Sharbat Gula, a menina afegã dos olhos verdes que em 1985 fez uma das capas mais famosas da National Geographic, é agora o rosto mais conhecido de uma rede ilegal que permite aos refugiados afegãos forjarem a cidadania paquistanesa.
As autoridades paquistanesas acusam Sharbat Gula de falsificação de documentos, nomeadamente, por ter sido apanhada com um bilhete de identidade nacional – um documento fundamental para trabalhar, comprar propriedades ou abrir uma conta no banco – que não está disponível para estrangeiros no Paquistão.
Gula terá conseguido o seu cartão de identidade na cidade de Peshawar, localizada no noroeste do país, em abril de 2014, usando o falso nome de Sharbat Bibi e afirmando ter nascido na cidade, onde vivem 1,6 milhões dos refugiados afegãos registados.
Faik Ali Chachar, porta-voz da Autoridade Nacional de Registos, citado pela AFP, afirma que o cartão de Gula foi identificado como falso e bloqueado em agosto. Quatro funcionários foram suspensos por suspeita de envolvimento no caso, mas a investigação ainda decorre.
“O nosso departamento detetou o caso de Sharbat Bibi em agosto de 2014 e no mesmo mês enviou-o à Agência Federal de Investigação, a fim de que se prosseguisse com as investigações. Aguardamos as conclusões do inquérito”, afirmou o porta-voz.
Gula terá conseguido o seu cartão falso em conjunto com um grupo de refugiados – as autoridades detetaram mais de 22 mil bilhetes de identidade emitidos ilegalmente na posse de afegãos.
Um repórter da AFP visitou a morada que constava como a residência de Gula nos seus documentos falsos. Os vizinhos confirmaram que vivia ali com o marido e trabalhava numa padaria local, mas que tinham ido embora há cerca de um mês.
Sharbat Gula é apenas uma em quase três milhões de refugiados afegãos que vivem no país e aos quais Islamabad tenta dificultar o acesso à documentação, normalmente obtida com documentos falsos e subornos.
Em 1985, o retrato de Sharbat Gula ainda menina, captado pelo fotógrafo Steve McCurry, tornou-se um símbolo da comunidade de refugiados afegã que fugiu para o Paquistão à procura de um futuro melhor, depois da invasão soviética. Em 2002, a jovem voltou a ser capa da publicação, já com 30 anos, casada e mãe de três crianças – uma outra teria morrido ainda bebé.
ZAP