadores descobriram que a autofagia, processo que ajuda as células cancerígenas a sobreviver, é mais ativa nas metástases cerebrais.
Bloquear este processo pode reduzir a propagação das células primárias do cancro da mama para o cérebro.
As metástases cerebrais são os tumores do sistema nervoso central mais comuns em adultos, afetando 20 a 30% dos doentes.
No decorrer do seu estudo, os investigadores procuraram atuar sobre a ATG7, uma proteína que ajuda a iniciar o processo de autofagia, e descobriram que a regulação da presença desta proteína reduziu as metástases cerebrais do cancro da mama em ratinhos.
A regulação e a função correta do gene ATG7 são vitais para a sobrevivência celular, protegendo as células contra várias doenças, incluindo cancro, doenças neurodegenerativas e infecções.
Anomalias na expressão ou função do ATG7 podem levar a um mau funcionamento do processo de autofagia, contribuindo para o desenvolvimento destas patologias.
Para aplicar esta descoberta a pacientes humanos, os investigadores testaram hidroxicloroquina, um medicamento que possui ação imunomoduladora que diminui a inflamação no organismo.
A combinação deste medicamento com lapatinib, outro fármaco contra o cancro da mama, reduziu o número e o tamanho das metástases cerebrais nos ratinhos.
“Ficámos bastante surpreendidos ao ver um impacto tão grande com uma única alteração nestas células cancerígenas, que são difíceis de controlar”, explica Jennifer Carew, investigadora da Universidade do Arizona e autora principal do estudo.
A hidroxicloroquina já tinha sido testada anteriormente com fármacos anticancerígenos, mas é a primeira vez que a sua ação conjugada com lapatinib para o tratamento do cancro da mama é estudada.
“Uma vez que ambos os medicamentos estão aprovados pela FDA, esta combinação pode passar rapidamente para ensaios clínicos em doentes com metástases cerebrais de cancro da mama”, diz Steffan Nawrocki, também investigador da Universidade do Arizona e primeiro autor do estudo.
O novo estudo permitiu assim descobrir uma potencial forma de reduzir a disseminação do cancro da mama para o cérebro — uma descoberta que se apresenta como uma luz ao fundo do túnel para os doentes com metástases cerebrais de cancro da mama.