O Enigma do Cratão. Cientistas têm uma nova teoria sobre a formação dos continentes

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Uma nova pesquisa sugere que a formação dos cratões teve um papel importante na estabilização dos continentes.

As crostas continentais antigas, conhecidas como cratões, estabilizaram os continentes da Terra durante milhares de milhões de anos. Uma equipa de cientistas da Penn State propôs um novo mecanismo que pode explicar a formação destes cratões há cerca de 3 mil milhões de anos, oferecendo uma visão sobre um mistério geológico de longa data.

De acordo com o estudo publicado na revista Nature, os continentes podem não ter emergido inicialmente dos oceanos como massas de terra estáveis. Em vez disso, a exposição de rochas frescas a elementos ambientais como o vento e a chuva, há cerca de 3 mil milhões de anos, desencadeou processos geológicos que acabaram por estabilizar a crosta. Este novo conhecimento pode ter implicações significativas na forma como os planetas potencialmente habitáveis, semelhantes à Terra, evoluem.

“Para criar um planeta como a Terra, é necessário criar uma crosta continental e estabilizar essa crosta”, disse Jesse Reimink, professor assistente de geociências na Penn State. O estudo sugere que os processos de estabilização e surgimento de continentes acima do nível do mar são separados.

Os cratões, que se estendem por mais de 150 quilómetros desde a superfície até ao manto superior, atuam como a quilha de um barco, mantendo os continentes a flutuar ao nível do mar ou perto dele ao longo do tempo geológico.

A meteorização das rochas pode ter concentrado elementos produtores de calor como o urânio, o tório e o potássio na crosta superficial, permitindo que a crosta mais profunda arrefecesse e endurecesse, formando uma camada espessa e dura que protegeu os continentes da deformação, explica o SciTech Daily.

Andrew Smye, professor associado de geociências na Penn State, explicou que a estabilização da crosta continental envolve a concentração de elementos produtores de calor perto da superfície. Estes elementos actuam como “pequenos motores térmicos” que libertam calor quando se decompõem, o que pode aumentar a temperatura da crosta. A crosta quente é instável e propensa a deformações.

À medida que os primeiros continentes foram sofrendo alterações climáticas, os sedimentos ricos em urânio, tório e potássio foram arrastados para os mares, criando depósitos sedimentares como os xistos. As colisões de placas tectónicas enterraram estas rochas nas profundezas da crosta, onde o calor radiogénico dos xistos derreteu a crosta inferior. Os derretimentos ascenderam à crosta superior, aprisionando os elementos produtores de calor em rochas como o granito e permitindo que a crosta inferior arrefecesse e endurecesse.

Pensa-se que os crátons se formaram há entre 3 e 2,5 mil milhões de anos, um período em que os elementos radioativos decaíam a um ritmo duas vezes mais rápido do que hoje, libertando mais calor. Esta altura foi crucial para os processos que levaram à estabilidade dos cratões, tornando a Terra primitiva particularmente adequada para a sua formação.

O estudo analisou as concentrações de urânio, tório e potássio em rochas do período Arqueano para modelar a formação dos cratões. O trabalho futuro envolverá a recolha de amostras de interiores de cratões antigos e possivelmente a perfuração de amostras de núcleos para testar o seu modelo.

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